quinta-feira, 28 de junho de 2012

Conversando sobre ética e moralidade


O que é a responsabilidade moral?
Por Marcos Cassiano Dutra

A responsabilidade moral constitui-se de duas premissas fundamentais: o conhecimento e a liberdade. É a partir da relação entre elas que se pode analisar de maneira reflexiva suas causas e efeitos (morais ou imorais), portanto, conhecimento e liberdade são duas condições essenciais da responsabilidade moral.
            
O conhecimento implica que o sujeito da ação moral não ignore nem as circunstâncias nem as conseqüências da sua atitude, isto é, que o seu comportamento possua um caráter consciente. A liberdade implica que a causa dos seus atos esteja nele próprio (ou causa interior), e não em outro agente (ou causa exterior) que o force a agir de certa maneira contrariando a sua vontade: ou seja, que a sua conduta seja livre. 
            
Nesse sentido, duas interrogações auxiliam na reflexão acerca da responsabilidade moral – tenho o conhecimento de meus atos? Sou livre para fazê-los? Dentre as três posições fundamentais na problemática da liberdade, uma delas (determinismo e liberdade) busca fazer uma unidade dialética entre o determinado e o libertário ao inferir que, se o comportamento do homem é determinado, esta determinação, longe de impedir a liberdade, é a condição necessária da liberdade. Há, nesse aspecto, portanto, uma conciliação entre liberdade e necessidade na responsabilidade dos atos morais.
            
 O comportamento moral, além de ser fruto da ação humana, por ser parte da vida do homem, possue um caráter de valor, ou seja, é considerado algo valioso. A situação de valoração dos comportamentos morais se dá no sentido d que os valores morais não possuem um valor em si mesmos, mas sim na importância que eles possuem; isso infere-se a partir da avaliação moral, por meio da qual se analisa a atribuição do valor respectivo dos atos humanos em três aspectos co-relacionados: o valor atribuível, o objeto de avaliação e o sujeito que avalia.
             
Ainda sobre os valores morais, ressalte-se uma das correntes filosóficas que trabalham o valor moral fundamental da bondade, o eudemonismo, que considera o bem como felicidade essencial do homem. Para Aristóteles, “a felicidade é o mais alto dos bens e que todos os homens aspiram à felicidade”, tese aristotélica essa que se sustentou inúmeras vezes ao longo da história do pensamento ético.
            
Refletir acerca da responsabilidade moral, tendo em vista o valor dos atos morais na vida humana, é antes de tudo recorrer a uma antropologia filosófica em torno da consciência do homem e de sua atividade social. Sem tal prévio conhecimento básico, a análise ética se perde e corre o grande e sério risco de ser tendenciosa, parcial e reducionista. 
 

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Amor precisa ser amado


O coração de Deus
Contemplando o amor divino
Por Marcos Cassiano Dutra

Contemplo no silêncio a vida e fico a imaginar o futuro com a influência do presente, e a sabedoria do passado. Aprender, eis o segredo de quem almeja viver bem. É um equivoco muito grande reduzir a vida aos prazeres e alegrias, vida também é sinônimo de fraquezas e tristezas, cabe ao homem ser prudente e saber interpretar os sinais que a existência lhe dá ao longo de seu existir humano.
            A inteligência é importante, mas que seria a vida se não fosse à arte de amar, ou seja, de usar do coração para expressar os mais ternos sentimentos humanos! Não vive bem que não se ama e não sabe amar os outros. É na dinâmica do amar e ser amado que a natureza humana vai se conhecendo como um ser capaz de boas relações como a paz mundial, efeito magnífico do amor humano entre toda a humanidade. 
            Desejo vivamente que o amor se faça presente entre todos nós! Como nos enche os lábios de satisfação ao dizer: eu amo alguém, ou eu sou amado! Deve ser por isso mesmo que a família é a célula indispensável na formação do homem como ser social, pois é na família, no amor dos pais, que todos somos educados para o amor ao próximo. Feliz é o provérbio popular que não se cansa de repetir: “só o amor constrói!” Constrói tudo aquilo que a inveja, a ofensa, o preconceito, teimam insistentemente em destruir e desumanizar.
            O amor é tão importante que o próprio Jesus de Nazaré, ao aproximar-se de seu suplício glorioso e pascal, deixou aos seus discípulos a sagrada ordem, o mandamento do amai-vos uns aos outros assim como Eu, vos amei, porque o Pai, o Criador e Pai, me amou e em mim ama todos vocês! Portanto, ser discípulo e discípula do Divino Mestre é ser seguidor do amor, amor verdadeiro que se fez sacrifício eterno e salvador no algoz da cruz libertadora e redentora.
            O titulo mais belo que se pode dar a Jesus é o de Sagrado Coração. Rei do Universo, Cristo, Senhor dos senhores.... Todos esses títulos são pequenos diante do Coração Sagrado de Jesus! Como pode um Deus ser Rei de tudo e de todos, ser o Ungido e Senhor, se não tiver dentro de si um coração? Deus, Santíssima Trindade, é Deus, por que é amor, já nos recorda São João no Apocalipse. Para conhecê-lo é necessário antes de tudo amar, porque só o conhece quem ama! Ah, Senhor Deus, como é belo chamá-lo de Sagrado Coração, Coração Santo, que pulsa misericordiosamente no peito transpassado de Jesus Cristo crucificado-ressuscitado!
            Um Deus sem coração é um deus morto. Tu, Senhor, és vivo por que tens um coração! Coração que se fez nossa carne, nossa gente e quis nos amar da mesma forma que nós humanamente nos amamos. No fim de tudo, quando a vida terrena se findar, escutai esse apelo orante e piedoso: guarda-nos em teu Sagrado Coração! Não há lugar mais seguro, santo e santificador que morar eternamente em teu coração. Imagino, pois o céu como um grande coração onde todos são amados infinitamente.
Bela é a jaculatória que diz: “Fazei o nosso coração semelhante ao vosso”. Sim, nosso coração deve ser semelhante ao vosso, Senhor, coração que jamais guerreia, que jamais nega o pão, que jamais exclui, que jamais mata, que jamais calunia...
Nos últimos instantes dessa prece escrevo, inclinado diante do mistério da Divina Misericórdia, um breve agradecimento ao Amor Divino – “Jesus, eu confio em vós!”  


Palavras de um Profeta - Dom Hélder Câmara


Momento de esperança
Lembrando São Francisco
Por Dom Hélder Pessoa Câmara (In memorian)
Arcebispo emérito de Olinda e Recife

Que pena eu sinto de quem atravanca e atropela de tal modo a vida que nunca descobre tempo de parar diante de uma árvore, ou de assistir a uma aurora ou a um pôr-do-sol...
            
 Faz falta! Não dispõe de tempo para contemplar o vôo das aves e para escutar o canto dos passarinhos.
           
 O pior é que a criatura humana, chamada pelo Criador a participar de sua inteligência divina e de seu poder criador, esmaga a natureza, ao invés de conviver com ela... Haja vista a poluição das águas, da terra, do ar...
            
 A poluição das águas mata os rios e as lagoas, mata os peixes e os pescadores, que ficam sem comida, sem o ganha-pão para a família.
             
São Francisco, como imitador extraordinário de Cristo, deu exemplo de um profundo amor pela pobreza. Mas ele jamais chamaria a miséria de irmã. A miséria esmaga filhas e filhos de Deus, e é um insulto ao Criador e Pai.
             
Um dos grandes pecados sociais dos nossos tempos consiste na aberração de morrerem, todo ano, de fome, no mundo, milhões de criaturas humanas.
           
E isto se passa quando o progresso tecnológico e o avanço eletrônico fornecem ao homem de hoje possibilidade plena de eliminar a miséria da terra.
             
Ao invés disso, a corrida armamentista fornece ao homem de hoje mais de 40 vezes o necessário para suprimir a vida em nosso planeta.
             
Mesmo que não rebente uma guerra nuclear, química e biológica, os gastos com os armamentos modernos são tão astronômicos que tornam impossível uma superação efetiva da miséria.
             
Os franciscanos, dentro do mais puro espírito de São Francisco, costumam saudar-se exclamando: “Paz e bem”. A Igreja vem insistindo em lembrar que uma paz verdadeira e duradoura será impossível sem justiça e amor. Quem sabe, a saudação franciscana ficaria mais completa, se disséssemos: Justiça, amor e paz!

(Texto extraído do Livro: Um olhar sobre a cidade. 3ª Ed.  Editora Paulus, 2009) 
 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Celebrando a Festa de "Corpus Domine"


Sermão para Solenidade de Corpus Christi
Por: Marcos Cassiano Dutra

A celebração da Solenidade de Corpus Christi têm profunda referência à devoção antiquíssima da cristandade a Santíssima Eucaristia. O espírito de piedade cristã diante da Santa Comunhão é o efeito visível da causa invisível que transubstancia as espécies do pão e vinho consagrados, tronando-os, pelo mistério da fé, sacramento salutar que alimenta a vida cristã, e, educa a vida humana na escola evangélica da partilha e fraternidade.
Corpus Christi nos recorda também a Paixão do Senhor. Tudo quanto aconteceu ao corpo de Cristo, na ocasião do suplício da crucificação, continua hoje nas problemáticas sociais da miséria, violência e marginalização. O corpo dos irmãos e irmãs é sagrado, e, assim como a Hóstia Consagrada, não se pode profanar. Portanto, Corpus Christi nos conscientiza acerca do respeito à vida e ao corpo humano, a partir de Cristo, presente na Eucaristia em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
Corpus Christi nos ensina também o mistério da Ressurreição. O corpo de Cristo, crucificado no santo madeiro, ressurge misteriosamente ao terceiro dia, no triunfo sobrenatural da vida sobre a morte e o pecado. Celebrar Corpus Christi é deixar-se educar na escola contemplativa da Ressurreição de nosso Senhor. Portanto, Corpus Christi infundi, no coração piedoso e devoto dos fiéis, a esperança cristã, que é Jesus Cristo, crucificado-ressuscitado.
Qual é uma característica fundamental da Igreja de Cristo? É a Santa Eucaristia, ou seja, uma Igreja eucarística. Tal identidade não é fruto do acaso e da vontade humana, e sim da iniciativa insondável da Santíssima Trindade que, desde a Antiga Aliança, prefigura no povo de Israel a imagem da Igreja, e, no maná, a própria Eucaristia. Adoremos o mistério da vida presente no Sacramento da Comunhão, e digamos extasiados como Santo Tomás de Aquino – “Eu te adoro, ó Cristo, Deus no santo altar, neste sacramento vivo a palpitar!”