A História da Filosofia Medieval
Denis Espanhol
Aluno do curso de Licenciatura em
Filosofia pela Puc-Campinas
1. Idade Média: Período das trevas ou
não?
O
homem desde sempre tenta explicar o motivo pelo qual as coisas ocorrem. Seja
através de mitos, como antigamente, ou pela experimentação moderna científica.
No núcleo da crença humana encontramos duas esferas à disposição de todos: a fé
e a razão. Na chamada “Idade das Trevas”, a Idade Média, encontramos a razão a
serviço da fé. Até a chegada dos Racionalistas, que vão trazer esta “serva” de
volta a luz.
A Idade Média é vista com desprezo.
Uma era em que o povo tinha trinta anos como estimativa de vida. Os camponeses
comiam grama, pois lhes era proibido comer o que plantavam. Enquanto isso os
nobres e o clero mantinham o esbanjamento das necessidades básicas. Mas, nos
bastando ao âmbito intelectual, diríamos que este desprezo está no fato de que
era a Igreja quem continha a sabedoria e o estudo dos pensadores antigos. Ainda
assim nada produziram de novo, apenas utilizaram o pensamento filosófico ao seu
favor, no caso, ao favor da teologia. Isso, para alguns dos futuros
intelectuais, será considerado uma grande tolice.
Os maiores críticos da “Idade das
Trevas” fazem parte de uma corrente de pensadores hoje conhecida como
racionalistas. Surgidos na época do Renascimento, fizeram com que a razão fosse
considerada suprema e a fé e sua teologia um erro intelectual. O
antropocentrismo nasce neste berço em que o homem se basta e sua razão é a luz
da verdade. A relação com o transcendente, portanto, é desprezada e cortada.
Acredito que essa realmente pode ser
considerada a “Idade das Trevas”. Apesar de instrumentos importantes terem sido
criados nesta época, foi nela que a Igreja mostrou-se uma grande hipócrita na
sua missão de evangelizar. Os seus pensadores foram importantes para a história
e principalmente para a fé. Porém ainda assim impediram que o “conhecimento
pagão” se ampliasse para além da teologia.
Podemos entender teologia como a fé
que se utiliza da razão para poder ser compreensível. Ora, isso é mais do que
necessário para entender o papel da filosofia como serva da teologia. Até hoje,
no âmbito intelectual da Igreja, a razão (filosofia) serve a fé (teologia) para
levar ao conhecimento da verdade última e revelada (Deus). O problema da Idade
Média foi à repressão e crueldade que em seu contexto histórico é
aterrorizante.
2. A relação entre fé e razão
O
legado grego formou o homem do ocidente. Os fatores não partem necessariamente
do helenismo, mas sim do Cristianismo que trouxe em seu âmago o “pensamento
pagão” para os dias atuais. Seja em sua doutrina ou nos livros antigos
guardados e traduzidos. Os gregos, através da Igreja, são responsáveis pela
formação intelectual do homem ocidental. Portanto, em nossa história
encontramos um grande relacionamento do pensamento e da crença, oriundos dos
gregos e cristãos.
Quando o Messias que os judeus tanto
esperavam foi crucificado pelos mesmos houve um grande acontecimento na
história. Nascia por meio de seu sacrifício um grupo pequeno, mas dedicado a levar
o Evangelho aos confins do mundo: os cristãos, assim chamados posteriormente. Diferentes
dos judeus viajaram para levar a palavra revelada. É por meio disto que a fé no
crucificado encontrará o logos grego.
Paulo
de Tarso foi evangelizar em Atenas, a cidade helênica, e após algumas falhas
conseguiu frutos. Este resultado dará a luz aos apologistas, os primeiros a defender
a fé utilizando a razão. Aqui encontramos pela primeira vez o diálogo entre
essas duas vertentes do conhecimento humano. Os textos defensivos da fé, por
meio da razão dos apologistas, darão ao Cristianismo uma nova luz e um sentido
diante das perseguições que o Império Romano insistia em realizar.
O
Imperador Constantino dá liberdade de culto ao Cristianismo. Isto fez com que o
poder temporal e o poder espiritual cristianizado fossem um. E a partir daí, os
cristãos tinham mais tempo para pensar o que é certo ou errado para sua fé,
dogmatizando-a. Os escritos dos pensadores gregos sobreviveram tempo suficiente
para os intelectuais cristãos os guardarem. Plotino acabou dando aulas para
alguns destes religiosos. E percebemos seu pensamento neo-platonista presente
no credo niceno-constantinopolitano. Cada vez mais o pensamento grego se interliga
com a fé cristã. Outro exemplo importante é o de Agostinho de Hipona que
“transforma” o bem ideal de Platão na ideia do Deus cristão.
No
Medievalismo o diálogo encontra um desequilíbrio. É a fé que agora vale mais
que a razão. A filosofia, condenada por alguns como “pensamento pagão” é então
utilizada apenas para provar o pensamento teológico. Encontramos um marco no
pensamento de Tomás de Aquino. Utilizando do pensamento empírico de
Aristóteles, cria racionalmente as cinco vias que buscam provam a existência de
Deus. Aqui há o domínio da fé.
Por
fim, o Renascimento inverterá os lados, e a razão ganhará espaço sobre a fé.
Mas a história prova que estes dois caminhos funcionam melhor em diálogo mútuo.
Os extremos são perigosos (fideísmo e reacionalismo). Portanto, é necessário
buscar sempre o equilíbrio. Pois, como diz Aristóteles a virtude está no meio.