Alguns afirmam que a vida é uma constante busca pela felicidade, outros consideram viver uma angústia, que só se finda na hora crucial do natural: a morte. Envolto por tais máximas está o homem, ciente de que ele é o próprio protagonista de sua história. Mesmo com o auxílio do transcendente, é de responsabilidade do ser humano o curso da realidade temporal, afinal a liberdade está em construir os projetos que a consciência humana almeja nas escolhas por ela feita em livre arbítrio.
Tudo é fruto das escolhas que se faz. Isso questiona o homem, por que ele sabe bem que cada escolha é a renúncia de outras. O ser humano apega-se facilmente ao material, acomoda-se, cria seu mundinho, e de dentro dele é difícil sair. Requer coragem e coragem é sinônimo de incompreensão. Ser incompreendido é delicado, visto que a tendência é o reconhecimento, o status social, mesmo ao preço de anular o próprio caráter (identidade) em vista dos modismos efêmeros da multidão ansiosa de fama.
Amar é utopia, o interesse material conta mais, muito mais que a realização do homem como um todo (soma humana). Descobrir a verdadeira jóia da vida nem sempre acontece de maneira assertiva. As influências de terceiros podem atrapalhar o processo de descobrimento. Bijuterias supérfluas, por vezes se fazem passar como sendo a jóia verdadeira, porém com o tempo elas se desfazem e enferrujam, pois não são ouro nem prata e sim meras alegorias e fetiches que perdem o encanto. Bela é a definição do Jesus de Nazaré dos evangelhos: “Onde está o teu tesouro, lá está teu coração”.
Porque falar de todas essas coisas da vida? A inspiração é a célebre culpada. Não é fruto do ocaso, mas da reflexão, da consciência humana, entrelaçada com a existência. Do âmago ela abre o baú dos desejos e os expressam na escrita de quem a faz, na voz do poeta perdido em suas paixões literárias ou do profeta que alerta a humanidade distorcida pelas vitrines da sociedade de consumo.
Das coisas da vida não se tem certezas, se tem indagações - Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Cabe ao humano viver. É vivendo que se responde paulatinamente cada pergunta ou ao menos se tenta fazê-lo. Comparando a vida com a arte, ela é um grande espetáculo do qual somos os artistas. As vezes é comédia, outras tragédia, mesmo assim somos seus dramaturgos por excelência, ou seja, de riso em riso, de lágrima em lágrima, vamos aproveitando essa oportunidade única de sermos seres vivos e racionais. Ser pessoa também é autoconhecimento.
O cosmo, o universo, isto é, a criação divina, toca-nos em seu mistério de vida e dele nos faz participantes. É sábio o provérbio que diz: “Viva cada dia como se fosse o último”. Viva e não tenha medo de viver. Sinta a vida tudo quanto ela é: desejo e sacrifício, dor e cura, amor e desamor, ofensa e perdão, corpo e alma, humano e divino... Não pergunte porque, mas para que estou vivo?