sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A vida humana em relações


 Hermenêutica do corpo I
A natureza da sexualidade e do sexo
Por Marcos Cassiano Dutra

 Introdução
O corpo sempre foi objeto de grandes especulações filosóficas, biológicas e teológicas ao longo dos séculos. Hoje a humanidade especula o corpo a partir da ciência e da tecnologia, dois conhecimentos, um advindo da modernidade e o outro da contemporaneidade histórica. Falar sobre o corpo é falar sobre o ser humano. Nem os corpos celestes e o dos animais chamam tanto a atenção intelectual e estética como a anatomia humana, pois o homem tem em si a necessidade de querer conhecer-se, e o corpo é esse caminho. Corpo que é sexuado. Logo, dizer algo sobre a corporeidade é discorrer a respeito da sexualidade e do sexo.
O corpo e sua profunda interligação com o sexo é não só objeto de estudo e pesquisa como autoconhecimento. É por meio do exercício sexual (quer seja ele genital ou afetivo) que o homem descobre o outro lado de sua humanidade – o desejo e o prazer. Além das qualidades naturais de liberdade e consciência, o homem é dotado de desejos e prazeres. A busca incansável pela felicidade e a realização é o efeito temporal da causa abstrata dos desejos e prazeres, presentes na mente humana.

O desejo e o prazer
Desejar e sentir prazer são, portanto, ações que humanizam, dado que não é ocaso e nem relativo, está envolto pela moralidade e a ética. Sexo e sexualidade não são algo paralelo à moral, antes resultados comportamentais dela. Sexo e sexualidade desmoralizados não produzem a conclusão esperada – o autoconhecimento e equilíbrio das emoções e paixões. Sem moralidade a sexualidade se degrada na ideologia do descartável e o sexo se torna produto do mercado sexual.
É um equívoco afirmar que o prazer se encerra em si mesmo. Isso acontece devido ao sentimento pocessivo-sexual, que é um fenômeno do emocional humano. Nem todas as pessoas têm essa característica. O prazer aqui significa ser presença. A sexualidade torna o homem presença geradora de afetos, de fraternidades e o sexo presença geradora de unidade íntima e vida. Todas as demais faculdades humanas se ligam a área da sexualidade, por que as faculdades humanas são parte daquele cujo corpo é sexuado - o ser humano. Por isso que consciência e liberdade auxiliam para uma sexualidade saudável, visto que ajudam o homem a examinar suas ações sexuais antes, durante e depois.
A repressão dos desejos e prazeres não contribui com a humanização, apenas geram pessoas sexualmente não realizadas. É uma ilusão querer ser gente sem a sexualização natural de seu eu-humano. Reprimir, assim como a desmoralização, desumaniza a genitalidade humana.           Ser humano é ser corpo sexual. Retirar essa identidade específica do homem é esvaziá-lo em sua existência daquilo que lhe é especial. Todas as ações humanas são atitudes sexuais, dado que é por meio da força vital da sexualidade que se constrói a afetividade, que é a capacidade de amar e ser amado, bem como do respeito ao outro que também é humanamente sexual. O moralismo ignora esses aspectos e por isso incrimina a sexualidade e demoniza o sexo. Moralismo é desequilíbrio psicossexual na mesma intensidade da desmoralização, e, como todo desequilíbrio, só desfavorece a própria pessoa humana em seu amadurecimento sexual.

Uma nova perspectiva
Importante saber que a sexualidade não se limita, nem se reduz a relação sexual genital, essa é uma forma distinta de exercício da sexualidade. A sociedade é um convívio de sexualidades, é uma relação de corpos que temporalmente edificam juntos uma história. Logo, a história da humanidade é a história da sexualidade. Portanto, a harmonia entre humanidade e sexualidade é a via saudável que contribui naturalmente para inter-relação consigo e com o próximo.
São oportunas as palavras do pensador cristão Leonardo Boff a esse respeito – “A sexualidade revela o relacionamento e a comunhão entre diferentes. Tal unificação é carregada de sentido, pois a vida se estrutura ao redor da simbiose, de trocas e de comunhão de sentimentos, de materiais e de energias. Esta realidade espelha de forma densa o mistério fontal escondido e sempre se revelando e entrando em comunhão com o diferente” (Livro Cristianismo o mínimo do mínimo, Editora Vozes).
Frente ao erotismo e ao puritanismo (seja ele qual for em suas mais diferentes manifestações), a busca pela compreensão abrangente e coerente do sexo e sexualidade se faz oportuna. Uma antropologia sexual é o desafio atual para aqueles e aquelas que desejam humanizar o caráter sexual do ser humano em sua comunhão natural consigo e com os demais. Sexualidade que possui três formas específicas de manifestação - é erótica, filial e ágape. Sexualidade que é expressão da vida, da natureza, que compõe a existência de um dos seres vivos chamado de humano.

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