sábado, 31 de dezembro de 2011

Conhecendo a História da Igreja

Solenidade de Maria Mãe de Deus
Por Marcos Cassiano Dutra

O calendário litúrgico da Igreja faz celebrar-se solenemente nesse fim de semana a Solenidade de Maria Mãe de Deus. O ano civil se inicia sob o auspício daquela que é a santa serva do Senhor e intercessora de toda a cristandade, o povo de Deus – Nossa Senhora. Para tal ocasião solene, utiliza-se a cor branca nos paramentos, que ressalta estética e visualmente o caráter festivo desta celebração cristã no culto divino dominical.
           
O título honroso dado a Virgem Maria como “Mater Domine”, isto é, Mãe do Senhor, é uma das verdades de fé católica que chamamos de dogma, visto que sua dogmática aponta para algo maior que é o mistério de Deus encarnado na história da humanidade em Jesus Cristo. Da mesma forma como Maria é filha de seu Filho, é Mãe de Deus também porque Cristo é o próprio Senhor, é Filho de Deus e Deus igual ao Pai, sem confusão, divisão ou separação de sua insondável divindade. Por isso Maria é invocada e venerada na piedade cristã e reconhecida pela teologia cristã como Mãe de Deus, dado que em Jesus há uma só pessoa: a pessoa divina. A natureza humana é “assumida” pela natureza divina, por quanto que toda a obra de Jesus é a obra do próprio Deus conosco, Trindade Santa.
           
A maternidade divina de Maria fora defendida e proclamada ao mundo cristão no ano de 431, durante o Concílio de Éfeso, o terceiro ecumênico na história da Igreja. Nessa época havia uma heresia sendo difundida, que afirmava Maria como não sendo a Mãe de Deus. Esse erro teológico grave fora propagado por um Patriarca de Constantinopla chamado Nestório, daí o nome nestorianismo para sua heresia, a qual separava e confundia a natureza de Cristo em Jesus-Deus e Jesus - homem, como se fossem duas pessoas distintas e totalmente opostas, ao contrário do que Ele realmente é: uma só pessoa, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que viveu em tudo a condição humana, menos o pecado.
           
O Papa da época São Celestino I, em Sínodo realizado um ano antes do Concílio, em 430, condenou a heresia e convidou Nestório a retratar-se filialmente e voltar a comunhão com a Igreja de Cristo, porém ele a rejeitou. Então se convocou o Concílio de Éfeso, que foi aberto no domingo de Pentecostes de 431. Esse sagrado concílio reunido definiu: Maria é a Mãe de Deus.
           
A defesa dessa verdade de fé se de a São Cirilo de Alexandria, que representou o Papa na reunião com os Bispos. Ao virtuoso Papa São Celestino, se atribui a segunda parte da oração da Ave-Maria, ou seja: “Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte!”
           
Quando em todos os anos celebramos a Solenidade de Maria Mãe de Deus, também fazemos recordação de um capítulo da magnífica História de nossa Igreja Católica Apostólica Romana. Rezamos com todos os cristãos, espalhados pelo mundo, ao alvorecer de mais um novo ano: “Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.”
              

Aprendendo com a literatura brasileira

Boa tarde
Por Clarice Lispector

[...] Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.

Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, por isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
           
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.

Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia [...]

domingo, 25 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal III

Contemplando o Natal do Senhor
Por Marcos Cassiano Dutra


Deus desce do céu para encarnar-se na história humana, revelando-se na ternura de uma criança. Se faz semente de salvação no ventre imaculado de uma mulher pobre, simples, mas santa. Como entender o mistério do Deus que se faz nossa gente para tornar-se mais próximo do ser humano? Ele é capaz de renunciar sua majestade divina para se tornar o grande Bom Samaritano da humanidade decaída e doente.
           
Novamente acontece o Natal de Cristo. Vem a nós o Emanuel predito pelo Arcanjo, o Messias profetizado pelos Profetas e esperado pelos Patriarcas. Vem, não como líder político de algum sistema econômico e ideológico ou como representante sindical, nem como ditador ou um “pop star” da fé. Vem até nós como Filho de Deus, e esse é o seu maior presente – sua presença conosco.
           
Contemplando o presépio de nosso Senhor, rezemos, na liturgia do altar e da vida, para que não sejamos engolidos pelo mundo, mas trabalhemos incansavelmente pela sua transformação, vendo e compreendendo suas variadas problemáticas hodiernas. Iluminados pela luz do Verbo Divino humanizado percorramos a realidade temporal e seus distintos ambientes, dando testemunho da fé Naquele que é Deus Conosco, Jesus de Nazaré. Amém.

Pensamento cristão

A consciência cristã
Por Marcos Cassiano Dutra


Um dos muitos efeitos da fé na vida do fiel batizado é a consciência cristã acerca do próprio dom da fé em Cristo, da vida humana e da realidade eclesial e social. Conscientização significa tomar conhecimento sobre algo, logo a fé possibilita a pessoa cristã tomar conhecimento das múltiplas situações religiosas e cotidianas na qual ela está inserida como protagonista de uma história singular que aos poucos vai se consolidando e tornando-se concreta, real.
           
 Nesse sentido, é de suma importância a prática de uma fé madura e engajada na Igreja e no mundo. O cristão é pessoa do mundo no coração da Igreja e da Igreja no coração do mundo. Estas duas realidades fideísticas se complementam e formam, por assim dizer, o modo do agir cristão e de sua consciência.
           
Porque falar de consciência cristã? Por que se faz urgente uma mudança de mentalidade religiosa, tendo em vista a prática de um catolicismo mais profético, evangélico e missionário. Que viva a comunhão com Cristo e com o Magistério e renuncie a certos modismos de fenômenos religiosos secularizados, os quais cerceiam e demagogiam a catolicidade da Igreja em nome de tendências ideológicas que por índole não são e nunca serão católicas.
           
A consciência cristã deve se fazer presente na maneira com a qual celebramos e recebemos os sacramentos, no compromisso diário com Cristo diante dos sinais dos tempos, na compreensão e contemplação das verdades de fé, no testemunho de uma vida coerente com o Evangelho e a doutrina da Igreja no desempenho de cada vocação específica, na atenção filial a voz do Sucessor de Pedro e no respeito as diferentes culturas, religiões e aos direitos humanos.
           
Queira Deus que nós cristãos católicos não percamos nossa identidade católica sob qualquer pretexto efêmero, mas enfrentemos as urgências de nosso tempo, dando uma resposta prudente, assertiva, porém corajosa e profética aos questionamentos e problemas do homem pós-moderno. Olhemos para o exemplo de tantos missionários e missionárias, bispos, padres, religiosos e religiosas e cristãos leigos que doam suas vidas em muitas realidades desafiantes do globo terrestre, sem abrir mão de serem verdadeiramente católicos conscientes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Teologia e contemporaneidade

Humanidade e divindade
Por Marcos Cassiano Dutra

Os nomes que dão a ele são distintos, culturais e dogmáticos, carregam consigo todo o valor e validade de uma teologia própria, de modo que cada povo e suas expressões religiosas o sentem, vivem, interpreta e celebra com um caráter todo especial e específico. Quem é ele? É o mistério, o sagrado, o divino escondido e revelado de maneira diversa em toda a humanidade como semente da fé, e na plenitude dos tempos revelado como Verbo Divino humanizado em Jesus Cristo, o homem virtuoso de Nazaré. 
Se faz presente na religião como força mística que anima o ser humano na prática do bem. Está no mundo como algo sacralizado que envolve o cosmos, os seres vivos, o tempo e a história. Está na dúvida do ateu como questionamento misterioso, nas pesquisas científicas como matéria prima e causa eficiente de todas as coisas biológicas. Está na política como ideal cívico de uma sociedade fraterna e justa, na escola como conhecimento e aprendizado. Na espiritualidade como metafísica da contemplação e na música como melodia da criatividade artística que explodiu a dinamite da vida no caos do universo quando quis criar céus e terra.
Humanidade e divindade se entrecruzam nesta relação transcendente entre emissor e receptor do conteúdo divino. O homem que crê, pergunta e confia e o imaterial que se autorevela, dialoga simbolicamente e se determina como “Aquele que É”. Anular o aspecto divinal da existência do homem é ignorar uma parte essencial da corporalidade humana, que o coloca diante da crença como elemento fundante da busca primeira de todos os seres humanos: a escatologia, ou seja, o depois da finitude material, a morte, a eternidade.
Sua presença transcendente, misteriosa, divinal, continua a fomentar no homem o desejo de conhecê-lo, de aproximar-se mais desse algo maior por meio da fé em seus momentos contemplativos e intelectivos, dado que o divino se revela, ou seja, vem ao encontro do homem, pois o homem é um ser voltado para o divino, portanto é um ser transcendental. Então se pode dizer que a revelação é um conhecimento? Sim, porque possibilita ao homem conhecer a divindade e fazer sua hermenêutica sobre ela.
Mas como o conhecimento adquirido por intermédio da revelação pode se relacionar com outros conhecimentos humanos? O conhecimento revelado relaciona-se com os outros conhecimentos humanos no sentido de que vários conhecimentos humanos colaboram com o conhecimento revelado, fornecendo alguns fundamentos teóricos que auxiliam a compreensão daquilo que se conheceu por meio do que foi revelado. Tudo isso acontece devido ao dado imprescindível da fé.
A fé para Santo Agostinho é essencial para compreender porque é, segundo ele, o “procedimento surpreendente para a verdade”. Pela fé se aceita primeiro sem provas o que se trata precisamente de provar. Ela não é irracional, visto que está fundada na credibilidade de alguns testemunhos e à aquilo que será submetido à discussão racional.Logo, a razão também é imprescindível.
A relação que se estabelece entre fé e razão está expressa na própria máxima agostiniana - “Crer para compreender. Compreender para crer”. Fé e razão são as duas forças que nos levam a conhecer, por isso caminham juntas, colaborando-se mutuamente, pois a busca da sabedoria e a vivência do ideal da fé cristã são a mesma coisa. As conseqüências desta relação para o ser humano baseia-se, primeiramente na dificuldade e multiplicidade dos problemas a resolver para dar a vida uma orientação certa e sábia (crer para compreender) e no fato de que ninguém crê “se antes não tiver considerado que deve crer” (compreender para crer).    
Agostinho nos ajuda a entender os fatores transcendentes que instigam o homem no contato com o divino. Humanidade e divindade são em si um composto único, visto que o humano é fruto da árvore atemporal daquilo que transcende o que é temporal. Falar do mistério e buscá-lo, celebrá-lo, interpretá-lo, nada mais é que mergulhar dentro do próprio existir para encontrar os sinais desse sagrado que preenche de esperança e dá sentido a vida humana.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mensagem para o Ano novo

Fim de ano
Refletindo o ano que vai, saudando o ano que vem
Por Marcos Cassiano Dutra

Há uma frase do filósofo grego Sócrates que é muito pertinente para essa época de fim de ano, ela diz: “conheça a ti mesmo”. Sócrates dizia saber que nada sabia, de fato ele deveria se autoconhecer bem, afinal somente quem realmente está a par de seu próprio íntimo é capaz de expressar o que sabe e o que não sabe, sem demagogias ou falsas modéstias advindas de certo “orgulho social” pela imagem ostentada aos demais. Conhecer, verbo que indica uma ação importante para cada pessoa humana. Um provérbio popular não cansa de afirmar que ninguém ama aquilo que não conhece, logo, para o ser humano se amar e estar aberto a transmitir esse amor aos outros, ele deve se conhecer. Nesta profunda relação entre um dito do povo e uma máxima socrática está cada um no tempo, fazendo história. Conforme se vai vivendo a vida, ao mesmo tempo se vai tomando conhecimento de si, do próximo e da realidade. “Conheça a ti mesmo”, soa mais como um conselho de alguém vivido, entendido em certas coisas das quais ainda vamos conhecer.
           
Fim de ano é assim: oportunidade para conhecer e reconhecer aquilo que foi bom e o que poderia ter sido melhor, o que se fez e o que se deixou de fazer por motivos vários. Gosto da atmosfera de retrospectiva que o findar dos anos causam nas pessoas, inclusive em mim, porque é uma expectativa que se cria pelo novo ano a chegar e certa gratidão pelo ano que vai embora e começa a fazer parte do livro da história, do passado, recente, mas passado.
           
Admiro quem faz promessa, pula ondas, enfim, quem se propõe de maneiras distintas e até inusitadas a serem melhores no ano novo, esses são aqueles que se projetam, aliás, o ser humano é um ser de projetos, são os projetos, ou seja, os ideais que fomentam nele o desejo de viver intensamente seus dias neste espaço de tempo chamado mundo, universo, no qual caminha para o desconhecido.
           
Infeliz quem termina o ano guardando mágoas e raiva. Porque colecionar desatinos? Enche a vida do melhor que há! Por isso exalto Francisco de Assis, homem de seu tempo que não cansava de chamar a todos de irmãos, até a morte. E de dizer em oração piedosa: Deus, fazei-me um instrumento de paz!  Tal invocação orante do santo católico o fazia ver esperança onde havia desespero, cura na doença, luz nas trevas, perdão nas ofensas, vida na morte... É Francisco, ainda estamos longe desse caráter humanístico seu, porém você ainda nos questiona, e isso é bom, gera em nós comportamentos diferentes para o bem comum, independentemente se todos crêem ou não no Deus cristão
           
Fim de ano é assim: saudade do que se foi, esperança pelo que vem. Creio que a palavra esperança guarda em sua essência algo místico a ser desvendado, do contrário ela não estaria tão presente em nosso cotidiano. Basta lembrarmos tanta coisa ruim acontecidas no ano que termina para interiormente acreditarmos que virão dias melhores, como canta o grupo musical Jota Quest – “Dias melhores, dias melhores pra sempre...” 
           
Que as intuições das previsões não criem na gente uma ilusória crença em destino traçado, mas nos motivem a construirmos juntos um mundo melhor. O homem é destinado ao bem, aí está o segredo de uma nova humanidade, redescobrir que o ser humano é mais, muito mais que as maldades de alguns, é a bondade e a coragem de outros tantos como Madre Teresa de Calcutá, Maria Montessori, Irmã Dulce, Mahatma Gandhi, Martin Luter King, Nelson Mandela, Chico Xavier, João Paulo II, Dom Hélder Câmara...
           
Para o próximo ano só faço um voto, o de que apareçam em nosso meio mais pessoas com as mesmas virtudes desses seres humanos citados acima. O ano novo precisa, mais que crescimento econômico, precisa de homens e mulher de boa vontade.
              

Mensagem de Natal II

Natal com Jesus
Por Marcos Cassiano Dutra

Mais uma vez será Natal. Os sinos das igrejas repicam ao tom melódico da harmonia celeste que entoa o hino de louvor – “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Sim, glória ao Deus Trindade encarnado na história por meio do Verbo Divino, feito nossa carne no ventre incorrupto da Santíssima Virgem de Nazaré, Maria. Paz a todos os amigos do bem, os promotores da justiça, da fraternidade, dos direitos humanos, ou seja, do Reino de Deus concretizado como prelúdio salvífico na realidade do mundo terrestre.
           
Vinde, pois todos os seres vivos, especialmente os humanos, adorarem Jesus Cristo no mistério singelo do presépio. De Belém até hoje a mensagem é a mesma em sua eloquência, ao suscitar, em quem celebra de maneira cristã o Natal, os mais virtuosos sentimentos de amor a Deus e aos irmãos.
           
Em um momento histórico onde inúmeras vitrines tentam ofuscar a real riqueza natalina, a Igreja novamente nos propõe em sua sagrada liturgia a contemplação da Encarnação do Filho de Deus, como resposta mistagógica aos anseios do homem perdido e iludido pelos modismos da pós-modernidade. Redescobrir Cristo como centro da vida humana e cristã é o aspecto peculiar do Natal a todos quantos acreditam na salvação integral do gênero humano, por meio do Messias enviado e ressuscitado. Patriarcas e Profetas da Antiga Aliança, alegram-se na porfia celeste por tal ocasião importante da revelação do Deus de Abraão, Isacc e Jacó. Quis Ele revelar-se plenamente no rosto humano-divino do homem de Nazaré, Jesus, ao fazer-se nossa gente.
           
Como os pastores e magos do oriente, vamos ao seu encontro na Eucaristia solene. Aquele que nasce em Belém, na casa do pão, se faz também pão, alimento de fé, caridade e esperança, porque é a máxima expressão da crença, do amor divino e da redenção. O Natal ganha maior significado se o celebramos e vivemos com o Jesus do presépio. Desta forma é impossível ficar passivo (indiferente) diante daqueles que não tem motivo material para festejar em ceia. Os irmãos mais necessitados são o retrato atualizado do presépio contemporâneo onde se encontra novamente o Jesus menino a esperar de nós, não mais ouro, incenso e mirra, mas amor, partilha e união. Frente a um modelo sociocultural individualista, competitivo e consumista, a beleza do presépio está em nos fazer próximos dos demais, onde Cristo está presente.
           
Feliz Natal, a você que entende o significado do nascimento de Jesus! Feliz Natal, a você que vai partilhar sua ceia com seus vizinhos! Feliz Natal, a você que irá rezar, não só pelos cristãos, mas por todos os povos e religiões! Feliz Natal, a você que compreendeu que o maior presente é ter Cristo em sua família! Enfim, feliz e santo Natal a todos, cristãos e não-cristãos, mas que amam como Jesus amou.  

Mensagem de Natal I

Natal é assim...
Por Prof. André Luiz Oliveira

Natal é assim, acontece lá, onde a gente menos espera, numa simplicidade tamanha; onde o muito se fez pouco, para tocar o coração da humanidade. Deus fez-se menino, para que no coração de cada ser habitasse a pureza, a inocência infantil que nos impede de aproximar das maldades, violências e futilidades.
           
O Natal acontece onde eu permito que ele aconteça. Em minha vida só será Natal, quando eu permitir que Deus venha fazer morada em meu coração, na manjedoura de minha alma. Natal, não é presente, é presença; não é troca, é doação; não é alegria, é felicidade; não é momento, é constância.
           
O Natal da minha vida acontece quando, em família, permito que o menino Deus venha fazer morada em meu lar. O que adiantaria um dia de festa, sorrisos, alegrias e um ano inteiro de discórdia, mágoa e tristeza? Natal só acontece onde eu permito, onde eu me esvazio e permito que Deus me preencha de amor.
           
Para este tempo abençoado, devemos preparar não apenas nossas casas, com enfeites e ornamentos; devemos preparar a casa maior: nossa alma. É ela quem deve estar ornada dos mais belos enfeites: caridade, fraternidade, humildade; tudo para que o menino Deus sinta-se em casa.
           
Natal é assim, acontece lá, onde a gente menos espera, talvez em um olhar, na melodia de Noite Feliz ou no amor ao próximo. Natal é assim, acontece lá, onde eu permito que ele aconteça. 

Reflexão para o IV Domingo do Advento Ano-B

Com Maria, aguardamos o Senhor que vem!
Por Marcos Cassiano Dutra

Percorremos todo um caminho durante as quatro semanas que antecedem a festa do Natal de Jesus. Assim chegamos ao último domingo do tempo do advento, na alegre expectativa pelo Senhor que vem a nós pelo mistério de seu nascimento, de sua encarnação na história humana. São João Batista muito nos motivou ao longo dos domingos, ele que representa todo o povo e profetas do Antigo Testamento, faz a ligação entre a primeira e a segunda Aliança entre Deus e seu povo. De sua voz forte escutamos: “Preparai os caminhos do Senhor!”
           
Quatro velas acesas na coroa do advento simbolizam nossa caminhada orante e a luz maior que é o próprio Cristo. “Salve Luz Eterna, és tu Jesus! Teu clarão é fé que nos conduz!”
           
A liturgia deste IV domingo do advento nos apresenta a figura daquela que acreditou no projeto salvífico de Deus e colocou-se generosamente a serviço de tal plano divino ao fazer serva, escrava do Senhor como mãe do Filho de Deus. Estamos falando de Maria de Nazaré, mulher pobre da Judéia, mulher judia, mulher de fé, mulher santa, mulher virtuosa do Novo Testamento. A cena evangélica da Anunciação ainda nos causa certa atitude de contemplação, porque em Maria está toda a humanidade grávida do Messias, gestando o Salvador, aguardando sua chegada inefável em nosso meio. Nossa Senhora de Nazaré, confiou de tal forma no Altíssimo que mesmo surpresa aceitou, disse sim. Bendito sim co-redentor que ecoa por toda a história da salvação. Diz São Bernardino de Sena – “Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha”. Santa Maria, que gerastes o Filho de Deus feito homem em seu ventre, rogai por nós, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

São Paulo, como um cancioneiro de Deus, faz sua louvação ao Senhor, encerrando sua carta aos Romanos dizendo: “A Ele, o único Deus, o sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém!” Louvor ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó que quer morar em nosso meio. Seu povo é o templo no qual ele quer habitar, recorda Natã a Davi no Segundo Livro de Samuel. Com Paulo e o rei Davi queremos louvar a Deus e edificar em nossas vidas o mais belo templo para que Ele venha fazer sua sagrada morada.

É sua divina vontade tornar-se Pai e nós seus filhos, por isso Ele enviar-nos-á seu Filho Redentor, elo filial que nos ligará para sempre à sua paternidade eterna. Vinde clarão divino simbolizado nas quatro velas do advento. Sua luz inefável ilumina a vida cristã e o mundo, consolida mais uma vez sua presença no meio de nós fazendo-se novamente Deus Conosco em nossa história. Maranathá, Vem Senhor Jesus!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Direitos humanos

A importância do saber
Por Udemia Carvalho – Advogada

O ano que se aproxima do fim e como de costume somos impulsionados por uma esperança em construir um futuro melhor e avaliarmos as experiências que tivemos os sonhos realizados, os que mais uma vez foram arquivados e, sobretudo, avaliarmos os conhecimentos adquiridos que serviram para modificar e melhorar nossas vidas.
           
Ao compreendermos os conceitos de justiça, lei, direito positivado, em prol da urbanidade, nos servimos dos ensinamentos da filosofia do direito. Como cidadãos críticos, não nos basta sabermos que a lei está para ser cumprida, toda lei possui uma intenção, um espírito que norteará, que regulará a sociedade a que se destina; é preciso compreendê-la e dela se utilizar.
           
Observamos que em tempos contemporâneos é imensa a necessidade que o conhecimento esteja globalizado, que o homem e a mulher respeitem seus pares, sob pena de incorrermos no erro de segregações mascaradas de autonomia e soberania. Os direitos universais de engrenagem na grande máquina globalizada das relações humanas.
           
Um poder nato que diferente do poder imposto, numa celeuma que gera vida, prosperidade, que favorece a fraternidade, a igualdade de condições, a isonomia. Enxergar-se como cidadão dotado de competência intelectual capaz de reivindicar direitos e estabelecer deveres em todos os campos de atuação, quer do serviço braçal ao intelectual.
           
Toda relação humana deve possuir lastro de organização, o que significa dizer que, embora surjam situações-problemas até então desconhecidas e, portanto, não positivadas, tem-se sempre o abraço da lei e doutrina com escopo de se solucionar eventual problema de forma equânime.
           
À luz do princípio da igualdade assegura-nos o artigo 5º da Constituição Federal/88 que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição”.
           
Portanto, quer sejamos ricos ou pobres, empregados ou empregadores, contratantes ou contratados, somos dignos de direitos e obrigações por toda a vida, desmistificando a superioridade acreditada por muitos.

(Texto extraído da Revista O Milite, página15 – Dezembro de 2011).       

Fé e política

Qual natal comemoramos?
Por Guilherme Demarchi - Linguista

A celebração do Natal pode nos trazer muitas reflexões acerca do modo como o vivenciamos e, mais do que isso, do modo como a sociedade capitalista trata as coisas espirituais e culturais, transformando-as em meras mercadorias postas à venda, com preço definido e prazo de validade. De acordo com os valores deste sistema econômico, no Natal passa a ter mais importância a venda de presentes do que a reunião com a família e os amigos. A estrela da festa não é Jesus, mas qualquer personagem que seja símbolo de consumismo e que provoque nas crianças e sede implacável por presentes caros.
           
Longe de uma visão pessimista, faz-se necessária uma reflexão sobre o nascimento de Jesus. Em primeiro lugar, sobre o sentido deste nascimento: o menino nasceu para a salvação de todos os povos, de todas as pessoas. A conseqüência sob uma visão teológica é que ninguém está fora dos planos de Deus e, sob o aspecto político, torna-se dever dos cristãos a busca por uma sociedade justa e igualitária, sem distinções que firam a dignidade de cada pessoa, preservando-se a diversidade humana.
           
A cena do nascimento é reveladora. Reis e pessoas do povo não têm distinção diante do menino, pois o que importa não são as roupas e posses, mas o que se traz em seu coração, a humanidade presente em cada um que está sendo oferta como presente. O ouro trazido pelos magos não vale como ouro, mas como figura simbólica do rei-menino que escolhe nascer numa manjedoura rodeada de animais.
           
Instaura uma cosmovisão em que não há distinção entre céu e terra e, apesar de toda a diversidade humana presente, esta não é motivo de desigualdade. Se por um lado é mostrado que a importância deva ser dada à adoração profunda e simples de Deus por toda a criação, pelo outro se afirma que as diferenças e desigualdades sociais jamais devem ser justificadas pela religião cristã.
           
Assim, não há problema em se comemorar o Natal com enfeites, luzes e presentes. Deve ser, na medida do possível e desejável, garantido o conforto dos participantes da festa com o apoio de um ambiente que ajude a promover alguma reflexão sobre a festa. Mas não se pode esquecer-se de voltar o coração ao menino, deixando-o aberto à mais profunda adoração, que leva à  transformação e que nos impulsiona a exteriorizar o sentido do Natal, promovendo a justiça social, combatendo as diferenças, as injustiças, os preconceitos, de modo que o mundo todo se torne espelho daquela manjedoura.    

(Texto extraído da Revista O Milite, página37 – Dezembro de 2011).

Rezando o Advento

Poesia do advento
Por Marcos Cassiano Dutra

Vinde clarão divino presente na criação,
Sua luz inefável iluminou de vida os seres vivos,
Consolidou a obra plasmada pelo Criador
E irradiou esperança por todos os quadrantes do universo.
-
Vinda clarão divino presente na ação dos Patriarcas.
Sua luz inefável iluminou a existência de nossos pais na fé,
Consolidou a Aliança entre Deus e seu povo
E santificou de força todos os descendentes de Abraão.
-
Vinda clarão divino presente nas palavras dos Profetas.
Sua luz inefável iluminou a profecia desde o início,
Consolidou os apelos proféticos e converteu os pecadores,
Promovendo tempo da graça, penitência e oração.
-
Vinde clarão divino presente na voz daquele que clama no deserto.
Sua luz inefável iluminou a missão de seu precursor,
Consolidou o projeto salvífico do Pai e se fez batizar no Jordão.
Honrou o profetismo de João Batista e inaugurou o apostolado jesuânico.
-
Vinde clarão divino simbolizado nas quatro velas do advento.
Sua luz inefável ilumina a vida cristã e o mundo,
Consolida mais uma vez sua presença no meio de nós
Fazendo-se novamente Deus Conosco em nossa história.

Amém.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Amar como Jesus amou



Amor humano-cristão
Por Marcos Cassiano Dutra


O grande desafio de viver e saber ser pessoa humana está na capacidade de relacionar-se moral e dignamente com os demais na vida social. Quem não é capaz de reconhecer o outro como irmão, também não é capaz de reconhecer-se como um ser humano. 

O autoconhecimento perpassa profundamente o contato humano-afetivo eu-outro. Como é lamentável ver entre os cristãos pessoas insensíveis humanamente, marcadas pelo paradigma do interesse material e não pelo amor ao próximo, virtude que Cristo exercitou e pediu para que seus discípulos também vivessem, porque sabia da importância desse sentimento humano para uma vida cristã coerente com o Evangelho e integrada com o corpo social. Diz a máxima latina: “Christianus alter Christus” (O cristão é outro Cristo). 

A dimensão do amor cristão é marcadamente humano, visto que Cristo, em sua humanidade, não quis eximir-se de amar e ser amado, por isso fez de sua vida e missão salvífica uma ação amorosa de Deus na história do homem. Amar como Jesus amou é, sem sombra de dúvidas, ser pessoa humana em sua mais sublime essência transcendente, que se reflete de maneira sadia na transparência do trato cordial com o próximo.

Vivendo e entendendo o Tempo do Advento

Advento
Por Prof. André Luiz – Passos/MG.  
Do latim Adventus: “chegada”, do verbo Advenire: “chegar a”. Você pode estar se perguntando: O que virá? O que vai chegar? O que esperar? Um tempo marcado pela esperança, a vinda do menino Deus, uma preparação para o santo Natal. Além do caráter litúrgico, vivenciado pela Igreja Católica, o advento é um tempo que nos ensina a ter esperança; revela que o homem é um ser confiante, que acredita que dias melhores virão, onde a humanidade será uma só família a cantar um único cântico. 

O advento nos prepara, durante quatro semanas, para a memória da vinda do Messias. Natal é mais que presentes, enfeites, luzes ou cânticos; o Natal marca o nascimento de Jesus, não necessariamente Jesus nasceu em um 25 de Dezembro, a Igreja definiu este dia (no calendário gregoriano) pois no hemisfério norte acontece o chamado solstício de inverno, um fenômeno que marca o início de uma nova estação, fazendo com que o dia dure mais. Com isso a Igreja em sua sabedoria, adotou este dia fazendo um comparativo de Cristo como o Sol resplandecente que ilumina a humanidade; Aquele que ilumina as trevas da ignorância com as luzes da sabedoria suprema. 

O advento é um convite a revisão de vida; é tempo de pararmos e refletir sobre o ano que tivemos e sobre o novo ano que queremos ter. É pesar na balança da consciência, os gestos bons e maus que praticamos; na confiança de que o lado da bondade penderá anunciando: “Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis”.
                                                               

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Tempo do Advento

Celebrando o Advento
Por Marcos Cassiano Dutra

Com o início do Advento a Igreja começa um novo ano litúrgico na alegre expectativa D’aquele que vem, o Emanuel. São ao todo quatro semanas que antecedem a Solenidade do Nascimento de Cristo, as quais introduzem os fiéis na espiritualidade litúrgica do Natal. A cada domingo do Advento uma vela é acesa na coroa e a luz vai tornado-se mais forte, simbolizando o clarão que é Jesus Menino.
            
Os personagens bíblicos deste tempo favorável colaboram na mensagem de esperança, quando exortam seus ouvintes a vigilância, isto é, a perseverança na fé como virtude escatológica de toda a História da Salvação. Isaías, João Batista e a Virgem Maria de Nazaré são, por excelência, os interlocutores do mistério da Encarnação. Seus gestos, palavras e ações configuram três atitudes importantes para o cristão: confiança, profetismo e generosidade diante do projeto de Deus que envia seu Filho, o nosso Salvador.
            
Celebrar liturgicamente o Advento é contemplar a ação salvadora de Deus na história de seu povo. Também hoje, tempos depois do grande acontecimento de Belém, o Pai continua atuando de forma inefável na realidade, manifestando sinais de sua presença que salva por meio do Filho que vem na plenitude dos tempos. Cabe, portanto, aos que ouvem a Palavra Sagrada, interpretar estes acenos e permanecerem fiéis na caridade, a qual permanece, santifica e transforma o meio em que se vive, tornando-o mais digno, ou seja, evangélico. Desta forma se concretiza o apelo profético de João Batista - "Preparai o caminho do Senhor!"
           
 Em suma, que o Tempo do Advento seja de fato um período de preparação, exame de consciência e atitude solidária. Na liturgia do cotidiano, exercitemos a mesma teofânia da liturgia do Altar, que nos prepara para o Natal, porque fé e vida caminham juntas e unidas conduzem-nos a Deus Pai, por Jesus Cristo no Espírito Santo.
           
  Frutuoso Advento!

Importância do Sacramento da Ordem

Em defesa do sacerdócio
Por Marcos Cassiano Dutra

Somente quem vive de forma generosa a vocação sacerdotal é capaz de entender a importância da castidade presbiteral que é o celibato. De nada vale querer ser padre se não for para consumir toda a vida em prol do povo de Deus. O bom padre é aquele homem pastoral, zeloso em suas atividades ministeriais, amoroso e paternal no trato com os fiéis e exemplo virtuoso de santidade. Sacerdócio é sinônimo de santidade, quem ainda não compreendeu tal relação sacramental, não está apto ao Sacramento da Ordem.
            
O grande inimigo de um sacerdote é o seu próprio egoísmo. Um padre egoísta é a mais lamentável consequência de uma motivação vocacional imatura e não-cristã. Bem-aventurado o sacerdote humilde, esse sim age “in persona Christi”. É certo que alguns sacerdotes mancharam e mancham a imagem da Igreja com suas atitudes não-sacerdotais. Benditas as vidas presbiterais de boa índole, são como pérolas preciosas que adornam o altar de Cristo.
            
A grande amiga dos sacerdotes é a Bem-aventurada Virgem Maria. Cada padre ao menos deveria consagrar à Imaculada o seu ministério ordenado. Maria é também a mãe dos sacerdotes, sua maternal intercessão é auxílio nas horas de dificuldades que a vida presbiteral apresenta como momentos oportunos para exame de consciência.
            
Qual é a esperança sacerdotal? É a confiança na Divina Providência. Qual é a alegria sacerdotal? É fazer da própria vida um instrumento da graça de Deus, por meio da assistência dos sacramentos aos fiéis. Qual é o amor da vida sacerdotal? É o amor incondicional a Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor.
           
O sacerdócio ministerial católico é um dom e um tesouro na vida da Igreja. A oração dos fiéis cristãos pela santificação do clero vem a ser a forma mais sublime e humana de agradecer a Deus a vida e a vocação dos padres.
            
Que o Bom Pastor não se canse de continuar chamando e capacitando aqueles que ele escolheu para serem seus sacerdotes em sua amada esposa, a Igreja. Obrigado Senhor pelos padres de ontem, de hoje e de amanhã. Amém.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Senso crítico cristão IV

Caminhos de existência
O caminho neopentecostal
Por J. B. Libanio, SJ

O caminho dos neopentecostais assemelha-se ao dos carismáticos católicos só aparentemente. Há profunda distância.
           
 A experiência de converção marca-lhe o início, não no sentido da tradição católica de mudança radical de vida do pecado para a graça, de vida longe de Deus para comunhão com ele. Não, aqui significa adotar a conduta, o comportamento, as práticas religiosas da Igreja neopentecostal em contraste com outras práticas até então vividas. E, em muitos casos, perdem-se valores fundamentais como a eucaristia, a fé na pessoa histórica de Jesus, para professar algumas verdades isoladas e atitudes fanáticas, com observâncias ritualistas ou moralistas.
           
O forte desse caminho está no jogo mercantilista de pagar polpudo dízimo a fim de obter a bênção de Deus em bens materiais. A converção acontece por insistência proselitista de algum pastor ou membro da família. Aproveita-se a situação de fragilidade das pessoas, como doença, perda de algum familiar, para propor-lhes a mudança de Igreja e de religião.
           
Que fascínio esse caminho oferece, a ponto de tantos o seguirem? Num mundo marcado por anomia moral, os evangélicos insistem na moralidade externa de não beber e não freqüentar festas mundanas. Reerguem a muitos que se entregavam a vida devassa e a bebedeira. Prometem a bênção de Deus para tal vida nova. Esta se concretiza em bens materiais. Estabece-se verdadeira relação comercial entre o fiel e Deus. E a maneira de conquistar as graças de Deus passa pela converção e pela fidelidade no pagamento do dízimo.
           
Esse caminho produz em alguns a recuperação do senso de dignidade de uma vida inútil e agora acolhida pela Igreja na pessoa do pastor. Tiveram ocasião de falar e narrar a própria vida e isso os reabilita.

Fonte: Semanário Litúrgico-Catequético O Domingo, Paulus Editora, Novembro de 2011.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Santos e santas de Deus, nossos amigos do céu!

Gostar de santos
Por Pe. Zezinho

Digo com a maior clareza. Eu oro aos santos. Louvo-os por terem sido quem foram e serem quem são. Peço que orem comigo ao Pai em nome de Jesus e a Jesus porque eles estão com Jesus. Confio na oração deles mais do que na oração dos pregadores aqui da Terra. Já estão salvos e os daqui ainda não. Além disso, lá no céu se sabe mais do que aqui sobre o Céu e a Terra.

Sei que os eleitos de Deus, que chegaram ao Céu, não fazem milagres por conta própria. Sei que invocam o nome de Jesus tanto quanto os que operam milagres e curas neste mundo. Sei, porém, que os santos do céu podem mais do que os santos da Terra.
Gosto de ouvir falar de suas ideias, seus gestos e suas vidas. Para mim, são heróis da fé. Agradeço a Deus por eles terem existido, por sua fé serena e heroica e agradeço-lhes por terem vivido como viveram.. Falo com os santos. Tenho certeza de que eles me ouvem. Nunca pedi a nenhum que me aparecesse. Sei apenas que oram e se importam comigo, assim como Deus se importa comigo.

No céu, um dia, vou conhecer Francisco de Assis, o fundador dos franciscanos; Tomás de Aquino; Leão Dehon, o fundador de minha congregação; Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas; João Bosco, fundador dos salesianos; Tiago Alberione, que fundou o instituto das Irmãs Paulinas e dos Padres Paulinos, com quem trabalho; e centenas de outros santos que fizeram o reino de Deus acontecer aqui na Terra. Encontrarei também Gandhi, Luther King e outros cristãos e religiosos não católicos os quais admiro.

Creio nos santos de minha Igreja e nos santos de outras religiões. Nunca achei que Deus só está com os santos da minha fé. No que me baseio? Em Jesus, que disse ao ladrão arrependido que ele estaria no paraíso, e no Evangelho de Mateus, quando ensina que no céu estão todos os que praticaram o bem e ajudaram o próximo.

Sei de muita gente que está no céu, mas não ouso afirmar que alguém está no inferno. A Igreja canonizou muitos santos, no entanto nunca disse que fulano ou sicrano estão no inferno. Deus é justo, mas também é misericordioso. O que houve na hora decisiva só Deus e aquela pessoa sabem. Mas como o Evangelho não mente, então tenho certeza de que muita gente entrou no céu. Quem amou e fez o bem seguramente está lá, ao lado de Jesus, louvando o Pai e orando por nós. Em resumo: sou católico e gosto de santo! Amém.

Padre Zezinho, SCJ é escritor, cantor e compositor musical

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Conversando sobre a vida

Das coisas da vida
Por Marcos Cassiano Dutra

Alguns afirmam que a vida é uma constante busca pela felicidade, outros consideram viver uma angústia, que só se finda na hora crucial do natural: a morte. Envolto por tais máximas está o homem, ciente de que ele é o próprio protagonista de sua história. Mesmo com o auxílio do transcendente, é de responsabilidade do ser humano o curso da realidade temporal, afinal a liberdade está em construir os projetos que a consciência humana almeja nas escolhas por ela feita em livre arbítrio.
           
Tudo é fruto das escolhas que se faz. Isso questiona o homem, por que ele sabe bem que cada escolha é a renúncia de outras. O ser humano apega-se facilmente ao material, acomoda-se, cria seu mundinho, e de dentro dele é difícil sair. Requer coragem e coragem é sinônimo de incompreensão. Ser incompreendido é delicado, visto que a tendência é o reconhecimento, o status social, mesmo ao preço de anular o próprio caráter (identidade) em vista dos modismos efêmeros da multidão ansiosa de fama.
           
Amar é utopia, o interesse material conta mais, muito mais que a realização do homem como um todo (soma humana). Descobrir a verdadeira jóia da vida nem sempre acontece de maneira assertiva. As influências de terceiros podem atrapalhar o processo de descobrimento. Bijuterias supérfluas, por vezes se fazem passar como sendo a jóia verdadeira, porém com o tempo elas se desfazem e enferrujam, pois não são ouro nem prata e sim meras alegorias e fetiches que perdem o encanto. Bela é a definição do Jesus de Nazaré dos evangelhos: “Onde está o teu tesouro, lá está teu coração”.
           
Porque falar de todas essas coisas da vida? A inspiração é a célebre culpada. Não é fruto do ocaso, mas da reflexão, da consciência humana, entrelaçada com a existência. Do âmago ela abre o baú dos desejos e os expressam na escrita de quem a faz, na voz do poeta perdido em suas paixões literárias ou do profeta que alerta a humanidade distorcida pelas vitrines da sociedade de consumo.
           
Das coisas da vida não se tem certezas, se tem indagações - Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Cabe ao humano viver. É vivendo que se responde paulatinamente cada pergunta ou ao menos se tenta fazê-lo. Comparando a vida com a arte, ela é um grande espetáculo do qual somos os artistas. As vezes é comédia, outras tragédia, mesmo assim somos seus dramaturgos por excelência, ou seja, de riso em riso, de lágrima em lágrima, vamos aproveitando essa oportunidade única de sermos seres vivos e racionais. Ser pessoa também é autoconhecimento.
           
O cosmo, o universo, isto é, a criação divina, toca-nos em seu mistério de vida e dele nos faz participantes. É sábio o provérbio que diz: “Viva cada dia como se fosse o último”. Viva e não tenha medo de viver. Sinta a vida tudo quanto ela é: desejo e sacrifício, dor e cura, amor e desamor, ofensa e perdão, corpo e alma, humano e divino... Não pergunte porque, mas para que estou vivo?  

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Missão e ciência em diálogo

Mundo, Igreja e missão
Por Marcos Cassiano Dutra


A missão, dentro do contexto religioso cristão, é também um aspecto antropológico por que caracteriza o penetrar do Evangelho nas diferentes culturas humanas. Na medida em que os valores evangélicos se inculturam em determinada realidade sócio-cultural isso requer, por parte dos missionários e da Igreja que os envia, um sério estudo acerca de determinada manifestação do fenômeno humano (antropos), a fim de trabalhá-la assertivamente na promoção dos elementos humano-cristãos como a paz, a caridade, a justiça, o amor.

Ser missionário e Igreja missionária é fazer acontecer a missão. Uma atitude cristã que requer a utilização das várias ciências do homem como instrumentais e parceiros na ação missionária do discipulado cristão. Tais ciências, em especial a antropologia, ajudam a Igreja a compreender melhor o homem temporal e apresentar de forma eloqüente a ele a fé em Cristo, sem romper com os laços culturais que o envolvem em sua identidade humana local.
           
Nesta relação dialogal entre missão e ciência antropológica ambas saem ganhando. A contribuição científica no campo missionário ajuda a pessoa religiosa a ampliar sua visão sobre o ser humano, sem reduzi-lo a mero expectador da Revelação e sim destinatário privilegiado desse processo fideístico. Da mesma forma a missão contribui com a área científica da antropologia, no sentido de que proporciona a essa ciência uma hermenêutica sempre atual sobre o caráter religioso que envolve o humano. Se a missão for entendida dentro desses princípios dialogais, então a nova evangelização tornar-se-á mais fecunda e contemporânea da humanidade, colaborando no desenvolvimento de uma sociedade mundial mais saudável e integrada dentro de uma perspectiva soteriológica da salvação integral do gênero humano em todas as dimensões de seu existir corpóreo e transcendente.

domingo, 30 de outubro de 2011

Conversando sobre música

Musicalidade da vida humana
Por Marcos Cassiano Dutra

A música é uma produção cultural do homem nas mais distintas manifestações de seu fenômeno humano no mundo. É aspecto cultural, gênero artístico e expressão de linguagem. Tudo isso envolve a música e o próprio homem, que dela se utiliza para celebrar a vida e o divino, bem como em terapias médicas e processos pedagógicos, porque a música também cura e ensina.
          
No célebre filme O som do coração, obra cinematográfica Norte-americana, dirigida por Kirsten Shevidon, lançada nos Estados Unidos em 2007 e no Brasil em 2008, cujo enredo dramático-romântico é belíssimo, a música é uma constante presença do começo ao fim, sendo até relacionada ao caráter genético da pessoa, o quem vem a ser um talento, um dom, bem como uma herança. “A música é ligação harmônica entre todos os seres vivos” – exclama em determinado momento do filme um de seus personagens. Se a música é um elo ligador entre os seres vivos, logo ela é um instrumento de encontro com a própria história. Quem consegue desenvolver e aprimorar o talento musical, pode então penetrar no mais profundo de suas raízes históricas e encontrar aquilo que tanto busca em sua sina. A magia da música e o poder do amor na arte de escutar o som do coração.
            
A música como passaporte para a libertação dos sentimentos de perda, carência e solidão. De maneira indireta e peculiar, o filme questiona quem o assiste a respeito dos menores abandonados e esquecidos, dos sem família. O pequeno garoto órfão e musicista é uma alusão aos vários pequenos ignorados e amontoados em orfanatos ou nas ruas da sociedade de consumo, cuja infância é parcialmente prejudicada pela ausência das figuras materna e paterna. A canção que o coração das vidas órfãs conhecem é a canção da espera; anseiam pelo augusto dia de entoarem solenemente, na grande orquestra da vida, a sinfonia do amor encontrado, com os acordes e notas da esperança que não as fazem desanimar e perder o brilho no olhar sereno de quem só quer amar e ser amado. A esses a música é sinônimo de libertação, dado que, como diria o filósofo cristão Santo Agostinho – “Cantar é próprio de quem ama”. 
            
Por que a música parece ser uma extensão melódica do próprio homem? Como a música pode trazer em si tantos bons efeitos existenciais? A música brota da vida? Certamente a musicalidade da vida humana continuará sendo uma indagação psico-filosófica na história do homem e em suas manifestações sociais.
            
Um compositor de canções populares religiosas, Zé Vicente, em um de seus vários álbuns, assim escreve – “Cuidar da memória é condição fundamental para recriação da história”. De fato a música coopera de maneira memorial na recriação da história, seja ela particular ou comunitária, familiar ou social. Em matéria de música e humanidade é mister ter os ouvidos afinados e atentos ao som do coração,  a fim de tentar interpretar e quem sabe compreender ao menos a metade daquilo que vem a ser a musicalidade da vida humana.

domingo, 23 de outubro de 2011

Senso crítico cristão III

Caminhos de existência
O caminho carismático católico
Por J. B. Libanio, SJ

Vários movimentos o trilham, especialmente a Renovação Carismática Católica. Originou-se de “experiências de oração no Espírito”. Dois marcos miliários orientam o caminho: oração e Espírito Santo. A vida comum se envolve pelo clima de oração, que lhe dá sentido, explicação, ânimo. Repetem-se pequenas invocações que prendem a mente e criam clima espiritual. Os termos “aleluia”, “amém”, “graças” e semelhantes polvilham as orações. E, como pano de fundo, está à convicção de que o Espírito Santo penetra todas as coisas e atividades.
           
A ação do Espírito, máxime na oração de louvor, visita o fiel nas horas tristes e felizes. A realidade perde importância na sua dureza para valer mais a interpretação espiritual. O louvor tem força de transfigurar positivamente todas as coisas. A atitude permanente de louvor desencadeia enorme energia de vida. Nada abala o caminhante, porque vive na prática o retrato da vida no Espírito, traçado por São Paulo na epístola aos Romanos (Rm 8,1-39).
           
O horizonte último dessa caminhada se encontra no viver em Cristo na força do Espírito. O Jesus histórico se esfuma diante do Cristo vivenciado na fé e na confiança por meio do Espírito Santo. A experiência central orientadora é o batismo no Espírito. Por ele se inaugura vida nova.
           
A beleza e a sedução do caminho carismático lhe vêm dessa virada radical de vida. Transforma todas as trevas em luz e, ao viver na e da luz, não teme manifestar externamente tal mudança. Não a percebe como conquista própria nem como vantagem individual, e sim como obra do Espírito. A figura do Espírito tudo santifica e embeleza. Pelo batismo no Espírito se recebem dons e carismas. A vida flui com leveza interior, mesmo que o exterior pese. Tudo é obra do Espírito. 

Fonte: Semanário Liturgico-Catequético O Domingo, Paulus Editora, Outubro de 2011.

sábado, 15 de outubro de 2011

Senso crítico cristão II

Caminhos de existência
O kit religioso
Por J. B. Libanio, SJ

O caminho da atual onda religiosa mostra-se paradoxal. Religioso, mas não adscrito a nenhuma religião. A metáfora do shopping ajuda a compreendê-lo. Antes íamos à venda do interior e comprávamos aquela única mercadoria que existia. Assim a religião tradicional oferecia os produtos religiosos necessários para o fiel. Mas hoje os shoppings mudaram o hábito de compra. Algo semelhante acontece com as religiões.
           
 Elas não conseguem impor o “pacote religioso” completo pela via da lei, norma, obrigação. Flutuam bens simbólicos espirituais por todas as partes. E eles alimentam a curiosidade e sede espiritual. Cada religião possui sua butique com ofertas de mercadorias espirituais, e as pessoas escolhem-nas e fazem seu próprio kit. Uns dentro de uma instituição, outros na solidão individual criam sua própria religião, outros peregrinam por diversas religiões e lá permanecem enquanto dura a satisfação existencial. Não interessa a coerência teórica entre os elementos. Vale a satisfação existencial momentânea.
           
Os meios de comunicação, físicos ou virtuais, fazem circular por todas as partes a diversidade de propostas políticas, culturais, experienciais. A religião se torna verdadeiro laboratório de experimentação de ingredientes espirituais.
           
A fragmentação e a individualização de tal opção existencial religiosa respondem ao espírito da pós-modernidade. Cada um constrói o próprio caleidoscópio religioso com os caquinhos coloridos esparsos pela atmosfera espiritual geral. Nem faltam, em termos culturais e sociais, exibições religiosas as mais diversificadas. Há a vantagem da iniciativa e a liberdade da escolha, mas com o risco de ecletismo sem consistência.

Fonte: Semanário Litúrgico-Catequético O Domingo, Editora Paulus, Outubro de 2011.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Senso crítico cristão I

Caminhos de existência
O caminho da religiosidade pós-moderna
Por J. B. Libanio, SJ  

O regime militar desbaratou os movimentos revolucionários dos jovens das décadas de 60 e 70. Depois fracassou e cedeu o poder aos civis de maneira pouco honrosa. A democracia que veio decepcionou. O ânimo combativo dos jovens se esfriou. O inimigo se esfumou. O socialismo desabou ruidosamente. O sandinismo corrompeu-se. Fidel adoeceu e Cuba continua solitária na opção socialista. Irrompeu imenso vazio ao lado da dolorosa decepção na vida de muitos que sonhavam com o mundo justo, fraterno, solidário.  
      
Em seu lugar, o neoliberalismo triunfante impôs a lei rígida do mercado. Tudo se torna mercadoria. O consumismo cresce enormemente. Imperam a exterioridade, o marketing, a propaganda, a onda colorida midiática. Já não se consegue vislumbrar nenhum caminho de compromisso sério.    
       
Abre-se o campo para a espiritualidade pós-moderna de corte pentecostal, que invade o espaço baldio do coração da geração desiludida com a militância política.           

Onde buscar um sentido para a vida? Se os ideais maiores de ontem se perderam, não resta senão enveredar-se por trilhas religiosas que encham coração de consolação. Pululam inúmeras religiões, oferecendo produtos de consumo piedoso. O caminho espiritual se povoa de ritos, festas, aleluias. A vida, que se tornara seca, encontra sentido nessas propostas.     
    
A emoção religiosa leva a melhor no confronto com a racionalidade moderna. Esta se reduz ao mundo tecnológico, que não afeta a espiritualidade, antes lhe dispõe recursos de irradiação no campo da comunicação. A ciência, que secara a espiritualidade, transforma-se em tecnologia que a incentiva. Os recursos visuais e auditivos criam clima de alta sensibilidade espiritual.
 
Fonte: Semanário Litúrgico-Catequético O Domingo, Editora Paulus, Outubro de 2011