quinta-feira, 17 de maio de 2012

O homem e seus paradigmas


Fragmentos do humano
A perspectiva dos paradigmas da existência
Por Marcos Cassiano Dutra


Segundo o filósofo Martin Heidegger, “o mundo surge diante do homem, aniquilando todas as coisas particulares que o rodeiam para o nada. O homem sente-se assim, como um ser-para-a-morte”. Tal sentimento provoca uma angustia interior no ser, mergulhado constantemente para a busca de sentido em sua vida; nessa busca alucinante, o homem se depara com as múltiplas facetas de suas existência, ou seja, com os fragmentos de seu eu - humano, tão paradigmático e questionador. Bondade e maldade, justiça e injustiça, amor e ódio, esperança e desespero, pecado e salvação... O choque existencial consigo mesmo gera ao primeiro olhar uma revolta interior, porém paulatinamente os paradigmas, apartir do confronto natural, vão amadurecendo no homem as suas potencialidades superativas, que o fazem evoluir da barbárie para o estado civilizatório, alguns acidentes acontecem, nem todos se civilizam, entretanto, a sociedade coopera como estrutura existencial de manutenção da integração entre todos os homens, civilizados e bárbaros.
        
Mesmo evoluído do caráter revoltoso de ser gente, os questionamentos permanecem, pois são parte da essência do ser e o acompanharão por toda vida. Contudo, o tornar-se civilizado ajuda o homem a indagar sem desumanizar-se, a perguntar e procurar de maneira assertiva as possíveis e plausíveis respostas acerca do desenvolvimento da existência, para um equilíbrio saudável da convivência social. O mundo, que anteriormente lhe aniquilou as coisas particulares que o rodeiam para o nada, surge agora como espaço temporal propício para o exercício da racionalidade. O aniquilamento de aspectos da existência ajudam o homem a se auto-conhecer, visto que a vida não é feita somente de vitórias, mas de fracassos também. 
          
Os fragmentos do humano apontam para uma certeza: o homem é um ser em construção, ou seja, não á algo acabado e definitivo, mas uma novidade vivente que se modifica diariamente por meio da inter-relação entre os sentimentos opostos de seu interior. O filósofos pré-socráticos, em especial Heráclito, entendia que a vida é um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem e desordem, bem e mal, belo e feio, construção e destruição, racional e irracional, alegria e tristeza. Essa “guerra” é a mãe e o princípio de tudo, ou seja, pela luta das forças opostas o mundo (e nele o ser) se modifica e evolui. Nessa perspectiva Heraclitiana temos o vir-a-ser do homem dentro do processo perpétuo de movimentação do mundo. Mundo e humanidade são a face da mesma existência: a vida, em seu mistério.
             
Os fragmentos do humano quando unidos, formam o audacioso quebra-cabeça da humanidade, os quais apresentam o retrato dialético do homem frente a si mesmo. A dialética da vida, tão estranha em alguns momentos, permanece como força propulsora da identidade humana, pois como diria Aristóteles – “O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser. O ser se diz em vários sentidos”. Pensar um homem desfragmentado de seus paradigmas é torná-lo um andróide, os fragmentos, isto é, os modos da existência, sozinhos não mostram quem é o ser, todavia apontam para os vários sentidos que lhe dão personalidade.
             
A perspectiva dos paradigmas da existência é estudar o homem para assim propor um humanismo, que não faça reducionismos e sim uma antropologia integrada, a qual possibilite a humanidade um conhecer-se mais amplo e profundo diante das problemáticas contemporâneas do homem pós-moderno em sua angústia filosófico-existencial hodierna no caminho da finitude.
 

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