terça-feira, 29 de maio de 2012

A teologia da Santíssima Trindade

Cremos em Deus, Santíssima Trindade!
A teologia trinitária do mistério de Deus
Autor: Marcos Cassiano Dutra


Cremos em Deus, Santíssima Trindade! Eis uma verdade de fé elementar de nossa catolicidade cristã. Crer na Santíssima Trindade é crer em toda a história da salvação, que se iniciou na revelação do Transcendente ao ser humano, passando posteriormente pela experiência fideística (experiência de fé) do povo de Israel, o qual já prefigura, na Antiga Aliança, a imagem bíblica da própria Igreja de Cristo – querida pelo Pai, fundada pelo Filho e santificada no Espírito Santo, conforme nos recorda o Vaticano II na eclesiologia da Lumen Gentium (Constituição Dogmática Conciliar).
            
 A Santíssima Trindade é a referência misteriosa da comunidade perfeita, nela não há divisão, mas sim união de Pessoas Divinas. A Igreja, Corpo místico de Cristo-Cabeça deve pois, em sua organização temporal militante, viver de maneira evangélica essa mesma unidade essencial de Deus Trindade, dado que, se a Igreja é envolta pelo mistério da Trindade, logo ela é trinitária; por isso mesmo os fiéis cristãos, ao início de toda Ceia do Senhor (a Missa) traçam sobre si o sinal eloqüente da fé que professam e os reúnem em comunidade: fé em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
            
 Como entender um Deus que ao mesmo tempo é Uno e Trino? A Trindade de Deus é divina, não humana, isto é, ela é formada misteriosamente por três Pessoas Divinas e não três pessoas humanas, por isso a natureza humana interroga o mistério da Trindade, por que na realidade temporal humana é impossível existirem num único ser vivo, ao mesmo tempo, três pessoas. Contudo, a certeza da fé, que não é obra do acaso e do abstrato, mas do Transcendente, nos auxilia na compreensão e contemplação dessa realidade da natureza divina de Deus, Santíssima Trindade, o qual não é três deuses, mas um só Deus, três vezes Santo.
             
A imagem antigo-testamentária do Deus de Abraão, Isaac e Jacó, prefigura o mistério da Santíssima Trindade que será revelado plenamente no Verbo humanizado (Jesus de Nazaré, o Cristo) Aquele que nos dá a conhecer totalmente quem é Deus, quem é o Senhor, quem é Javé...  Jesus, em sua missão salvífica, aos poucos vai mostrando o mistério da Trindade ao dizer -  “Eu e o Pai somos um”, “Ide por todo mundo e a todos batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Nesse aspecto, pode-se dizer que a Trindade é profundamente cristológica, pois Cristo é Pessoa e Obra de Deus, pessoa no sentido de que Nele habita a divindade da Trindade e obra por que Ele é o próprio reino de Deus.
            
 Assim afirma Santo Atanásio: “Com efeito, toda graça nos é dada em nome da Santíssima Trindade vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim como toda graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo. Realmente, participantes do Espírito Santo, possuímos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito”.
             
Celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade é deixar-se mergulhar nesse mistério transcendente de Deus e torná-lo transparente na vida cristã, nos gestos, palavras e ações, dado que fé e vida caminham juntas. O mistério de Deus não é algo desencarnado, e sim encarnado na história do homem, quanto mais o celebramos e contemplamos de maneira consciente, plena e frutuosa, muito mais esse mistério sagrado se encarna, se atualiza, na humanidade, fomentando nos homens e mulheres de boa vontade o desejo de difusão dos direitos humanos como sinais concretos da fé na Santíssima Trindade.

O Silêncio como oportunidade de conhecer-se


No silêncio da despedida
Aprendendo a silenciar-se para viver
Por Marcos Cassiano Dutra


Eis chegada a hora sagrada de silenciar-se. Se calar não é fácil, ainda mais quando se quer continuar falando, escrevendo... Quando a censura vem de terceiros, no início há o impacto do ego frente à crítica censuradora, todavia a censura vem de dentro de si mesmo, uma iniciativa de retirar-se, apagar-se, para, no momento oportuno ressurgir. Chegou a hora de censurar-se. Não cabe entender o porquê e sim meditar no silêncio tudo quanto fora feito até o presente momento. No mistério do silêncio repousa a consciência pensante daquele que escreve porque ainda acredita na força transformadora das palavras na vida do ser humano.
             
O comunicador deixará de comunicar, o escritor deixará de escrever seus artigos, o poeta deixará de construir seus versos, porém sua alma continuará a comunica a beleza da vida, escrevendo seus significados e poetizando suas expressões existenciais apaixonantes.
           
 Na dialética do silêncio, se retire para ouvir a voz do mistério que habita em seu ser, procura ouvi-lo com atenção, sem pressa ou alarde. Despede-se para viver outra faceta de tua vida e encara os desafios da quietude angustiante de ser pessoa humana a se calar, por algum tempo, a fim de humanizar-se mais na escola da vida, mantendo-se atento a tudo que se viverá.
             
Morrer para o presente e reviver para o futuro são as palavras-chave da despedida silenciosa de quem vai, mas voltará depois de ter experienciado tudo quanto almeja para seu futuro sem jamais se esquecer do passado como momentos importantes onde se aprendeu a valorizar o tesouro da vida, cujo valor é incalculável.
            
 Não se trata de um adeus, e sim de um até breve, como breve é a vida nessa terra, breve será essa despedida providencial, carregada de esperança e sonhos, mesmo que marcada por fracassos e decepções.
             
No silêncio desta vida se cala o comunicador, o escritor e o poeta. Calados caminham pela estrada difícil de sua humanidade, lá encontrarão a resposta e quem sabe o horizonte que tanto buscam e acreditam...

Aprendendo a ser louco

A criatividade da loucura
O despertar humano para a realidade
Por Marcos Cassiano Dutra


Nos lamentos da decepção clama a vida humana pela libertação de todas as regras opressoras, e, da hipocrisia que falseia o caráter do próprio homem em mundos ideais distante do real, na audaciosa busca pela aparência e ignoramento da essência. Prefiro a loucura dos audaciosos que não renunciam sua identidade a contra gosto dos grupos dominantes que difundem a ideologia da sociedade mascarada e caricaturada; prefiro a coragem dos profetas de ontem e de hoje, admiro os que dizem a verdade doa a quem doer, afinal o pior erro é tornar-se omisso diante das mentiras enrustidas de caráter legal e no fundo privilegiam alguns... Reverencio os mártires da justiça, gente de ideais nobres e humanitários, derramam o sangue em nome da fraternidade e irriga de esperança o chão do cotidiano tão contraditório...
            
 Pessoas assim fazem o mundo pensar, questionam e fomentam transformação. O hoje carece desses criativos da loucura, que pensam anos à frente, que não limitam o olhar e não atrofiam a opinião, reduzindo-a a normas fanáticas para manutenção de uma estrutura social fajuta e falida.
           
 Os dominantes os enxergam sempre como subversivos, pedras no meio do caminho. Sempre serão chamados de gentinha, de doidos, de anárquicos ou até comunistas, todavia a loucura deles continuará movimentando as opiniões e impulsionando corações na luta diária por um mundo diferente desse que se apresenta consumista, elitista, relativo, erotizado e ahistórico.
           
 Tenho pena dos alienados que pretendem conservar uma sociedade arcaica e manipulada sempre pelo interesse dos opressores, esses conservadores assinam a própria decadência humana, renúncia a liberdade de serem humanos para tornarem-se escravos de status sociais.
             
Solidarizo-me com os perseguidos, os torturados, esquecidos e injustiçados, acredito no profetismo e na paz inquieta deles, antes morrer por um ideal sublime que terminar fracassado na angustia de ter-se desumanizado em nome de privilégios e comodidades.
           
 Criatividade da loucura, poesia prática da autonomia e da transformação, da concretização dos sonhos, da libertação da consciência, do homem despertado para a realidade de dias melhores para todos.
           
 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O homem e seus paradigmas


Fragmentos do humano
A perspectiva dos paradigmas da existência
Por Marcos Cassiano Dutra


Segundo o filósofo Martin Heidegger, “o mundo surge diante do homem, aniquilando todas as coisas particulares que o rodeiam para o nada. O homem sente-se assim, como um ser-para-a-morte”. Tal sentimento provoca uma angustia interior no ser, mergulhado constantemente para a busca de sentido em sua vida; nessa busca alucinante, o homem se depara com as múltiplas facetas de suas existência, ou seja, com os fragmentos de seu eu - humano, tão paradigmático e questionador. Bondade e maldade, justiça e injustiça, amor e ódio, esperança e desespero, pecado e salvação... O choque existencial consigo mesmo gera ao primeiro olhar uma revolta interior, porém paulatinamente os paradigmas, apartir do confronto natural, vão amadurecendo no homem as suas potencialidades superativas, que o fazem evoluir da barbárie para o estado civilizatório, alguns acidentes acontecem, nem todos se civilizam, entretanto, a sociedade coopera como estrutura existencial de manutenção da integração entre todos os homens, civilizados e bárbaros.
        
Mesmo evoluído do caráter revoltoso de ser gente, os questionamentos permanecem, pois são parte da essência do ser e o acompanharão por toda vida. Contudo, o tornar-se civilizado ajuda o homem a indagar sem desumanizar-se, a perguntar e procurar de maneira assertiva as possíveis e plausíveis respostas acerca do desenvolvimento da existência, para um equilíbrio saudável da convivência social. O mundo, que anteriormente lhe aniquilou as coisas particulares que o rodeiam para o nada, surge agora como espaço temporal propício para o exercício da racionalidade. O aniquilamento de aspectos da existência ajudam o homem a se auto-conhecer, visto que a vida não é feita somente de vitórias, mas de fracassos também. 
          
Os fragmentos do humano apontam para uma certeza: o homem é um ser em construção, ou seja, não á algo acabado e definitivo, mas uma novidade vivente que se modifica diariamente por meio da inter-relação entre os sentimentos opostos de seu interior. O filósofos pré-socráticos, em especial Heráclito, entendia que a vida é um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem e desordem, bem e mal, belo e feio, construção e destruição, racional e irracional, alegria e tristeza. Essa “guerra” é a mãe e o princípio de tudo, ou seja, pela luta das forças opostas o mundo (e nele o ser) se modifica e evolui. Nessa perspectiva Heraclitiana temos o vir-a-ser do homem dentro do processo perpétuo de movimentação do mundo. Mundo e humanidade são a face da mesma existência: a vida, em seu mistério.
             
Os fragmentos do humano quando unidos, formam o audacioso quebra-cabeça da humanidade, os quais apresentam o retrato dialético do homem frente a si mesmo. A dialética da vida, tão estranha em alguns momentos, permanece como força propulsora da identidade humana, pois como diria Aristóteles – “O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser. O ser se diz em vários sentidos”. Pensar um homem desfragmentado de seus paradigmas é torná-lo um andróide, os fragmentos, isto é, os modos da existência, sozinhos não mostram quem é o ser, todavia apontam para os vários sentidos que lhe dão personalidade.
             
A perspectiva dos paradigmas da existência é estudar o homem para assim propor um humanismo, que não faça reducionismos e sim uma antropologia integrada, a qual possibilite a humanidade um conhecer-se mais amplo e profundo diante das problemáticas contemporâneas do homem pós-moderno em sua angústia filosófico-existencial hodierna no caminho da finitude.
 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fenomenologia da existência


Café da existência
Degustando a própria vida
Por Marcos Cassiano Dutra

 
Sentado na cadeira do cotidiano fico a pensar sobre meus dias. O café das experiências, hora doce, hora amargo, mas sempre bebido, degustado aos poucos para não perder seu suave aroma de futuro. Na mesa redonda da realidade concreta está o jornal da vida, algumas folhas escritas com manchetes diversas, outras ainda brancas, prontas para darem uma notícia, oxalá que sejam boas notícias. Na calçada dos sonhos estão meus projetos pessoais, afinal uma vida sem projetos perde seu sentido, é preciso ter algo a que dedicar os dias. O sol da existência brilha, porém em dias de chuva, se esconde nas nuvens que escurecem o roteiro natural do tempo. A lua da consciência ilumina o anoitecer da escuridão noturna, qual bússola a orientar os passos de quem caminha no devaneio da sina angustiante do ser gente.

Como é estranho tomar café com a própria história. Parece que tudo para e se faz paulatinamente uma retrospectiva...Relembrar é bom, mas também é doloroso, a vida não é só feita de fatos bons, mas de fatos nem tão bons e nessa hora tudo vem a tona. Voltar ao passado causa certo incômodo porque passo a analisar tudo com outro olhar, um olhar mais vivido e como é duro ter de admitir as imprudências! Por outro lado há o aprendizado. Nada é em vão se sei retirar até do mau uma raiz de bem.

Infelizes aqueles que ainda não se sentaram na cadeira do cotidiano para beber do café da maturidade, esses vivem sem ao menos perceber quão frutuoso é burilar o próprio eu com todos seus paradigmas, enigmas, conquistas e aspirações. Perdi o medo de mim mesmo, prefiro tornar-me mais e mais um caçador de mim, procurando no mais profundo do meu âmago as respostas para as indagações misteriosas de minha existência, na audácia louca de humanizar-se.

Nem sempre a poesia é bela, às vezes ela causa estranheza, mas é por uma boa causa, é pela causa humanitária de jamais se esquecer de que sou gente e não um robô mecanizado, sem sentimentos, sem pensamento, sem liberdade, sem verdades e mentiras, sem graça e sem pecado. Como é bom ser a mescla enigmática de bem e mau, de santo e pecador, só assim posso descobrir o caminho da felicidade. Quem se aliena em posturas desumanas, robotiza a própria existência, passa a vida severamente se esquecendo e termina seus dias sem saber o que realmente se foi.

Sinto-me inspirado pelo mundo das idéias e questionado pelo mundo sensível. Das idéias eu retiro ensinamentos, do sensível as experiências sempre válidas de minha humanidade. Nas idéias busco respostas, no sensível a sensação da liberdade. Do meu eu fica a pergunta filosófica: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? E da vida fica a certeza - posso viver vários anos, porém não entenderei jamais a totalidade do mistério humano em suas facetas apaixonantes e delirantes.

Faço eco nas palavras de Clarice Lispector ao reverenciar a existência humana: “O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse”. No eterno diálogo entre o ser e o nada, fica o suspense do que vem depois do fim e o segredo dos porquês que a vida tem.