Este blog é um espaço de argumentação sobre a fé na vida do cristão.Cada artigo aqui publicado visa fomentar em seus seguidores a discussão sobre temáticas diversas, que envolvem o ambiente religioso católico e sua ação social na realidade; contribuindo para uma práxis cristã concreta no mundo.
Brota
no coração do profeta a semente da esperança.
Nasce
da confiança de quem acredita no amanhã,
Nasce
da certeza da profecia diante da opressão,
Nasce
da fé que é possível o reino de Deus acontecer.
-
Brota
no coração do profeta a santa rebeldia.
Nasce
dos questionamentos que o Evangelho suscita,
Nasce
da crítica evangélica à ordem estabelecida,
Nasce
de Deus, que ouve e liberta o seu povo.
-
Brota
no coração do profeta a coragem.
Nasce
da força do Ressuscitado,
Nasce
da comunidade organizada,
Nasce
da vida inteiramente doada.
-
Brota
no coração do profeta e há de brota no meu também,
A
firmeza profética do homem de Nazaré,
Semeada
no sangue heróico dos mártires da caminhada,
Que
são sementes de novos cristãos.
Homenagem póstuma a Dom Oscar Romero (*1917/ +1980) – Sacerdote
católico salvadorenho, quarto Arcebispo de San Salvador, martirizado pelo
regime ditatorial de sua, enquanto rezava a Missa, por defender na Igreja a
opção preferencial pelos pobres e denunciar as violações dos direitos humanos em seu País.
Carisma e poder, comunhão e missão.
São esses os 4 elementos eclesiais que dão sustentabilidade temporal à Igreja
Militante, claramente a Igreja é um mistério sagrado e trinitário, conforme
explicita a Lumen Gentium[1] ao
dizer que a Igreja é, “querida pelo Pai, fundada pelo Filho e santificada no
Espírito Santo”, e também é povo de Deus, povo sacerdotal, congregado em nome
da Trindade. Todavia, para que esse caráter trinitário e comunitário da Igreja,
que é uma hierarquia de dons e carismas, se estabeleça de forma evangélica,
necessita-se desses 4 elementos eclesiais, tal qual a natureza necessita, em
sua física, da terra, água, ar e fogo para assim se fazer a vida dos seres
vivos e do próprio planeta acontecer.
Carisma, poder, comunhão e missão
Os 4 elementos eclesiais são a força
que nasce da natureza divina da Igreja, que é Una, Santa, Católica e
Apostólica. Força que traz consigo a vitalidade fideística para a comunidade de
fé dos discípulos de Jesus Cristo. É equivocado pensar a Igreja sem essa
interação entre carisma, poder, comunhão e missão.
O carisma corresponde à inspiração
fundante que fez com que a Igreja existisse, logo é o espírito jesuânico,
apostólico, comunitário, evangélico, que formam a identidade eclesiástica. Ao
poder refere-se à maneira organizacional da Igreja enquanto instituição divina,
por ser um mistério, mas também humana, por contar com pessoas chamadas a
pastorear o Rebanho do Senhor como Sagrados Pastores, exercendo a paternidade e
a pastoralidade de Cristo para o bem da Santa Igreja, ou seja, o poder do Bom
Pastor.
A comunhão é a unidade que deve
haver entre os membros do Corpo Místico de Cristo (a Igreja), unidade na
diversidade de dons e carismas, como exorta São Paulo em uma de suas
pertinentes cartas apostólicas. Sem unidade, sem comunhão, é impossível agir no
mundo em nome de Cristo, ou seja, ser cristão, isto é, dar testemunho da fé em
Cristo, pilar que constitui a evangelização, a missão. Missão só acontece
quando há a união dos membros em prol da causa essencial do agir da Igreja, o
reino de Deus, do qual ela é um instrumento, um sacramento de salvação na
humanidade, dado que a Igreja não é o Reino, mas é sinal e servidora do Reino. Realizando
esse serviço ao reino, dentro do seguimento de Jesus.
A fé como base para os 4 elementos
eclesiais
A Igreja nasce da fé, da fé na
ressurreição, da fé no Ressuscitado. Verdade misteriosa e sagrada transmitida
ao longo dos séculos pelos discípulos de Cristo, zelada pelos Santos Apóstolos
e depois deles por seus sucessores, os Bispos, numa unidade doutrinal que
conferiu a Igreja sua consolidação, na história do homem, como sinal da
presença de Cristo junto às pessoas no caminho terrestre para a porfia celeste.
Por isso se diz que a Igreja é um sacramento, por que ela é um sinal sagrado,
que realiza aquilo que ela significa: unicidade, catolicidade, apostolicidade e
santidade, pilares que a fazem permanecer fiel a sua identidade ao longo da
história em qualquer tempo e lugar.
É Santa, não em virtude de seus membros,
e sim em virtude de sua pertença a Deus, que a santifica e com ela faz uma
aliança no Sangue do Divino Cordeiro Jesus, em seu povo eleito, que formam a
comunidade dos fiéis, tendo Cristo como centro e a Trindade como
referência.
Conclusão
Ao celebrar-se o Ano da Fé, é
interessante e oportuno estudar e discutir sobre essas questões que compõem a
eclesiologia, sempre em espírito de oração, rezando com piedade, antes de
iniciar a pesquisa e o estudo, a oração belíssima do Símbolo Apostólico (o Creio),
recordando sempre das belas palavras de Santo Agostinho - "Amai a esta
Igreja, permanecei nesta Igreja, é de vocês esta Igreja." Ninguém pode
amar concretamente aquilo que não conhece, conhecendo a esposa de Cristo certamente
o amor brotará no coração dos que pela fé acreditam Nele se congregam nessa certeza
da Igreja, a qual é excelsa guardiã do “Depositum Fidei”[2].
[1]
Constituição Dogmática sobre a Igreja (Concílio Ecumênico Vaticano II)
[2] Depósito
da Fé: Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja.
O
mundo dos livros é um universo que ainda poucos conhecem. O acesso à leitura é
um humano direito à formação, e quando o assunto é a infância, o leque de boas
leituras nesse aspecto é muito grande, especialmente no Brasil, País de uma
riqueza leterário-infantil muito grande desde o célebre Monteiro Lobato com seu
Sítio do Pica-Pau Amarelo até em nossos dias com Ziraldo e seu aventureiro
Menino Maluquinho, até o criativo Maurício de Souza com a Turma da Mônica em
suas peripécias pedagógicas...
As
crianças brasileiras estão carentes de bons programas de televisão que as
formem e informem dentro da linguagem que lhes cabe: a linguagem da imaginação
e da criatividade. A literatura infantil brasiliana, rica em linguagens
infantis, oferece uma realidade vasta de contos e causos que ajudam na formação
humana, cultural, social dos pequeninos.
Os
pais contemporâneos, mergulhados no consumismo, preferem gastar dinheiro com
seus filhos comprando computadores, vídeo games, “brinquedos”, e se esquecem do
livro. Um livro ajuda mais que muitas tecnologias digitais, áudios-visuais e
quinquilharias que alguns chamam de “brinquedo”, mas que está distante da
origem e finalidade do nome dado, por que fomentam mais a violência que a
vivência saudável da infância.
E
o estrangeirismo artístico que invade as telas da TV com seus desenhos animados
esquisitos, implantando nas crianças brasileiras uma identidade cultural de
outra nação, que nada tem haver com nossa brasilidade. O Saci Pererê, a Cuca, o
Curupira, todos esquecidos pelos pop stars dos desenhos Asiáticos e
Norte-Americanos... Folclore também é parte da infância, por que além das
histórias que trazem, é parte da cultura popular e regional do Brasil,
ensiná-los, contá-los é reviver um pedaço de nossa história.
Aos
que valorizam os pequenos leitores e a boa leitura, especialmente a literatura
infantil brasileira, os parabéns! Se “é desde pequenino que se torce o pepino”
– conforme diz o provérbio popular – um livro dado hoje a uma criança será um
diploma amanhã. Sem o domínio da linguagem, essencial para o estudo, é
impossível progredir na vida social e profissional. O universo da leitura
infantil, além de estimular a criatividade da criança, desde cedo já à forma
como um sujeito pensante para a sociedade, que espera das famílias homens e
mulheres bem formados para o amanhã.
Por
tudo isso vale à pena investir nos leitores mirins e na literatura infantil
brasileira. Os educadores e educadores, que usam desse instrumental pedagógico
com seus pequeninos educandos, entenderam o valor da leitura para o exercício
da cidadania e a eficácia do processo de aprendizagem.
Criança
que lê abre a mentalidade para as cores da criatividade!
As relações humanas são importantes
para o desenvolvimento do homem, dado que ele é um ser social. Aristóteles
acreditava que o homem se realiza como animal político e racional na polis, ou
seja, na cidade, na sociedade. E de certa forma o filósofo está certo em seu
pensamento político, e por que não humanístico, quando ele afirma que a
política é uma forma de realização da essência, da existência humana. Política
não somente partidária ou institucional, mas sim a organização social do
cotidiano. É um equívoco grande reduzir a política a esfera dos poderes
estabelecidos. Relacionar-se também é fazer política, é fazer organização de
tempo, espaço e sentimento. Portanto, o conceito aristotélico faz eco na
reflexão sobre a corporeidade nas relações humanas.
Homem e mulher, membros do mesmo
corpo social (o mundo), ao longo da história se interagem na partilha do
conhecimento, dos problemas, dos projetos, conquistas, decepções, alegrias e
tristezas, desejos e prazeres. O ser humano, nas duas manifestações naturais de
seus específicos gêneros, colabora naquilo que se chama integração social. Tal
integração se dá por meio dos corpos que se relacionam socialmente nas mais
distintas formas de relacionamento: amizade, casal, família, trabalho, estudo,
etc...
A corporeidade nas relações humanas
O desafio da corporeidade nas
relações humanas são as problemáticas da pocessão e da inveja, sentimentos
oriundos de mentalidades desequilibradas tanto do lado masculino como feminino.
A pocessão produz o sentimento de prisão e a inveja à competitividade e o
individualismo, nocivos para a boa saúde das relações humanas.
O machismo e o feminismo também
participam dessa problemática relacional humana, quando são manifestações
sociais de ideologias extremadas que supervalorizam um gênero acima do outro,
colocado a mercê daquele que domina ou na busca pelo libertarismo da dominação.
Isso gera conflitos entre os gêneros e prejudica a integração social, bem como
a maturação da existência humana, enxergada exclusivamente por um ângulo, quer
seja ele masculino ou feminino.
Há também o fato da traição, seja
ela conjugal ou fraternal (amizade). Traição é a expressão da falsidade, da
mentira, atitudes típicas da dificuldade em manter a responsabilidade na
relação esponsal ou fraterna, bem como do exercício do caráter, da identidade
humana. Tudo isso contribui para a falência progressiva das relações
humanas.
Os efeitos e suas causas
O índice de assassinatos entre
pessoas que mantinham um tipo de relacionamento conjugal, seja namoro ou
casamento, é o efeito da causa ideológica machista, bem como a violência
doméstica que vitima mulheres silenciadas pelas agressões físicas ou simbólicas
nos lares. A bandeira do aborto, defendido por movimentos feministas, é o
retrato da guerra de sexos de uma parcela de mulheres cansadas de serem apenas
vistas como meros instrumentos de prazer, servas dos maridos e simples
consumidoras do mercado de beleza.
Não basta leis em defesa da mulher
agredida ou que tornam descriminalizante a prática abortiva, para ser sanar o
conflito entre gêneros que afeta profundamente as relações humanas. A mudança
de mentalidade vem por meio da mudança de paradigma, não fundamentado
juridicamente e sim existencialmente na capacidade de se romper com o ciclo vicioso
da disputa e desentendimento entre gêneros.
No
âmbito das amizades se carece de maior companheirismo e respeito mútuo à
relação de fraternidade adquirida. Amizade é convivência que gera maturidade e
não barganha de afetos, solução de carências e especulação de interesses
materiais.
Conclusão
As leis não têm eficácia alguma se
não há uma prática concreta, e no âmbito das relações humanas, é lamentável ter
que se legislar sobre algo que está ao alcance natural do homem e da mulher,
ambos dotados de liberdade e consciência para pensar sobre seu agir um para com
o outro, dado que ambos se completam na diversidade biológica que os dotam de
capacidades procriativas e sociais, dado que, como ressalta a socióloga Heleieth Iara Bongiovani Saffioti - “A
construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres
humanos só se constroem como tal em relação com os outros.”
Um
dos grandes desafios do Século XXI com relação ao ser humano é sem sombra de
dúvidas, não somente o desenvolvimento sustentável, mas a relação entre corporeidade
e ética. As pesquisas científicas em torno da medicina necessitam de parâmetros
éticos, dado que a saga pela cura de doenças incuráveis levam cientistas
médicos a optarem por caminhos não-éticos e desumanos, como solução para certas
enfermidades no que diz respeito a pesquisas e experiências com embriões
humanos ou pessoas físicas.
A
ética médica não se reduz ao consultório, hospitais e postos de saúde, ela
amplia-se para os laboratórios, bem como para a indústria farmacêutica. A
Organização Mundial de Saúde necessita de melhores mecanismos que salvaguardem
o acesso humanitário do homem e da mulher à saúde no quesito medicamentos e
tratamentos. É vergonhoso ter notícias de pessoas que mendigam consultas
médicas, cirurgias, medicamentos e tratamentos nos quatro cantos do globo
terrestre.
Em
maior ou menor escala, a desatenção, ou melhor, o descaso político para com a
saúde penaliza de morte os mais pobres, os quais se sentem impotentes diante
das enfermidades, por não terem garantido seus direitos humanos à saúde, que é
um bem natural, universal e público.
Os
planos de saúde que se multiplicam, tarifam o cidadão e não garantem o
compromisso ético com a saúde. É rotineiro ouvir pessoas que possuem planos de
saúde privados e, ao necessitarem de alguma intervenção cirúrgica, não obeterem
o amparo médico, por serem certas cirurgias “não cobertas” pelas mensalidades
altíssimas que pagam.
As
pessoas enfermas merecem tratamento digno e humanizado, bem como todos que se
encontram saudáveis: as gestantes, as crianças, especialmente os nascituros que em potência são humanos e não cobaias das
especulações médicas. Corporeidade e ética não são dois conceitos separados,
mas unidos e envoltos pela esfera da moral e da vida. É inconcebível pensar em
saúde como uma bolsa de valores, onde lucra quem vende mais remédio a preços
caros em nome da patente opressora do capital médico dos laboratórios.
A
cura de doenças incuráveis não se alcança com a tese do mal menor, e sim na
investigação científica e médica, guiada pela ética, para que não haja a
legitimação da morte de inocentes em vista do prestígio científico de terceiros
sob o falacioso pretexto de "bem médico à humanidade". A inteligência
humana não é instrumento de sangue e sim de dignidade no que tange a cura e aos
tratamentos médicos.
A
bioética não é mera teoria, é uma urgência contemporânea. Até quando a saúde
será palco da mais triste tragédia – a falência da humanidade? O ano só será
novo, se nova mentalidade humanista existir nos gestos, palavras e ações dos
responsáveis por organizar e efetivar a saúde, quer pública ou privada.
Quando o assunto dentro da fé cristã
é Jesus Cristo, duas figuras jamais devem sair de cena, são elas – Deus e
Maria. Em primeiro plano surge o mistério trinitário de Deus, que em sua revelação
ao ser humano, por meio da história, desenvolve e firma com ele uma aliança,
chamada de testamento, que configura o período bíblico chamado história da
salvação.
Na história da salvação a revelação
de Deus ganha significado e importância, tendo em vista o ser humano,
destinatário privilegiado do mistério do Deus Salvador. Em Jesus Cristo,
manifesta-se na história humana a completude da revelação do Sagrado, na hora
escatológica, à hora da salvação; dado que, como escreve o Teólogo Joseph
Ratzinger (Bento XVI) – “Em Jesus é o próprio Deus quem chega e, desse modo,
confere à história a sua definitiva direção”, a direção da cruz, da redenção e
da ressurreição.
Cristo possue um nome, um caráter,
uma identidade. O nome do Verbo Encarnado Salvador é Jesus, palavra que em
hebraico possui um tetragrama com as iniciais de Javé YHWH, e significa Deus
salva, ou seja, O Deus da Antiga Aliança, Aquele que é, é o mesmo Deus presente
e salvador em Jesus de Nazaré. Portanto, “a revelação do nome de Deus, que começou
na sarça ardente, é completado em Jesus” (Bento XVI no Livro A infância de
Jesus).
Deus revelador, salvador e
libertador, que ouve agora por meio de seu Filho as angustias, os sofrimentos
de seu povo eleito e o liberta, com a força profética de sua ação messiânica, a
qual não utiliza das armas e sim da palavra transformadora do Evangelho, isto
é, do Reino de Deus.
Em segundo plano, diante da Divina
Providência que envia o Messias, está à acolhedora fecunda do mistério da
encarnação, Maria. Diz São Bernardo de Claraval: “Ao criar a liberdade Deus se
tornou dependente do homem. O seu poder está ligado ao “sim” não forçado de uma
pessoa humana”. Assim o foi e é o sim da Virgem de Nazaré, sim generoso e
comprometido com Deus na história da salvação. Neste sim de Maria, realizou-se
a conclusão mais magnífica da liberdade do ser humano: o sim a salvação.
Louvemos a Santíssima Trindade,
honrando e venerando aquela que por desígnio insondável foi escolhida para
gerar o Redentor e se tornar Mãe da Igreja e advogada dos pecadores,
intercessora dos aflitos, auxilio dos cristãos.
Na passagem bíblica do encontro entre
Jesus de Nazaré e a Samaritana (João 4, 5-42), estão todos os povos da terra,
sedentos pela água eterna do Reino de Deus, a saciar toda sede de bem, de amor,
de vida, de fartura, de fraternidade. Sede de Deus? Sim, sede do Deus que desce
das alturas e se faz pequeno e grande ao mesmo tempo na ternura infante do
Verbo Divino humanizado, sede desse Deus que derruba do trono os poderosos e
eleva os humildes, sede desse Deus que é ao mesmo tempo pai nosso e pão nosso
de cada dia na eucaristia diária do amor que partilha.
Essa sede é a minha, é a sua, mas
especialmente dos destinatários privilegiados do Evangelho, os pobres, que
assim como a samaritana do Evangelho, embora em volta do poço, ainda passam
sede. Quantos ribeirinhos vivem em torno do rio e passam sede, por que a água
só chega potável na fazenda do coronel, graças ao desvio no curso do rio, feito
pela especulação do capital que progride e da vida humana que padece no
semi-árido.
Vivem a espera de outro Cristo em
cada cristão, que com sua ação social cristã pode oferecer a água infinita da
justiça do Reino de Deus que é vida em plenitude para todos. Pensar assim a
sede de Deus, poucos pensam, por isso continuamos a dizer demagogicamente -
"O mundo tem sede de Deus"... Mas o que eu faço para saciar essa
sede?
Louvo com piedade e veneração aquela
que é exemplo de evangelização inculturada, sem jamais converter os povos
ameríndios empunhando numa mão a cruz e na outra a espada. Louvo com fé aquela
que não ignorou as raízes da crença ameríndia, mas se fez índia na face da moça
de Guadalupe, estampando no poncho de Juan Diego a maternidade indígena daquela
que gerou o Verbo Divino de Tupã, e no hoje da história gera com o povo o Reino
de Deus, a terra sem males, o sonho guarani, que também é o sonho do Deus de
Jesus Cristo.
Bendigo sem cessar o profetismo
daquela que protestou maternalmente em favor dos índios esquecidos e
assassinados nesses séculos de América Latina, descobridora do Evangelho, descobriu
a face do pobre índio expulso de chão, desenculturado pelo europeu em nome do
“Deus branco”, e perseguido pela ganância de quem lhes retirou a dignidade de
seres humanos.
Essa mulher, presente em tantas
mulheres, especialmente na feminilidade ameríndia, é Maria, a mulher bendita
entre todas as gerações, inclusive nas gerações guaranis aiová, ñandeva e mbya.
Filha santa da tribo de Israel, vem fazer parte de nosso clã, e intercede em
favor da paz, da justiça e da vida de todos especialmente de nossos curumins,
que anseiam manter sua terra, sua cultura, sua crença, sua identidade.
Nossa Senhora da
América Latina, Mater morena de Guadalupe, ora pro nobis e por todos os irmãos
índios. Amém!
Os direitos humanos e o Evangelho
se relacionam profundamente, uma vez que o reino de Deus é em si, em Cristo,
vida em plenitude para a humanidade. Promover e defender os direitos do homem é
edificar o edifício profético do reino de Deus na concretude da realidade. As reformas
agrária e urbana são, portanto, dois sinais concretos desse reino que Cristo,
em vida, difundiu com seus gestos, palavras e ações.
Como
rezar diante do altar se no campo há conflitos entre latifundiários e
camponeses sem terra? Como dizer amém se nas grandes metrópoles à miséria
marginaliza tantos filhos de Deus em situação insalubre e desumana nas favelas,
calçadas e casebres?
É
tarefa da Igreja fomentar nos fiéis um sincero e evangélico engajamento social
nas organizações que visam a defesa de quem mora no campo e na cidade. A ação
social cristã é dever de todo crente e não mera teoria religiosa. Sem uma ação
efetiva por parte dos que acreditam na possibilidade da justiça e da
fraternidade, torna-se impossível a promoção da dignidade humana e uma vida
cristã coerente com o projeto salvífico de Jesus, que é vida plena para
todos.
A
terra é herança de Deus, Senhor do tempo e da história. Dele recebemos a
criação para sermos seus zeladores e continuadores. Terra herdada de Deus deve
ser partilhada entre irmãos. Entretanto a ambição desfigura o coração para a
virtude da partilha, semeando sementes de sangue e fincando cercas patrocinadas
pelo capital.
A
moradia digna é uma questão de saúde. É repudiante a situação miserável de muitos
brasileiros, largados à mercê de assistencialismos fajutos, que não solucionam
o problema da desigualdade social com migalhas vindas dos cofres públicos para
aqueles que sobrevivem em uma realidade caótica, violenta e desumanizante nas
encostas de morros ou nas margens de rios. A casa própria é direito de quem
trabalha e paga, a preço de ouro, os impostos e demais tarifas. O lar é um
direito sagrado inviolável. Basta de mansões e casebres contracenando luxo e
miséria na paisagem.
As
reformas agrária e urbana são assunto atual, equivoca-se quem ignora esses
problemas sociais, seja nos gabinetes da politicagem ou nos altares da
alienação religiosa, que canta aleluias enquanto o povo de Deus morre de fome e
sede de vida, dignidade e esperança.
Falacioso
é o discurso que considera marxista qualquer compromisso social da Igreja. O
próprio Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum Progressio, em 1967, já atestava
que a justiça social é necessária para o desenvolvimento dos povos. E a esse
respeito dizia – “Ninguém está autorizado a reservar para seu uso exclusivo o
que supera a sua necessidade, quando aos outros falta o necessário”. Algo
profundamente ligado ao que o grande Santo Ambrósio afirmava, ““Não é o que tu tens que doas ao pobre. Nada mais
fazes senão dar-lhe o que a ele mesmo pertence. Pois aquilo que tomas entre
teus bens é na verdade o que é dado em comum para o uso de todos. A terra é
dada a todos, não somente aos ricos”.
Povos
da opulência e povos da fome, como bem expressa a Populorum Progressio, são as
duas forças sociais que levam ao conflito de civilizações gerador de
empobrecimento e morte. “Entre as civilizações, como entre as pessoas, um
diálogo sincero cria efetivamente a fraternidade” – Conclui Paulo VI nessa
Encíclica. Hoje, passados mais de 40 anos da publicação desse documento
pontifício, seu conteúdo continua atual, e ajuda a empenharmos em nosso
compromisso cristão a serviço da vida e da esperança para aqueles e aquelas aos
quais é negado o direito de serem totalmente humanos no pleno gozo de seus
direitos humanitários, que são a causa do próprio Evangelho e do reino de Deus,
do qual a Igreja é instrumento e Sacramento de Salvação integral do gênero
humano.
A catequese familiar não existe
nas famílias cristãs contemporâneas. Raros são aos lares onde os pais educam
seus filhos na fé. Há famílias atuais que pensam ser responsabilidade da Igreja
e dos catequistas o ensino da piedade cristã aos filhos, quando tal piedade
deve primeiramente brotar da fé dos pais, ou seja, da prática religiosa deles.
O
distanciamento hodierno entre fé e vida, entre família e religião, provoca no
âmago humano um vazio existencial que muitas vezes é preenchido pelas fugas
sociais como a imoralidade, as drogas, os vícios e o fenômeno dos meios de
comunicação digital.
Educar
para a fé e a vida é tarefa paterna e materna que se inicia quando em nome de
Cristo a Igreja abençoa a união matrimonial entre homem e mulher, essa bênção
se torna fecunda e santa nos filhos, que o mistério da vida concede ao casal,
os quais têm nas mãos a nobre missão de ensinar a religiosidade aos seus
descendentes.
Não
é atoa que a família é célula mater da sociedade e igreja doméstica, espaço
educatório para o convívio social e a crença. O secularismo afirma ser algo
individual a religião, e assim prega uma falaciosa liberdade religiosa que ao
invés de promover uma disposição religiosa saudável, fomenta o ateísmo, a
descrença. A liberdade de culto jamais se entende pela via do desprezo à
religião e sim pelo respeito e promoção da crença.
O
analfabetismo religioso é uma questão não só de fé, mas social. A catequese
paroquial serve para ampliar os horizontes da fé cristã e a identidade católica
no conhecimento da doutrina e da espiritualidade litúrgica da Igreja, a fim de
contribuir para vida cristã coerente com o Evangelho e a vida humana do fiel.
Porém é de casa, da catequese doméstica, que trazem os valores religiosos os
quais motivam o aprendizado catequético bíblico, doutrinal e vivencial cristão.
Uma criança, um jovem ou até mesmo um adulto, que em seu lar não encontra o
ambiente sadio para fortalecimento de sua vida cristã, não consegue percorrer o
caminho da catequese para os sacramentos de forma segura e eficaz, por que em
casa não se cultiva a semente do Cristianismo.
Aos
casais católicos, que se preparam para contraírem o Sacramento do Matrimônio e
aos que aguardam na esperança o nascimento de seus filhinhos, fica a exortação
pastoral de que jamais se esqueçam do juramento feio diante do sacerdote no
altar: educar os filhos segundo a vontade de Deus e os preceitos da Igreja.
Aos
pais que já batizaram seus filhos, com os padrinhos e madrinhas, sejam nos
lares os primeiros arautos do Evangelho, educando seus pequeninos na fé, para
que cresçam em estatura em graça diante de Deus e dos homens, assim como
cresceu Jesus Menino no seio fideístico da Sagrada Família de Nazaré, modelo de
catequese doméstica.
Os
eventuais desafios pelos quais passam as famílias nesta mudança de época, sejam
eles quais forem, não se tornem empecilho para que a semente boa do reino de
Deus (a fé) seja semeada no coração dos filhos e filhas que a benevolência
divina lhes concedeu como fruto do amor conjugal.
O
rosto jovem da Igreja está presente na força e no dinamismo responsável do
jovem católico que se insere no mundo como semente de esperança, e não abandona
a prática da fé e da religiosidade, por qualquer pretexto ou modismo,
participando de maneira consciente e frutuosa da celebração dos sacramentos, em
especial a Santa Missa, dado que os sacramentos robustecem a vida cristã.
Em
13 de fevereiro a Igreja iniciará na sagrada liturgia o Tempo da Quaresma.
Período litúrgico que prepara anualmente os fiéis cristãos para a solene
celebração do Tríduo Pascal. Desde a década de 1960, inspirada pelo hoje
jubilar Concílio Vaticano II, a Igreja no Brasil propõe aos católicos
brasileiros, como gesto concreto da quaresma, a reflexão e a ação social cristã
em torno das Campanhas da Fraternidade.
A
Campanha da Fraternidade movimenta a comunidade paroquial, demais organismos
eclesiais e a própria sociedade, por que sempre trata de temas relevantes, quer
para a vida cristã ou cidadã.
Nesse
ano de 2013, em preparação e expectativa pela Jornada Mundial da Juventude com
Papa, na cidade do Rio de Janeiro, nossa quaresma ganha às cores da juventude,
e também nos exorta a vivermos bem nossa juventude segundo o Evangelho e a
auxiliar os jovens em suas mais diferentes problemáticas atuais no mundo da
moral, cultura, estudo, trabalho, saúde e da economia.
Papa
João Paulo II afirmava – “A Igreja se torna jovem, quando o jovem se torna
Igreja”. Sem um real compromisso de fé juvenil, é impossível rejuvenescer o
rosto da esposa de Cristo (a Igreja). Não se pode, em nome de ideologias
juvenis, anular a tradição religiosa Católica, quer na liturgia como na piedade
cristã. O bondoso Papa João XXIII, em sua primeira Encíclica “Ad Petri
Cathedram” nos orienta, “A Igreja, embora antiga desde a época dos Apóstolos,
caminha no mundo em perene juventude”. A jovialidade da Igreja de Cristo não se
traduz em espiritualidades carismático-pentecostais e muito menos no barulho
que impede a contemplação nas celebrações. O imutável mistério da Santíssima
Trindade é que torna jovial e atual, ao longo dos séculos, a fisionomia do
Corpo Místico de Cristo (a Igreja) no rosto do povo de Deus.
Os
ícones da JMJ percorrem as dioceses do Brasil, e muitos querem ao menos tocar
na cruz que foi um dia abençoada pelo padroeiro das jornadas, o Beato João
Paulo II. Nosso amantíssimo Santo Padre Bento XVI ensina – “Mais que tocar na
cruz, é preciso deixar-se tocar pelo mistério da cruz”. Vivenciando a Quaresma,
exercitemos as armas da penitência cristã, a oração, o jejum e a esmola
(caridade), a fim de que o mistério da Cruz de Cristo, que é sua Paixão e
Ressurreição, penetre em nossos corações humanos. A vitória de Cristo é a
vitória de todo cristão e também sua santificação.
O consumismo é o motor da
atividade econômica que permite a manutenção do capital. Porém, para se
consumir é preciso ter recurso material. Sem dinheiro não se consome. O
dinheiro é o instrumento simbólico de valoração dos produtos, do acesso a eles
e da classificação social (sou rico, sou pobre).
Guiado
por esses raciocínios (critérios) econômicos, a sociedade capitalista se mantém
e subsiste, concentrando nas mãos e para o capricho de poucos a riqueza e a
qualidade material de vida, pois as mercadorias vão para aqueles que têm maior
poder aquisitivo e podem pagar, a peso de ouro, tudo que seus sonhos de consumo
desejar...
Enquanto
um cachorrinho de um milionário come e bebe de tudo, o filho de uma mulher nas
áreas mais miseráveis do Continente Africano e do Nordeste brasileiro, vive
morrendo de fome e sede sem o mínimo necessário para viver e desenvolver-se.
Na
lógica dos critérios econômicos, se humaniza o cachorro e se animaliza o ser
humano, tornando-o uma cobaia da mais desumana experiência do laboratório
capitalista: o empobrecimento, a marginalização, a fome, a morte do homem pelo
próprio homem...
Ao
iniciar um novo ano, um novo tempo que se descortina na história da humanidade,
é oportuno fazer tal exame de consciência, ainda mais quando se fala tanto em
desenvolvimento sustentável, se protege tanto a floresta e os rios, os animais
e em contrapartida de descaracteriza o ser humano, esquecido nas favelas das
metrópoles e nos casebres do sertão, dormindo nas palhas de milho ou nas frias
calçadas das avenidas.
A
sustentabilidade também perpassa a esfera da igualdade social no quesito
econômico. As democracias ocidentais carecem dessa visão antropológica. A
ideologia de mercado fere a dignidade humana e aliena, com cifras e vitrines,
os olhos que não são capazes de enxergar a miséria, que acompanha diariamente a
vida oprimida de quem é impedido de viver como gente.
Fica
a pergunta que não quer se calar – Onde está a cidadania? O que é o ser humano?
Um mero ser econômico? E os cristãos, que tanto pregam a partilha e o amor incondicional,
onde estão os que acreditam naquele Jesus de Nazaré que disse: “Estive com
fome, sede, doente, preso, nu, estrangeiro, e vos pedi ajuda”? Cadê a vida em
plenitude que o Evangelho muito exorta e enfatiza? O Ocidente cristão carece de
cristianismo, dado que sua “religiosidade” hodierna é o capitalismo.
O
novo ano só será feliz quando a demagogia for superada e a esperança
concretizada!