domingo, 5 de agosto de 2012

Qual Igreja queremos?



Uma Igreja popular
Os desafios da eclesiologia hoje
Por Marcos Cassiano Dutra


A Igreja é o corpo místico de Cristo-Cabeça, é a comunidade de fé dos discípulos de Jesus, é a assembléia batismal congregada em nome da Santíssima Trindade, mas é também povo de Deus, como recorda a Lumen Gentium (Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II) que deu uma nova característica à Igreja de Cristo ao reconhecer sua identidade bíblica de ser popular, isto é, povo, cuja pertença está dedicada à Deus, o qual, desde o Antigo Testamento, prefigura a imagem da Igreja no povo de Israel.
             
Hoje, passados cinquenta anos desse Concílio e da difusão do conteúdo da Lumen Gentium, é urgente revisitar suas páginas, a fim de não deixar que ares velhos, de mentalidade eclesiais ultrapassadas, venham embolorar a fisionomia da Igreja de Cristo que é povo de Deus. O preconceito eclesiástico em torno da Igreja, tida como popular, é visível, haja vista a investida litúrgica de movimentos de fiéis e clérigos cujas bandeiras defendidas sobre o catolicismo são, por assim dizer, anacrônicas, fantasiosas e fanáticas.
             
Porque querer reviver um contexto eclesial medieval na época contemporânea, tão distante de tal cultura religiosa? A religiosidade medieval tem sua importância na história da Igreja, todavia não constitui em si a identidade total do catolicismo, antes é uma parte do todo que chamamos história. O que aprender com os cristãos medievais? Sem dúvida alguma o aspecto da contemplação, do mais, tudo é digno de estudo, pesquisa e exposições, mas não de vivência na prática católica hodierna. A piedade cristã contemporânea também tem sua riqueza, valor e importância.
             
Quando se estuda a história da Igreja, lê-se que antes, muito antes do período medieval, dividido em alta e baixa Idade Média, houve o período do cristianismo nascente, das primeiras comunidades cristã, de onde brota a maior parte da Tradição. Período dos doze Apóstolos, de forma especial Pedro e Paulo, colunas espirituais do edifício do Senhor. Que seria da cristandade medieva se não fosse o sangue dos mártires dos primeiros séculos do cristianismo? Que seria de nós hoje se não fosse a Patrística e a Escolástica medieval? Que será o futuro cristão se não houver o hoje de ser católico no tempo e na história? A história tem sua própria dinâmica natural, é um equívoco considerá-la algo paralelo ao homem, pois o homem é um ser histórico e por ser histórico, influencia o curso da história, aprimorando, progredindo e transformando-a.
            
Alegrar e honrar o passado sim, mas não transferi-lo de maneira cultural total para hoje! A sagrada liturgia em si não é uma mera repetição mecanicista de fatos passados e sim a atualização do mistério pascal no memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, então porque querer para no tempo e caducar a Lumen Gentium e o Vaticano II? Quando algo se atualiza, ele se torna sempre novo e próximo de cada época histórica, assim o é o mistério de Cristo, assim o deve ser o catolicismo.
            
Interessantes são as palavras do Beato Papa João XXIII que dizia não ser a Igreja um museu de coisas velhas, mas uma comunidade de comunhão que ontem e hoje oferecem ao mundo, de maneiras específicas, mas uníssonas, o baluarte da fé em Cristo crucificado-ressuscitado.
            
Cristão católico que se envergonha de chamar a Igreja de povo de Deus, ainda não aprendeu o que é ser Igreja de Cristo e muito menos o significado do Batismo, que nos incorpora na Igreja ao tornar-nos povo sacerdotal.
             
Quinquilharias eclesiásticas devem ser descartadas, chega de bolor e poeira! Abramos novamente as janelas de nossas igrejas para que o ar novo do Espírito Santo sopre mais uma vez nesse Ano da Fé pelo jubileu de Ouro do maior acontecimento eclesial do Século XX: O Concílio Ecumênico Vaticano II. Revisitar o Concílio, seus documentos, constituições e decretos, eis a palavra-chave contra todo esse fenômeno religioso que em vão tenta mergulhar a Igreja Católica em mentalidades religiosas tendenciosas, cismáticas, as quais caducam a fé cristã, desencarnando-a da realidade contemporânea, numa fuga das problemáticas que envolvem o homem de hoje em suas angústias existenciais sobre a fé, a família, a sociedade, a política e a própria vida. 

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