A Filosofia da ciência
As teorias e métodos científicos
na modernidade e contemporaneidade
Por Marcos Cassiano Dutra
Introdução
Para
se entender o que é a ciência, é necessário entender e pesquisar a história do
pensamento. Por que pensamos? Por que conhecemos? - São as duas indagações pertinentes no
estudo do processo cognoscitivo do pensamento humano em vista ao conhecimento,
em virtude do qual se estrutura a ciência.
O
ser humano é um ser de experiência, as experiências humanas dependem do
conhecimento. Portanto, o que o homem é, em grande medida, é o resultado do que
ele conhece. Nesse sentido, “o conhecimento é a tentativa de se interpretar a
linguagem da realidade, para se chegar a uma verdade.” Importante ter em mente
que o conhecimento é o conjunto das abstrações da realidade e suas relações,
também que para se chegar a uma possível verdade, é essencial haver uma conexão
entre conhecimento, linguagem e realidade.
A
ciência propicia tal conexão ao oferecer teorias e métodos científicos, cada
qual ao seu modo específico e em sua época específica buscou auxiliar o homem em
sua saga natural pelo conhecimento. A Renascença é o período histórico marcante
para o pensamento científico, dado que é a partir dela que se desenvolve a
Revolução científica, tendo como expoente Galileu Galilei, e posterior a ele
outros pensadores e cientistas que oferecem a humanidade reflexões
filosófico-científicas plausíveis e pertinentes.
Galileu Galilei (1564-1642)
“A realidade é um
sistema de causalidades racionais rigorosas que podem e devem ser conhecidas e
transformadas pelo homem”. Com essa premissa, Galileu Galilei retoma a teoria
de Nicolau Copérnico sobre o heliocentrismo. Até então vigorava a tese
científica geocêntrica, é com Galileu e por meio de sua invenção (o telescópio)
que ele se torna o cientista mais famoso da Europa em sua época, fazendo de sua
teoria a base da física moderna, a qual revolucionou o conhecimento sobre a
astronomia e assim inaugurou a revolução científica moderna, dado que as
antigas verdades científicas foram substituídas por verdades novas.
Antes
da chamada Revolução Copernicana ou Revolução Galileana, a lógica formal da
não-contradição (especulação - dedução) era utilizada como instrumental
científico. Galileu introduz uma nova lógica, a lógica do sentido, fundada não
mais na especulação e sim nos paradoxos e no erro como caminhos para se chegar à
verdade. Esse novo método experimental (indutivista) veio a proporcionar a
resolução de problemas centrais da mecânica e da astronomia.
A
teoria científica anterior a Galileu, se embasava na cosmologia aristotélica,
que considerava o cosmo como um movimento organizado e eterno. Se o universo é
perfeito, ele precisa ser necessariamente eterno – pensava Aristóteles. O cosmo
organizado é regido pelo motor imóvel, que vem a ser a terra. Logo, o mundo
tende a ser perfeito por que o cosmo assim o é e o mundo em virtude disso tem
um fim, por que possue uma finalidade: ser o centro do universo. Por isso
geocentrismo, por que o planeta terra, nessa tese, é o centro do universo,
todos os demais sistemas planetários, giram em torno da terra, motor imóvel que
tudo organiza no cosmo em perfeição.
Galilei
é contrário a essa tese e retoma a teoria de Copérnico, dando a ela maior
sustentabilidade científica. Galileu defende que o universo não é perfeito e
que para se compreender o universo é necessário o domínio matemático, pois
segundo ele, Deus usou da matemática para formar o universo. Portanto, a terra
não é o centro do universo e sim o sol. Todos os planetas em torno dele giram.
Francis Bacon (1561-1626)
Outro pensador
moderno de grande importância para a filosofia da ciência é Francis Bacon. Sua
premissa fundamental era: “saber é poder”. Bacon, assim como Galileu é um
indutivista (defende a experiência e não a especulação – dedução). O saber é
poder por que a ciência possui uma utilidade: contribuir para a melhoria das
condições de vida do homem, por isso ela deve ser aplicada para o progresso
humano. Em suma, o conhecimento não tem um valor em si, mas sim pelos
resultados práticos que ele possa gerar.
Crendo
e defendendo a praticidade e a utilidade da ciência, Bacon não propõe uma
teoria e sim um método, o Novo Organum. Esse método tem por finalidade usar da
lógica para apoiar as teorias das descobertas científicas, a fim de aumentar a
capacidade do homem sobre a natureza, isto é, seu domínio. Francis Bacon é indutivista,
pois o método indutivo, para a ciência moderna, é a fonte da verdade.
Seus
passos para o conhecimento são; observação rigorosa, hipótese, validação e
teoria válida. Todavia, é necessário saber que “aquele que começa uma
investigação repleto de certezas, terminará cheio de dúvidas” – Diz Bacon. Por
isso é preciso destruir paulatinamente os ídolos, somente assim a observação
será determinante para o método, por que a indução só é possível se quebrados
os ídolos.
Bacon
divide os ídolos em quatro:
·
Ídolo da tribo (fundado na natureza humana)
·
Ídolo da caverna (fundado nos homens enquanto
indivíduos)
·
Ídolo de foro (fundado na sociedade e nas
palavras impostas)
·
Ídolo do teatro (fundado nas filosofias adotadas
como verdade únicas)
A ciência na contemporaneidade
Na
contemporaneidade dois pensadores da filosofia da ciência merecem destaque, são
eles, Karl Popper e Thomas Kuhn. Cada qual, ao seu modo, deu contribuições
elementares ao pensamente científico na atualidade.
Karl Popper (1902-1994)
Foi um filósofo da
ciência austríaco e naturalizado britânico. Estudiosos afirmam ser ele o
pensador mais importante do Século XX por ter tematizado à ciência. Popper não
é indutivista, e sim dedutivista. Sua teoria científica centra-se no quesito de
fazer a distinção entre o que é ou não é a ciência. Para ele o conhecimento
humano consiste em teorias, hipóteses e conjecturas que o homem formula como
produtos de sua atividade intelectual. Nisso se embasa a teoria da demarcação,
obra mais importante de Popper. A demarcação estrutura-se substancialmente nas
possibilidades, ou seja, nas probabilidades de refutação ou falseamento de uma
teoria científica. A medida em que uma verdade cientifica é passível ser
falseada ou corroborada, ela se mostrará realmente verdadeira ou falsa. Karl
Popper relaciona-se muito com o pensamento cartesiano de René Descartes em sua
teoria do conhecimento. Descartes parte da dúvida metódica para se chegar a uma
possível verdade indubitável acerca do conhecimento humano. Popper parte das
possibilidades de falsear uma tese científica para se chegar uma real verdade
dos fatos. Nessa perspectiva sua teoria da demarcação assemelha-se a uma
dialética cartesiano-científica.
Em
suma, a teoria científica de Popper firma-se na construção progressiva de uma
verdade das “coisas”, não propondo caminhos ou métodos que conduzam
invariavelmente a verdade e sim pela especulação o acesso a chance de alguns
enunciados verdadeiros acerca da realidade.
Thomas Kuhn (1922-1996)
Foi um físico e
filósofo da ciência estadunidense. Seu
trabalho embasou-se sobre história da ciência e filosofia da ciência, tornando-se um marco
no estudo do processo que leva ao desenvolvimento científico. Kuhn rejeita o
dedutivismo e o indutivismo. Ele considera a ciência um processo cíclico e não
linear, faz também a divisão de duas fases importantes na ciência: 1) A ciência
natural e 2) A crise.
Trabalha
cientificamente com os paradigmas. Kuhn afirma que a ciência acontece e se
desenvolve a partir dos paradigmas, que para ele tem o sentido de exemplo
(modelo). A teoria científica de Thomas Kuhn, como já foi dito, é cíclica, ou
seja, um processo que não se acaba e sim trabalha com paradigmas, que estão em
constante renovação para garantir uma verdade em seu tempo histórico.
O
processo científico cíclico de Kuhn estrutura-se da seguinte forma:
·
Paradigma:
Conjunto de conceitos e teorias vigentes diante de novos conhecimentos.
·
Ciência
normal ou nova: Investigação que se baseia em problemas e uma comunidade
científica reconhece, em particular, durante um período.
·
Crise ou
anomalia: Fatos que os cientistas não conseguem resolver. Não refutando e
sim colocando em experiência, partindo do paradigma. Ás vezes ignoram o
problema, culpando ou não.
·
Revolução:
Abandono de um paradigma adotado por toda a comunidade científica. Mudança de visão
de mundo, mudança de pensamento.
A
teoria científica de Thomas Kuhn assemelha-se a teoria filosófica de Friedrich
Hegel, na qual se organiza o pensamento em tese, antítese e síntese. Kuhn faz
basicamente o mesmo com a ciência ao recorrer a uma dialética
científico-hegeliana, partindo do paradigma, que gera uma nova ciência e dela
faz surgir uma crise, por meio da qual se chega a uma revolução do pensamento e
da visão de mundo.
Conclusão
A
filosofia da ciência não é algo acabado e sim em constante construção, as
teorias e métodos de ontem e hoje, colaboram para com o pensamento científico
atual, dando instrumentais intelectuais e práticos ao ser humano em sua sede
pelo conhecimento.