Hermenêutica do corpo II
A natureza do celibato
Por Marcos Cassiano Dutra
Introdução
No artigo anterior se refletiu acerca do corpo humano
em sua mais excelsa unidade existencial na sexualidade e no sexo. Neste texto
falar-se-á do corpo humano enquanto celibatário, sendo essa uma opção livre e
consciente de exercício da sexualidade dentro do aspecto humano-religioso da
consagração e ordenação sacramental. Celibato é uma palavra de origem latina (Caelibatus) que significa “não casado” -
celibatário é, portanto, aquela pessoa (homem ou mulher) que por convicções
vocacionais abre mão de sua intimidade genital (capacidade procriativa), e opta
pelo celibato como caminho virtuoso de vivência da vocação e exercício integral
de seu existir nas relações humanas que envolvem o caráter sexual da
afetividade, todavia nesse caso a sexualidade é entendida como aptidão de amar
a todos sem distinção ou interesse íntimo, pois o sexo aqui é visto como
oblação (oferta) total de si ao mistério de Deus, presente na vocação e que
completa inteiramente os vocacionados e vocacionadas praticantes desse estilo
específico de castidade.
Apologia
celibatária
Equivoca-se ideologicamente que não têm a devida
sensibilidade intelectual e humana para entender que o celibato não é uma fuga
de si da realidade secular ou uma repressão religiosa da genitalidade. O celibato
é a virtude humana específica daqueles que por amor a Cristo e a Igreja colocam
toda a sua existência (corpo, mente e alma) a serviço do Senhor, que os chama a
um projeto e estado de vida distinta dos padrões usuais, porém especial e
sagrado diante de Deus e dos homens e mulheres de boa vontade.
O celibato torna-se um peso ou fardo na vida dos
vocacionados que ao longo do caminho, por motivos variados e ambientes
diversos, perdem a motivação e espiritualidade necessárias ao bom êxito desse
estado de vida ou por que ao discernirem concluem não serem chamados realmente
a essa vocação específica. O celibato não é um problema, é um desafio de
santidade aos que têm nas mãos o tesouro da vida religiosa e sacerdotal a
cultivar. Problemas de ordem sexual envolvendo celibatários são oriundos de
situações humanas e fatos isolados, cada caso é um caso. A sacralidade do
celibato permanece a mesma, sua eficácia depende do compromisso pessoal de quem
por ela optou livre e consciente. Inúmeros são os exemplos de homens e mulheres
virtuosos que viveram de maneira exemplar o celibato, a vida deles é modelo de
esperança nesse sentido.
Aspectos
humanísticos do celibato
O celibato é também caminho para o autoconhecimento,
sendo assim, o celibato favorece o discernimento vocacional de rapazes e moças
que, ao longo do processo formativo para a consagração e a ordenação já se
inserem nesse estado de vida, buscando amadurecer suas vidas, mentalidade e
afetos por meio da ascese espiritual na mística vocacional celibatária.
Celibato, dentro do Catolicismo, não é imposição! É
uma opção e disciplina eclesiástica para um comportamento humano equilibrado
diante da prática cotidiana da vocação específica à vida religiosa e
sacerdotal.
A genitalidade humana não está esquecida no celibato,
ela está presente! Não de maneira erótica e sim pastoral. A pastoralidade da
vocação é uma expressão da sexualidade dos consagrados (das) e ordenados. O
corpo humano não está sepultado no celibato, ele está presente e atuante, não
na sensualidade estética do conquistar sexual e sim na capacidade de colocar
todo o vigor e as faculdades humanas em vista da vocação. É isso que realiza e
completa existencialmente a vida dos homens e mulheres celibatários em sua
integridade corporal.
Conclusão
São Bernardo de Claraval diz – “Onde o amor emerge,
ele supera todos os outros impulsos e sublima-os em amor”. Assim acontece com a
sexualidade e o sexo dentro do celibato, os quais emergem livre e consciente do
amor intenso pela vocação, de forma que todos os impulsos transcendem a esfera
do erótico e sublimam-se na esfera ascética do sagrado na gratuidade
vocacional.
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