sábado, 15 de dezembro de 2012

Celebrando o Ano da Fé



50 anos do Vaticano II
A Igreja que renasce no concílio
Por Marcos Cassiano Dutra



Introdução

            Entre os anos de 1962 a 1965 acontece o Concílio Ecumênico Vaticano II, grande evento eclesial da Igreja no Século XX, o qual comemoramos 50 anos de sua solene abertura. Dezesseis documentos formam o corpo teórico-doutrinal do Vaticano II, dentre eles um merece especial destaque, é a Constituição Dogmática Lumen Gentium, que tratou de um dos temas centrais da reunião conciliar, a Igreja, a eclesiologia, ou seja, o que vem a ser a Igreja, qual seu papel apostólico, missionário e catequético.
            Até então vigorava a tese teológica da “societas perfecta”, fruto da mentalidade advinda dos concílios de Trento e Vaticano I, que concebiam a Igreja como uma sociedade perfeita sem ruga, nem mancha, o reino de Deus institucionalizado que se resumia na hierarquia (papa, bispos, padres). A eclesiologia de comunhão que o Vaticano II assume e difundi, rompe com tal premissa da sociedade perfeita ao chamar a Igreja de santa e pecadora, sempre necessitada e no caminho da conversão. Igreja que não é o reino, porém está a serviço do reino no mundo e por isso mesmo é sacramento de salvação aos homens e mulheres na história.
           
A constituição dogmática conciliar
A Lumen Gentium aponta e recupera o caráter trinitário e comunitário da Igreja “querida pelo Pai, fundada pelo Filho e santificada no Espírito Santo”. Uma Igreja que é sacramental e ao mesmo tempo ministerial, uma Igreja que é hierarquia de dons e carismas e acima de tudo é um mistério sagrado tornado realidade ao se fazer rebanho do Senhor, povo de Deus, já prefigurado no Antigo Testamento em Israel e cristificado no Novo Testamento em Jesus, o qual a funda e firma na rocha da fé de Pedro, escolhido para ser aquele que confirma os irmãos na fé e os Apóstolos, seus Sagrados Pastores no múnus de reger, ensinar e santificar a Grei do Senhor em comunhão com o Sumo Pontífice. Igreja que é uma irmandade de vocacionados que pelo Batismo possuem a mesma dignidade e cidadania eclesial – são cristãos.    
            O bondoso Papa João XXIII (que intuiu e convocou o concílio) assim afirmava – “A Igreja Católica não é um museu de arqueologia. Ela é como a antiga fonte do vilarejo que dá água ás gerações, como a deu áquelas do passado”. Essa frase do beatíssimo papa ressoou de maneira providencial nas discussões que levaram adiante os projetos da Lumen Gentium; afinal o Vaticano II é profundamente marcado pela personalidade do Papa João. A pergunta crucial que ajudou a desenvolver a teologia eclesial desta Constituição Dogmática foi – Igreja, o que dizes de ti mesma?
              Sem dúvida, mais que a liturgia, a eclesiologia do Vaticano II, é a grande responsável pela fisionomia eclesiástica que o providencial concílio assumiu depois de seu encerramento. O rosto da Igreja transfigurou-se, não a partir de elementos exteriores como os costumes terrenos e sim a partir da essência misteriosa e espiritual que envolve a existência da Igreja, que é Cristo. Em Cristo tudo é novo, e, a Igreja nele é sempre nova e atual, pois o Evangelho não se altera se pereniza na história como proposta de uma vida e um mundo diferente em Deus. Assim é a Igreja, “caminha pelo mundo em perene juventude, embora antiga desde a época dos Apóstolos” – realça João XXIII em sua primeira Encíclica “Ad Petri Cathedram”. Assim se concretiza a utopia do “aggiornamento”, da atualização. Entendendo que a tradição é uma fonte que se renova e o depósito da fé como um tesouro de vida do qual brota, de maneira sacramental, o sagrado e não como um baú empoeirado e cheio de quinquilharias, anátemas e excomunhões.
           

Pensar a Igreja hoje com a Lumen Gentium
Dom Aloísio, Cardeal Lorscheider (In Memorian) conclui dizendo – “O Vaticano II não veio para definir e condenar, mas para servir e amar”. O remédio da salvação não é a severidade, e sim a pastoralidade. Vaticano II, primeiro concílio pastoral da história da Igreja, nos apresenta uma face belíssima da Igreja de Cristo ao compreender que a catolicidade não é tão somente cristandade é a comunhão da Igreja consigo mesma e com o mundo, em sua relação apostólico-social com a família humana universal.          
            A Igreja renasce com o Concílio Vaticano II, que propôs um revisitar o núcleo eclesial de onde emana a tradição, isto é, a transmissão da fé, que são as primeiras comunidades cristãs na época dos Apóstolos e posteriormente na época da Patrística. Hoje, cinqüenta anos depois, como redefinir a identidade da Igreja a partir Lumen Gentium? Qual modelo de Igreja está em vigor? Onde se avançou? Em que se retrocedeu? E qual a perspectiva eclesial para o futuro? - são essas as cinco perguntas eclesiológicas pertinentes na celebração do Ano da Fé em ação de graças pelo Concílio Vaticano II.


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