quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Compromisso social cristão


A Igreja e as mazelas sociais
A Reforma agrária e urbana
Por Marcos Cassiano Dutra


Os direitos humanos e o Evangelho se relacionam profundamente, uma vez que o reino de Deus é em si, em Cristo, vida em plenitude para a humanidade. Promover e defender os direitos do homem é edificar o edifício profético do reino de Deus na concretude da realidade. As reformas agrária e urbana são, portanto, dois sinais concretos desse reino que Cristo, em vida, difundiu com seus gestos, palavras e ações.
             
Como rezar diante do altar se no campo há conflitos entre latifundiários e camponeses sem terra? Como dizer amém se nas grandes metrópoles à miséria marginaliza tantos filhos de Deus em situação insalubre e desumana nas favelas, calçadas e casebres?
            
É tarefa da Igreja fomentar nos fiéis um sincero e evangélico engajamento social nas organizações que visam a defesa de quem mora no campo e na cidade. A ação social cristã é dever de todo crente e não mera teoria religiosa. Sem uma ação efetiva por parte dos que acreditam na possibilidade da justiça e da fraternidade, torna-se impossível a promoção da dignidade humana e uma vida cristã coerente com o projeto salvífico de Jesus, que é vida plena para todos.  
             
A terra é herança de Deus, Senhor do tempo e da história. Dele recebemos a criação para sermos seus zeladores e continuadores. Terra herdada de Deus deve ser partilhada entre irmãos. Entretanto a ambição desfigura o coração para a virtude da partilha, semeando sementes de sangue e fincando cercas patrocinadas pelo capital.
            
A moradia digna é uma questão de saúde. É repudiante a situação miserável de muitos brasileiros, largados à mercê de assistencialismos fajutos, que não solucionam o problema da desigualdade social com migalhas vindas dos cofres públicos para aqueles que sobrevivem em uma realidade caótica, violenta e desumanizante nas encostas de morros ou nas margens de rios. A casa própria é direito de quem trabalha e paga, a preço de ouro, os impostos e demais tarifas. O lar é um direito sagrado inviolável. Basta de mansões e casebres contracenando luxo e miséria na paisagem.
             
As reformas agrária e urbana são assunto atual, equivoca-se quem ignora esses problemas sociais, seja nos gabinetes da politicagem ou nos altares da alienação religiosa, que canta aleluias enquanto o povo de Deus morre de fome e sede de vida, dignidade e esperança.   
            
Falacioso é o discurso que considera marxista qualquer compromisso social da Igreja. O próprio Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum Progressio, em 1967, já atestava que a justiça social é necessária para o desenvolvimento dos povos. E a esse respeito dizia – “Ninguém está autorizado a reservar para seu uso exclusivo o que supera a sua necessidade, quando aos outros falta o necessário”. Algo profundamente ligado ao que o grande Santo Ambrósio afirmava, ““Não é o que tu tens que doas ao pobre. Nada mais fazes senão dar-lhe o que a ele mesmo pertence. Pois aquilo que tomas entre teus bens é na verdade o que é dado em comum para o uso de todos. A terra é dada a todos, não somente aos ricos”.
             
Povos da opulência e povos da fome, como bem expressa a Populorum Progressio, são as duas forças sociais que levam ao conflito de civilizações gerador de empobrecimento e morte. “Entre as civilizações, como entre as pessoas, um diálogo sincero cria efetivamente a fraternidade” – Conclui Paulo VI nessa Encíclica. Hoje, passados mais de 40 anos da publicação desse documento pontifício, seu conteúdo continua atual, e ajuda a empenharmos em nosso compromisso cristão a serviço da vida e da esperança para aqueles e aquelas aos quais é negado o direito de serem totalmente humanos no pleno gozo de seus direitos humanitários, que são a causa do próprio Evangelho e do reino de Deus, do qual a Igreja é instrumento e Sacramento de Salvação integral do gênero humano. 
 

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