sábado, 29 de setembro de 2012

A Bíblia Sagrada - estudada, celebrada e probclamada



Formação aos os leitores e leitoras
O ministério do leitorado na liturgia
Por Marcos Cassiano Dutra



Introdução
Bíblia é uma palavra de origem grega, significa livros. Sagrada significa que tudo quanto está escrito em seus livros é algo divinamente valioso. Portanto, a Bíblia Sagrada é a união de vários livros que contam uma história bela e de fé, a história do povo de Deus, a história da salvação, bem como orienta a vida cristã em seus livros aconselhadores, que a teologia chama de sapienciais. Antigo e Novo Testamento formam a Bíblia Sagrada. O Novo Testamento, em Jesus Cristo, ilumina tudo quanto fora escrito e profetizado no Antigo.
Sábia é a premissa bíblica que diz: “A Bíblia é Palavra do Deus do povo e palavra do povo de Deus”. Essas duas realidades literárias e misteriosas envolvem de fé o conteúdo da Sagrada Escritura. Deus é o inspirador da Bíblia, que se utilizou de mãos humanas, para redigir sua mensagem e comunicá-la a humanidade, revelando-se de maneira total em seu Filho que veio para ser não mais a inspiração dos profetas, mas o próprio Deus Conosco se comunicando em gestos, palavras e ações.  Vale à pena mergulhar o intelectum fidei (intelecto da fé) no estudo bíblico, porque fortalece e amadurece a nossa fé cristã.
            O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Verbum Domine, ao falar sobre o ministério de leitores, diz que ele é essencialmente um ofício destinado aos fiéis cristãos leigos, os quais devem receber uma formação bíblica, litúrgica e técnica, a fim de contribuírem mais e mais na proclamação eloquente da Palavra de Deus nas celebrações.
            Esse artigo formativo tem por objetivo os três passos propostos pelo Papa, além de fomentar nos leitores e leitoras de nossa comunidade paroquial uma espiritualidade bíblica, a qual ajude-os a bem desenvolver esse serviço litúrgico importante.

Formação bíblica
            Um provérbio latino diz que, “reverenciar a Sagrada Escritura é reverenciar o próprio Jesus Cristo”. Jesus é o personagem bíblico mais importante, por que é o próprio Deus, que se revela na criação em seu mistério de amor para com a humanidade e vai se revelando de maneira paulatina por meio de seus patriarcas, profetas e autores dos demais livros sagrados, bem como por meio da história de seu povo, com o qual estabelece uma Aliança. Jesus é aquele que sela definitivamente a Eterna Aliança e dá cumprimento a todas as profecias do Antigo Testamento que direta ou indiretamente falavam ao seu respeito, dado que Jesus é o Messias esperado e predito.
            A Bíblia Sagrada é uma história de amor entre Deus e seu povo. Povo que muitas vezes não foi fiel a Aliança, Deus que jamais deixou de acreditar na possibilidade de salvação do ser humano. Jesus Cristo, Deus humanizado, encarnado, é o feito maior do amor de Deus pela humanidade. Não poupou o seu Filho para conquistar a si o gênero humano de maneira integral, redimindo e salvando-o.
            Os demais personagens bíblicos são exemplos de fidelidade na fé e de que é possível viver uma vida segundo os desígnios do Senhor. Tais personagens representam a humanidade, santa e pecadora, necessitada sempre da graça de Deus. Deles aprende-se que a perseverança na fé e a vivência da vocação, realizam a natureza humana e promovem o reino de Deus no mundo.
            A linguagem um tanto quanto que simbólica e figurada de alguns textos sagrados, nos oferecem uma fonte de pesquisa do contexto e do pretexto, presentes em cada escrito bíblico. O texto só é possível de se compreender levando em conta o seu contexto. Diz João Paulo II – “A ignorância é o pior inimigo da nossa fé”. Ignorar o contexto e os pretextos bíblicos é caducar a Sagrada Escritura e reduzí-la a uma leitura literal e fundamentalista, a qual somente fomenta o fanatismo religioso.
            Bela é uma das conclusões da Dei Verbum, Constituição Dogmática do Vaticano II sobre a Palavra de Deus, nela assim está expresso: “Nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que se torna o apoio vigoroso da Igreja, a solidez da fé para os filhos da Igreja, o alimento da alma e a fonte pura e perene da vida espiritual”.     

Formação litúrgica
            No Capítulo VI da Dei Verbum está escrito – “A Igreja teve sempre grande veneração as divinas Escrituras, como fez com o próprio        Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na Sagrada Liturgia, de se alimentar do pão da vida à mesa, quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de Cristo, e de distribuí-lo aos fiéis”.
            Dessa veneração nasce à liturgia da Palavra, que se faz presente em todas as celebrações litúrgicas da Igreja, especialmente a Missa. A Palavra de Deus nos ajuda a entender o mistério e viver os sacramentos. A Sagrada Escritura, junto a Sagrada Tradição, formam o depósito da Fé. Na Sagrada Escritura temos o mistério de Deus presente e na Sagrada Tradição a interpretação segura desse mistério por meio do Magistério, ao qual é confiada essa missão, visto que são assistidos pelo Espírito Santo, guia e intérprete da Palavra de Deus. Deus se revela por meio dos textos sagrados e da vivência de fé da Igreja (experiência religiosa).
            Tudo isso se faz presente na liturgia. Palavra de Deus proclamada e meditada de acordo com a Teologia Católica, que tem seu apoio perene na Palavra de Deus escrita, juntamente com a Sagrada Tradição, “nela (na teologia) se consolida firmemente e se rejuvenesce cada vez mais, investigando, à luz da fé, toda verdade contida no mistério de Cristo” (Dei Verbum 24). 
            Os tempos e anos litúrgicos são enriquecidos pela Palavra de Deus. Em cada tempo a Sagrada Escritura nos oferece passagens bíblicas específicas para se vivenciar a espiritualidade particular de cada período litúrgico. Nos anos litúrgicos nos oferece a característica distinta de cada evangelista mostrar a fisionomia e ação messiânica do Filho de Deus. Nas solenidade, chaves de leitura para se contemplar mais e mais os mistérios da salvação. De modo que a fé cristã católica vai se amadurecendo por meio da leitura, escuta e reflexão da mensagem sagrada presente na Bíblia, a cada celebração.

Formação técnica
            A proclamação da Palavra de Deus, exige de quem a faz um sério treinamento. Uma leitura mal feita, prejudica toda a homilia. Os fiéis tem o direito de entender a mensagem sagrada e os leitores e leitoras o dever de expressarem de maneira eloquente tal conteúdo. Importante é saber que ser leitor (ra) não é uma alegoria e sim um verdadeiro ministério (serviço) litúrgico. “Os leitores e leitoras não estão aí para ajudar o padre, como muitos continuam pensando. Assumem um ministério próprio, atuam a partir de seu sacerdócio de batizados.”
            “Não trabalham por conta própria, mas como representantes de Cristo, animados por seu Espírito. É Cristo mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja” (SC, n. 7). [1]
            Não basta simplesmente ler, é necessário proclamar a leitura como Palavra de Deus. Palavra de vida, amor, bondade, libertação, correção, a qual deve atingir os ouvintes quando transmitida. Proclamar a Palavra de Deus não como um fato passado e sim como uma mensagem de fé que ressoa no hoje de nossa história, em nossas alegrias, tristezas, problemas, conflitos, conquistas, buscas e tensões.
            Quando proclamada, a Palavra de Deus deve penetrar a realidade histórica e social. Sua força sagrada deve infundir a riqueza inefável do mistério de Deus na vida dos ouvintes, pois “quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, é Cristo mesmo que fala” (SC, n.7). 
            O leitor e a leitora são servidores da Palavra de Deus como porta-vozes do Senhor. Jamais falam em seu próprio nome, mas em nome do Senhor, como instrumentos de ligação entre Cristo e seu povo, fazendo-se canais de comunicação do Sagrado.

Conclusão
            O ministério de leitor exige de quem o exerce uma generosa responsabilidade, treino e estudo da Bíblia Sagrada. Sem uma intimidade com a Palavra de Deus, é impossível bem proclamá-la. Para tanto, cultivar uma espiritualidade bíblica é uma boa dica. A lectio divina, isto é, a leitura orante da Sagrada Escritura ajuda o leitor e a leitora a bem desenvolver de maneira frutuosa seu ministério na comunidade paroquial. Entonação de voz, postura corporal, expressividade facial e respiração adequada, devem ser a característica específica dos leitores. A voz, o corpo, a face, o olhar e os pulmões, todos colocados a serviço da Palavra de Deus. Por meio de nossos corpos damos graças a Deus, proclamamos sua palavra e construímos seu reino.   
            A linguagem humana é utilizada por Deus para continuar comunicando sua graça e amor à humanidade. Isso acontece por meio de sua Palavra Sagrada e também pela proclamação dela à comunidade de fé. Bem-Aventurados os leitores e leitoras que vivem essa mística litúrgica e colaboram na compreensão da Sagrada Escritura.


[1] Livro: O ministério de leitores e salmistas, Paulinas Editora
SC – Sacrosanctum Concilium (Constituição Litúrgica do Vaticano II)
Dei Verbum – Constituição Dogmática do Vaticano II sobre a Palavra de Deus

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eleições municipais 2012



 Os católicos e a política
Por Marcos Cassiano Dutra


A Igreja Católica é uma instituição religiosa, mas também é uma grande colaboradora da humanidade, por que em sua ação evangelizadora busca a promoção humana na defesa da dignidade e da vida como duas realidades existenciais importantes que apontam para o Reino de Deus preludiado entre os povos.

Equivoca-se quem interpreta tendenciosamente a ação social da Igreja como mero assistencialismo e politicagem, sua pastoralidade vai além da assistência social e de ideologias partidárias, é instrumento de libertação do homem das mazelas sociais que o marginalizam, dando-lhe a oportunidade de tornar-se protagonista de sua própria história pessoal, familiar e social, ao oferecer oportunidades de salvaguardar o acesso à alimentação, saúde, educação, cultura, moradia, trabalho e melhor salário, por meio de seus organismos pastorais, os quais trabalham incansavelmente em favor dos mais necessitados nos quais Deus continua a revelar-se, tal qual o fez na ternura infante da humilde criança de Belém.

Assim afirma o jubilar Concílio Vaticano II em sua Constituição Pastoral "Gaudium et Spes" - "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo".

Essa expressão escrita conciliar traduz a solidariedade da Igreja com a família humana universal. Apresenta a real fisionomia do catolicismo: ser uma religião inserida no mundo, em constante diálogo, profetismo e trabalho conjunto para superação das problemáticas que ferem a dignidade dos filhos de Deus, denunciando toda forma de corrupção dos bens públicos ao conscientizar a sociedade civil organizada.

Uma Igreja parceira da humanidade. Se outrora pairava no ar uma dicotomia entre fé e vida, hoje, sob a luz profética do Vaticano II, entendemos que fé e vida são como corpo e alma: um composto único que dá caráter á existência humana. A vida torna-se mais humanizada pela prática da fé, e a fé se torna mais eloquente se desenvolvida na vida cotidiana. Religião e política não se misturam, pelo contrário, se dão às mãos em favor da paz e da fraternidade.

Em tempos de eleições ouçamos a voz da Igreja no Brasil que nos diz: Vote com consciência, voto não tem preço, tem consequência!" Os cristãos leigos e leigas, inseridos no ambiente político como eleitores e candidatos aos cargos públicos, deixem-se iluminar pela sabedoria católica em favor do bem comum nos municípios brasileiros.

Candidaturas que enxergam a Igreja como uma adversária, são coligações que não defendem o bem público e sim o interesse de pequenos grupos elitizados, os quais anseiam o poder para manutenção das estruturas desumanas que geram a desigualdade social, tais candidatos, seja a cargos legislativo ou executivo, jamais merecem o voto de um cidadão, muito menos dos cidadãos cristãos.

O debate de idéias, projetos e propostas é saudável e importante para o fortalecimento da democracia. Debater é permitir ser questionado e questionar, tendo em vista não o revanchismo, mas a busca conjunta de caminhos políticos coerentes, prudentes e assertivos para sanar os eventuais problemas locais.

Bem-Aventurado o político honesto que não governa para si e os seus, e sim zela pelo bem comum de todos e todas, jamais se esquecendo da contribuição religiosa e humana da Igreja Católica na salvaguarda da integração social.

Catolicidade da educação cristã na sociedade atual


Comemorar o Dia dos Professores
A educação católica
Por Marcos Cassiano Dutra
 
Em outubro comemoramos o Dia do Professor. Aos profissionais da educação nossas sinceras homenagens e preito de gratidão perene. A exemplo de Jesus Cristo, grande educador da humanidade, cada professor e professora, exerçam de maneira humana, cívica e cristã o seu apostolado leigo no vasto e desafiante campo do ensino primário, fundamental, médio e superior.
 O Documento: Presença da Igreja na Universidade e na cultura universitária, da Congregação para a educação católica e dos pontifícios conselhos dos leigos e da cultura, assim afirma – “Os professores católicos têm um papel fundamental para a presença da Igreja na cultura universitária. A sua qualidade e a sua generosidade podem mesmo suprir em certos casos as imperfeições das estruturas. O empenho apostólico do professor católico, dando prioridade ao respeito e ao serviço das pessoas, colegas e estudantes, oferece-lhe este testemunho do homem novo ‘sempre pronto a dar conta, a quem lhe pede, da esperança que nele existe, com amabilidade e respeito” (Cf. 1Pd 3, 15-16).
Mais adiante o documento reitera, “Este testemunho do professor católico não consiste em divagar por temáticas confessionais à custa das disciplinas a ensinar, mas em abrir o horizonte às questões últimas e fundamentais, na generosidade estimulante duma presença ativa aos pedidos freqüentes não formulados dos jovens espíritos à procura de referência e de certezas, de orientação e de finalidade. A sua vida de amanhã na sociedade depende disso”.
E conclui, “Com maior razão, a Igreja e a Universidade esperam dos sacerdotes professores encarregados do ensino na Univerdade uma competência de alto nível e uma sincera comunhão eclesial”.   
Uma educação católica é humanista, cristã e marcadamente um ensino de comunhão e unidade na diversidade. Não se trata de um “policiamento ideológico” por parte da Igreja e sim de uma exortação do Magistério à responsabilidade educativa dos professores e professoras cristãos, formadores de cidadãos, especialmente os padres educadores, não só no âmbito universitário, como destaca o documento, e sim em todos os modelos e estruturas do ensino público ou privado.
Equivoca-se o educador que ignora essas palavras sábias da Igreja. Vale a pena mergulhar a pedagogia, a didática do processo educativo, nessas orientações eclesiais a esse respeito, pois elas nos oferecem diretrizes assertivas e prudentes para uma educação de qualidade.

Hermenêutica da Comunhão dos santos


Ora pro nobis, santos do céu e da terra!
Por Marcos Cassiano Dutra

Ser modelo de esperança. Eis a palavra-chave para se viver bem na sociedade e no ambiente religioso. Tarefa árdua que implica oração e ação, fé e vida, caminhando juntas, lado a lado. Ter consciência de que tudo está sob a guia sábia da Divina Providência, a qual respeita a liberdade humana, porém a orienta. E que, das próprias limitações pessoais, se pode tirar algo bom: o aprendizado humano e cristão.

Os santos e santas de Deus brilham na história da humanidade e da Igreja como modelos de esperança em muitas situações cotidianas e eclesiásticas delicadas, problemáticas de seus tempos. Tantas vezes a santidade é vista como algo paralelo ao mundo real ou até mesmo como fuga de tudo e todos, quando não. A santidade é antes de mais nada um inserir-se na história por meio da vivência dos ideais nobres do amor, justiça, compaixão, entre tantos outros que completam (dão sentido) a existência...

Quando penso nos santos eu não os vejo simplesmente como imagens frias que adornam nichos, altares, eu os vejo como pessoas de um humanismo que transcende e inspira a humanidade. Quando celebro os santos, não o faço como mera memória de alguém que se foi e sim como gratidão a uma vida que marcou, cuja herança é a capacidade de amar o divino no amor ao próximo, seja ele quem for e como for...

Santos de dentro da Igreja e de fora também, santos que nunca frequentaram uma Missa ou um culto, mas que resplandecer o sagrado em suas virtudes na sociedade, por que foram e são homens e mulheres de boa vontade!