Fragmentos do humano
A perspectiva dos paradigmas da
existência
Por Marcos Cassiano Dutra
Segundo o
filósofo Martin Heidegger, “o mundo surge diante do homem, aniquilando todas as
coisas particulares que o rodeiam para o nada. O homem sente-se assim, como um
ser-para-a-morte”. Tal sentimento provoca uma angustia interior no ser,
mergulhado constantemente para a busca de sentido em sua vida; nessa busca
alucinante, o homem se depara com as múltiplas facetas de suas existência, ou
seja, com os fragmentos de seu eu - humano, tão paradigmático e questionador.
Bondade e maldade, justiça e injustiça, amor e ódio, esperança e desespero,
pecado e salvação... O choque existencial consigo mesmo gera ao primeiro olhar
uma revolta interior, porém paulatinamente os paradigmas, apartir do confronto
natural, vão amadurecendo no homem as suas potencialidades superativas, que o
fazem evoluir da barbárie para o estado civilizatório, alguns acidentes
acontecem, nem todos se civilizam, entretanto, a sociedade coopera como
estrutura existencial de manutenção da integração entre todos os homens,
civilizados e bárbaros.
Mesmo evoluído do caráter revoltoso de
ser gente, os questionamentos permanecem, pois são parte da essência do ser e o
acompanharão por toda vida. Contudo, o tornar-se civilizado ajuda o homem a
indagar sem desumanizar-se, a perguntar e procurar de maneira assertiva as
possíveis e plausíveis respostas acerca do desenvolvimento da existência, para
um equilíbrio saudável da convivência social. O mundo, que anteriormente lhe
aniquilou as coisas particulares que o rodeiam para o nada, surge agora como espaço
temporal propício para o exercício da racionalidade. O aniquilamento de
aspectos da existência ajudam o homem a se auto-conhecer, visto que a vida não
é feita somente de vitórias, mas de fracassos também.
Os fragmentos do humano apontam para
uma certeza: o homem é um ser em construção, ou seja, não á algo acabado e
definitivo, mas uma novidade vivente que se modifica diariamente por meio da
inter-relação entre os sentimentos opostos de seu interior. O filósofos
pré-socráticos, em
especial Heráclito , entendia que a vida é um fluxo constante,
impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem e desordem, bem e mal, belo
e feio, construção e destruição, racional e irracional, alegria e tristeza.
Essa “guerra” é a mãe e o princípio de tudo, ou seja, pela luta das forças
opostas o mundo (e nele o ser) se modifica e evolui. Nessa perspectiva
Heraclitiana temos o vir-a-ser do homem dentro do processo perpétuo de
movimentação do mundo. Mundo e humanidade são a face da mesma existência: a
vida, em seu mistério.
Os fragmentos do humano quando
unidos, formam o audacioso quebra-cabeça da humanidade, os quais apresentam o
retrato dialético do homem frente a si mesmo. A dialética da vida, tão estranha
em alguns momentos, permanece como força propulsora da identidade humana, pois
como diria Aristóteles – “O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo
exprime o ser. O ser se diz em vários sentidos”. Pensar um homem desfragmentado
de seus paradigmas é torná-lo um andróide, os fragmentos, isto é, os modos da
existência, sozinhos não mostram quem é o ser, todavia apontam para os vários
sentidos que lhe dão personalidade.
A perspectiva dos paradigmas da
existência é estudar o homem para assim propor um humanismo, que não faça
reducionismos e sim uma antropologia integrada, a qual possibilite a humanidade
um conhecer-se mais amplo e profundo diante das problemáticas contemporâneas do
homem pós-moderno em sua angústia filosófico-existencial hodierna no caminho da
finitude.
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