quarta-feira, 21 de março de 2012

Filosofia da existência

Questionando a existência
A vida filosofal
Por Marcos Cassiano Dutra


Porque o ser humano anseia pelo transcendente e angustia-se paulatinamente nessa sina existencial conflituosa consigo mesmo? O questionamento feito nada mais é que a expressão do próprio eu humano em constante indagação com sua consciência. Os chavões filosóficos – Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? São os protótipos vivenciais da humanidade desde sua gênese, passando pela época clássica grega, o medievalismo, a modernidade e culminando hodiernamente na crise de identidade da contemporaneidade. Se outrora a preocupação filosófica era o ser, visto apartir da physis (natureza), posteriormente o Deus cristão em sua misteriosa revelação e depois o conhecimento, seja ele empírico ou racional, hoje, qual é a preocupação filosófico-existencial? São as questões de gênero? A economia e seus efeitos galopantes na sociedade de consumo? Há uma célula filosófica comum ou a humanidade trilha um caminho tortuoso em direção da caverna secular do capital?
           
Segundo Marx, “não é a consciência do homem que determina seu ser social, mas seu ser social quem determina sua consciência”. A máxima marxista tem alguma razão histórica ou é efêmera ao cotidiano atual? Que se entende por consciência do homem e seu ser social? Cabem ainda outras perguntas – O que pensa o homem contemporâneo acerca de sua vida? Fico a pensar, onde está o idealismo que movimenta os desejos humanos? Ter ideal é ter um sentido de vida, viver por uma causa a que dedicar à vida. Porque vivemos?
           
Prefiro acreditar no devir de Heráclito, no sentido de que as mudanças e os opostos que se atraem, sejam fenômenos essenciais para a interação entre a vida e a realidade, apartir das quais tudo flui e se consolida no tempo, na história, como algo concreto do abstrato dos universais que se fazem presente na consciência do homem (mundo das idéias), ao mesmo tempo imanente e transcendente, contemplativo e prático.
           
Heidegger, filósofo moderno, vai dizer que a morte é o problema interior da existência, problemática temporal e não espacial. Se o problema é a morte do ser que se humanizou, porque temê-la? A morte nada mais é que o findar da vivência, o desfecho derradeiro do ser gente. Enquanto a política internacional centra a atenção em assuntos econômicos e bélicos, a humanidade sofre a carência de ideais, de sabedorias filosóficas que a ajudem a percorrer a vida finita sem perder o gosto de viver. Redescobrir o prazer de ser vivo é a condição existencial para tentar chegar a respostas plausíveis aos questionamentos que circundam o homem hodierno. Nesse aspecto, Epicuro é uma referência tanto filosófica como existencial.
           
“Conhece-te a ti mesmo”, clama Sócrates em sua maiêutica e ironia. De fato, a humanidade atual precisa se conhecer, se conhecer capaz de filosofar sobre si mesma, sobre sua antropologia, sobre seu humanismo, sobre seu protagonismo no mundo, antroposfera na qual cada um se descobre humano e assim cria relações sociais por meio das quais se integram e fazem surgir uma sociedade, a qual necessita de sujeitos pensantes, pois o homem é racional e político naturalmente, mas também é alienado e omisso, ou seja, paradigmático: construtor ou destruidor de si, Thomas Hobbes classificaria como uma alcatéia de homens-lobo procurando se devorarem.
           
Não cabe o desespero, mas a coragem de uma práxis que comece pelas estruturas interiores do ser humano para assim transformar as estruturas exteriores da humanidade, do contrário tudo mais é mera demagogia enrustida de falaciosa conscientização pelos tutores da consciência, os quais, segundo Kant, impedem a maioridade do ser humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário