sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A consciência como núcleo da transformação social



Globalização das consciências
O desafio de romper com a alienação
Por Marcos Cassiano Dutra



Na era da tecnologia e do mundo digital, o desafio é utilizar ambos os meios para conscientizar. Mas o que é conscientização? Conscientação é tomar o conhecimento de algo ou situação. Nesse aspecto, ser conscientizado é um dos primeiros passos para aquilo que o filósofo Kant chama de maioridade, ou seja, de autonomia. Não se entenda autonomia como via libertadora para o egoísmo. Ser autônomo aqui é não ser manipulado, alienado, utilizado, enganado.
A sociedade que cultua o capital carece de consciências autônomas, capazes de emitir uma opinião plausível sobre as mais diversas problemáticas humanas e sociais. O mercado financeiro e a educação bancário-tecnicista estimulam o consumo e a mão-de-obra industrial, ao passo que o discurso religioso utilitarista constroe fiéis fundamentalistas e alheios ao mundo contemporâneo.
Globaliza-se de tudo: ações milionárias, teorias econômicas, conceitos e produtos tecnológicos, demagogias religiosas e falaciosos índices de desenvolvimento educacional; todavia não se globaliza a consciência, porquê?
O papel social da consciência e fruto do agir social. Um dos clássicos da sociologia já afirma – “Não é a consciência do homem que determina seu ser social, pelo contrário é o ser social quem determina sua consciência”. Portanto, o hábito, que é parte do ser social, é o ponto-chave por meio do qual se alcança a consciência. Sem mudança de hábito é impossível a mudança de mentalidade.
O hábito está relacionado aos vícios, ou seja, as manias, ao cotidiano, ao comodismo. Mudar de hábito é um processo, que não é por acaso, é realidade, é oportunidade de um amanhã diferente. Já que o hoje depende daquilo que nele se faz.
A globalização das consciências exige mudança de hábitos, de mentalidade para atitudes diferentes do hoje na história. Quais são os hábitos que o consumismo e o utilitarismo incutiram nas consciências e que necessitam serem mudados?
O homem é ser humano por que é dotado de liberdade e consciência para o exercício de suas faculdades humanas. Não se torna humano por que pode consumir simplesmente. Torna-se humano, isto é, se humaniza, por que é capaz de raciocinar (pensar) e atuar (agir).

sábado, 24 de novembro de 2012

Celebrando o Ano da Fé



Ano da Fé
Credo Domine, aumenta nossa fé!
 
O que é?

            Na Igreja se têm um antiqüíssimo costume de celebrarem-se anos santos com a finalidade de ajudar os fiéis cristãos na prática da catolicidade, bem como no aprofundamento da tradição cristã. Assim o foram o Jubileu do ano 2000 e aos Anos Paulino e Sacerdotal, mais recentemente. E agora iniciamos a primavera do Ano da Fé.

Para que serve?

            O Ano da Fé serve para ajudar os cristãos a aprofundar o “intelectum fidei” (intelecto da fé) no conhecimento da herança cristã contida na Igreja e expressa de maneira objetiva no Símbolo Apostólico (o Creio). Cada fiel é chamado a meditar e contemplar cada verdade de fé presente nessa antiga e essencial oração, por meio da qual se abrem as portas da razão e do coração para a compreensão dos mistério da salvação em Jesus Cristo.

Como se desenvolve?

            Cada diocese, em comunhão com a Santa Sé e por meio de sua conferência episcopal nacional deve se organizar, a fim de bem celebrar o Ano da Fé. O Papa Bento XVI publicou uma Carta Apostólica chamada “Porta Fidei” (A porta da fé); nesse documento ele explica o porquê e como vivenciar o Ano da Fé nas igrejas diocesanas locais e suas paróquias. Vale à pena ler e estudar essa carta do Santo Padre!  

Por que este ano?

            Todo o ano santo é convocado e inaugurado pelo Papa. É ele quem tem prerrogativa de intuir, convidar, presidir e estipular a durabilidade do ano santo. O Ano da Fé nasce por causa dos 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II e os 20 anos de publicação do atual Catecismo da Igreja Católica. Iniciou-se em 11 de outubro de 2012 e encerrará na Solenidade de Cristo, Rei do Universo em 2013.

O Vaticano II

            Em 11 de outubro de 1962, o Papa João XXIII iniciou o 21° concílio ecumênico da história da Igreja, o Vaticano II. Que durou 4 anos, encerrando em 8 de dezembro de 1965 com o Papa Paulo VI.
            É considerado pelos estudiosos como o maior evento da Igreja no Século XX. Foi um concílio pastoral-eclesiológico, ou seja, refletiu sobre a Igreja em si mesma e a sua relação com o mundo. Possue 16 documentos interessantes que valem a pena serem lidos e pesquisados, pois o Vaticano II é o primeiro concílio pastoral na história da Igreja.
            Celebrar o cinqüentenário do jubilar Concílio Vaticano II é revisitá-lo e estudá-lo como semente de esperança para a Igreja neste alvorecer do Século XXI.

Autor: Marcos Cassiano Dutra
Graduando em Filosofia pela PUC-Campinas

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Christus imperat


A solenidade de Cristo, Rei do universo
Por Marcos Cassiano Dutra

 
Com a Solenidade de Cristo Rei, a Igreja finda o Tempo Comum e encaminha-se liturgicamente para o Advento, em preparação ao Natal do Senhor, iniciando assim um novo ano litúrgico.
Celebrar a majestade de nosso Senhor Jesus Cristo é antes de mais nada contemplar a realidade celeste da Santíssima Trindade. Em Jesus habita tal mistério trinitário, dado que Ele é ao mesmo tempo pessoa e obra de Deus. Cristo é Rei, seu reinado é o reino de Deus. O reino de Deus é o Evangelho, é a Boa Notícia, é a vida em plenitude difundida em sua ação messiânica, ou seja, os gestos, palavras e ações do Senhor, traduzem de maneira concreta a mistagogia (mistério) que envolve esse reino, essa “opus Dei”, essa obra de Deus.
A majestade de Jesus não é fruto de ideologias políticas e culturais, não compactua com a injustiça e o desrespeito aos direitos humanos. Sua realeza está na dinâmica do serviço, da gratuidade, do lava-pés, da fraternidade...
O trono de Cristo Rei é o santo madeiro da cruz e não as cadeiras temporais dos poderes estabelecidos. Seu reinado pauta-se pelas Bem-Aventuranças e acima de tudo pelo amor aos mais necessitados e sofredores.
Cristo é Rei, Cristo reina, Cristo impera, não como um ditador, monarca ou presidente e sim como princípio e fim para o qual tende o tempo e a história, os astros, estrelas e planetas, sendo ele fonte abundante de todo bem e paz.
 Sua coroa não é de ouro, nem de prata, é a Ressurreição. Seu cetro não é um bastão cravejado de pedras preciosas, e sim suas santas chagas. Seu manto não é de panos finos e glamorosos e sim a túnica da caridade e do amor ao próximo.
A real fisionomia de Cristo Rei impressiona os poderosos e ambiciosos desta terra, porém permanece perene no coração dos que caminham fiéis na fé para a comunhão dos santos, por meio dos sacramentos e de uma vida virtuosa.
Os herdeiros de Cristo Rei são todos os homens e mulheres de boa vontade que, em cada ação social cristã, tornam mais visível tal reinado. No reino de Deus, do qual Cristo é o Rei, há lugar para todos que desejam tornar viva sua constituição - “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.

O utilitarismo religioso


Fetichismo religioso
O comércio da fé
Por Marcos Cassiano Dutra

Cada vez mais se torna comum ouvir discursos religiosos dentro das religiões, em especial o Cristianismo, mais precisamente no Catolicismo. É vergonhoso reconhecer o despreparo intelectual e o desprezo teológico de sacerdotes que pregam não a teologia católica e sim o pentecostalismo e a dita “teologia” da prosperidade.
Óleo, sal, sabonetes e até mesmo lista de dívidas nas finanças utilizadas como meio ridículo para atrair fiéis as “missas de cura e libertação”. As simpatias da fé são variadas e as promessas de sucesso nos milagres instantâneos também. De igrejas, as paróquias tornam-se um mercado onde acontece o pior dos comércios – o comércio da fé.
O fetichismo religioso migrou das igrejas evangélicas para o interior da Igreja Católica no Brasil, por meio da “espiritualidade carismática” de movimentos eclesiais cuja índole teológica é dúbia, duvidosa e cismática em muitos casos, com o advento das novas comunidades de vida consagrada, que por natureza são um fenômeno de vida ambígua, por não se sabe se são leigos ou clérigos, religiosos ou fiéis, católicos ou pentecostais...
Tudo isso é o efeito nocivo de uma causa elementar – a inoperância do episcopado frente a esses tipos de fenômenos religiosos. A omissão eclesiástica, que de certa forma parece compactuar e dar estatuto a essas iniciativas, ao longo de décadas atrás e no presente, tornou-se longo prazo o fator determinante para o surgimento desse equívoco na pastoral da Igreja brasileira junto ao povo de Deus.
O que virá depois do fetichismo religioso? Todo fenômeno é epocal por sua própria natureza efêmera. Todavia deixam na história suas conseqüências. Que frutos o comércio da fé deixará para o amanhã dos católicos?
Estudiosos da sociologia e da história, afirmam que a humanidade está não tanto em uma época de mudanças, mas numa mudança de época. A religião, como expressão cultural e social, também sofre tal influência. Qual será o futuro do Catolicismo?
Outrora se vendiam indulgências, hoje se vendem milagres...      
             

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

50 anos do Vaticano II



O Papa bom
A personalidade de João XXIII
Por Marcos Cassiano Dutra



Estamos na primavera do Ano da Fé. Contemplando com gratidão e renovado entusiasmo evangélico a herança do cinqüentenário Concílio Ecumênico Vaticano II, sem se esquecer da importância do bondoso e sábio Papa João XXIII dentro de toda a atmosfera espiritual e profética que envolveu o concílio do começo ao fim.
            De todos os concílios até hoje realizados, somente o Vaticano II tem o mérito de estar intimamente ligado a pessoa de um papa. Os estudiosos de eclesiologia e história da Igreja são unânimes ao afirmar que, para se entender o jubilar concílio, é necessário estudar com atenção a vida e o episcopado de Ângelo Roncalli, o Papa João XXIII.  Sua personalidade marcante, mesmo depois de seu falecimento, influenciou não só a escolha de seu sucessor (Paulo VI), bem como as motivações conciliares em torno os 16 documentos que formam o corpo teológico-pastoral do Vaticano II.
            Eleito para ser um “papa de transição”, João XXIII foi singular, não só na escolha do nome, pois findou a era dos papas pio, como na forma diferente com que conduziu a barca de Pedro e apresentou ao mundo de sua época a imagem do Vigário de Cristo na terra. Pio XII, seu antecessor, foi um papa nobre, um verdadeiro príncipe eclesiástico, que governou a Igreja com pulso firme diante da modernidade e mística piedade diante da cristandade. João XXIII tornou-se simplesmente o “papa bom”, o papa do povo, da simplicidade, da compaixão e da sabedoria que nasce do Evangelho. Governou a Igreja com grande zelo e afeto pastoral, tornou-se não só papa, mas pai de todos s cristãos e homens e mulheres de boa vontade. Seu breve pontificado durou 5 anos – de 1958 a 1963 – deixando como testamento sua última Encíclica intitulada “Pacem in Terris” (A paz na terra), sobre diversas questões humanas, políticas, sociais e econômicas daqueles tempos difíceis da guerra fria.
            Em sua primeira Encíclica Ad Petri Cathedram, João XXIII define a identidade da Igreja ao expressar – “A Igreja, embora antiga desde a época dos Apóstolos, está no mundo em perene juventude”. Ou seja, a Igreja é sempre antiga e sempre nova, atual. Antiga no que se refere a fé, a revelação, a imutabilidade dogmática e ao mistério do sagrado presente nos sacramentos. Nova no que tange a sua ação pastoral no mundo, a sua catequese para com os fiéis, a vivência dos sacramentos e a prática litúrgica. Nesse aspecto o Papa João XXIII já indiretamente aponta para o “Aggiornamento” que o Vaticano II fará na vida da Igreja.  A tradição é uma fonte que se renova, não a partir de modismos ou anátemas e sim a partir do Evangelho. Esse é o retrato da Igreja de João XXIII.
            João XXIII enfrentou muita resistência ao seu estilo papal e ao Concílio Vaticano II. A cúria romana não soube entender os apelos do bondoso papa diante dos sinais dos tempos, e, internamente o prejudicava. Porém, com sua agonia no leito de morte, alguns cardeais se converteram e reconheceram a urgência e providência do concílio. Prestes a entrar na glória celeste, João XXIII pronunciou essas palavras, que ficarão imortalizadas na história e no coração dos cristãos – “Não tenham medo! O Senhor está presente! Um novo tempo começou.”

            Beato Papa João XXIII, ora pro nobis.