Aprendendo com São Francisco
Por Marcos Cassiano Dutra
A oração de São Francisco de
Assis popularmente conhecida é um verdadeiro colóquio entre a humanidade e
Deus, ao expressar de maneira orante o mais nobre desejo da alma humana – ser
um instrumento de paz em todas as circunstâncias da vida, a fim de um dia
alcansar a herança eterna como resultado do bem praticado na terra, no mundo.
Se
a vingança e os conflitos, frutos da maldade e do egoísmo, ainda imperam em
nosso meio, é por que nos fala a mesma coragem santa de orar como Francisco
essa sua prece simples e profunda, na qual o coração da Trindade envolve o
coração humano.
“Onde
houver ódio que eu leve o amor”. Só o amor é capaz de reconstruir aquilo que o
ódio destruiu. Amar é restaurar o fundamento da paz que se baseia no mútuo
respeito entre pessoas que se dá no ato de amar.
“Onde
houver ofensa que eu leve o perdão”. Só o perdão é capaz de restabelecer a
comunhão que a ofensa prejudicou. Perdoar é atitude própria de que se reconhece
também um pecador necessitado da Misericórdia Divina. O perdão é o remédio que
cura a enfermidade do coração: a mágoa.
“Onde
houver discórdia que eu leve a união”. A unidade é o grande sinal de pertença à
comunidade de fé dos discípulos de Jesus. A unidade é elo vital que gera a
fraternidade e transforma a realidade.
“Onde
houver dúvida que eu leve a fé”. A fé é o raciocínio religioso que permite ao
homem fazer a experiência do sagrado e da religiosidade. Fé é acreditar, mesmo
quando se depara com os limites naturais da razão. Fé é confiar, mesmo não
vendo aquilo que a crença chama de Deus. Fé é lançar-se no desafio de ser
conduzido pelos desígnios da Divina Providência.
“Onde
houver erro que eu leve a verdade”. Sem a verdade que é Cristo, tudo se torna
relativo e o mundo perde o seu sentido. É na verdade que se alicerça a paz. Não
existe paz onde o erro da mentira se faz presente iludindo e deformando as
mentalidades. A paz é fruto da justiça e também da verdade.
“Onde
houver desespero que eu leve a esperança”. A esperança é a força motivadora que
anima o ser humano, sem esperança a vida se torna uma experiência angustiante e
sem significado. Quem tem esperança tudo alça, por que entende o valor e a
importância do ato de viver.
“Onde
houver tristeza que eu leve alegria”. Ser alegre é ser portador da paz. A
alegria é o sinal concreto dessa paz que tanto se pede e reza. A alegria é o
sorriso que acolhe, é o abraço que afaga, é o olhar que protege, é as mãos que
dão carinho, é a vida a serviço da vida.
“Onde
houver trevas que eu leve a luz”. A luz orienta o caminho de quem está na
escuridão, por que ilumina a estrada. A luz clareia as ideias confusas, a luz é
sinônimo de prudência e sabedoria. A luz é sinal da presença de Deus.
A
conclusão franciscana é belíssima: procurar sem mais consolar que ser
consolado, compreender que ser compreendido, amar que se amado e perdoa que ser
perdoado, pois a reação depende essencialmente da boa ação e da reta intenção.
É preciso antes fazer o bem para que ele possa acontecer, ou seja, semeá-lo
para colher seus bons frutos, sendo que o fruto maior é a salvação, é a vida
eterna que nasce a partir da pascalidade dos que na morte adormecem na fé para
despertarem na porfia celeste