sábado, 15 de dezembro de 2012

A vida humana em relações



Hermenêutica do corpo II
A natureza do celibato
Por Marcos Cassiano Dutra


Introdução
No artigo anterior se refletiu acerca do corpo humano em sua mais excelsa unidade existencial na sexualidade e no sexo. Neste texto falar-se-á do corpo humano enquanto celibatário, sendo essa uma opção livre e consciente de exercício da sexualidade dentro do aspecto humano-religioso da consagração e ordenação sacramental. Celibato é uma palavra de origem latina (Caelibatus) que significa “não casado” - celibatário é, portanto, aquela pessoa (homem ou mulher) que por convicções vocacionais abre mão de sua intimidade genital (capacidade procriativa), e opta pelo celibato como caminho virtuoso de vivência da vocação e exercício integral de seu existir nas relações humanas que envolvem o caráter sexual da afetividade, todavia nesse caso a sexualidade é entendida como aptidão de amar a todos sem distinção ou interesse íntimo, pois o sexo aqui é visto como oblação (oferta) total de si ao mistério de Deus, presente na vocação e que completa inteiramente os vocacionados e vocacionadas praticantes desse estilo específico de castidade.

Apologia celibatária
Equivoca-se ideologicamente que não têm a devida sensibilidade intelectual e humana para entender que o celibato não é uma fuga de si da realidade secular ou uma repressão religiosa da genitalidade. O celibato é a virtude humana específica daqueles que por amor a Cristo e a Igreja colocam toda a sua existência (corpo, mente e alma) a serviço do Senhor, que os chama a um projeto e estado de vida distinta dos padrões usuais, porém especial e sagrado diante de Deus e dos homens e mulheres de boa vontade.  
O celibato torna-se um peso ou fardo na vida dos vocacionados que ao longo do caminho, por motivos variados e ambientes diversos, perdem a motivação e espiritualidade necessárias ao bom êxito desse estado de vida ou por que ao discernirem concluem não serem chamados realmente a essa vocação específica. O celibato não é um problema, é um desafio de santidade aos que têm nas mãos o tesouro da vida religiosa e sacerdotal a cultivar. Problemas de ordem sexual envolvendo celibatários são oriundos de situações humanas e fatos isolados, cada caso é um caso. A sacralidade do celibato permanece a mesma, sua eficácia depende do compromisso pessoal de quem por ela optou livre e consciente. Inúmeros são os exemplos de homens e mulheres virtuosos que viveram de maneira exemplar o celibato, a vida deles é modelo de esperança nesse sentido.

Aspectos humanísticos do celibato
O celibato é também caminho para o autoconhecimento, sendo assim, o celibato favorece o discernimento vocacional de rapazes e moças que, ao longo do processo formativo para a consagração e a ordenação já se inserem nesse estado de vida, buscando amadurecer suas vidas, mentalidade e afetos por meio da ascese espiritual na mística vocacional celibatária.
Celibato, dentro do Catolicismo, não é imposição! É uma opção e disciplina eclesiástica para um comportamento humano equilibrado diante da prática cotidiana da vocação específica à vida religiosa e sacerdotal.
A genitalidade humana não está esquecida no celibato, ela está presente! Não de maneira erótica e sim pastoral. A pastoralidade da vocação é uma expressão da sexualidade dos consagrados (das) e ordenados. O corpo humano não está sepultado no celibato, ele está presente e atuante, não na sensualidade estética do conquistar sexual e sim na capacidade de colocar todo o vigor e as faculdades humanas em vista da vocação. É isso que realiza e completa existencialmente a vida dos homens e mulheres celibatários em sua integridade corporal.   

Conclusão
São Bernardo de Claraval diz – “Onde o amor emerge, ele supera todos os outros impulsos e sublima-os em amor”. Assim acontece com a sexualidade e o sexo dentro do celibato, os quais emergem livre e consciente do amor intenso pela vocação, de forma que todos os impulsos transcendem a esfera do erótico e sublimam-se na esfera ascética do sagrado na gratuidade vocacional.
 

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