As mudanças do ser humano
Uma análise sobre Heráclito e Hegel
Por Marcos Cassiano Dutra
“Não podemos entrar duas vezes no
mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o
mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição” – Há muito tempo
atrás, na história da filosofia antiga, um dos filósofos pré-socráticos disse
isso, seu nome era Heráclito.
Não banhar-se duas vezes no mesmo
rio significa que a vida humana é como uma correnteza, tal qual a água no rio
sempre em movimento (mudança). A essa mutação Heráclito chamou de devir, ou
seja, vir a ser. Em Heráclito o homem é um vir a ser diário. Não é um ser
estático no tempo e na história, mas uma peça essencial na engrenagem da
realidade (passado, presente e futuro).
Entretanto a teoria dele não teve
a mesma influência nos gregos antigos como a teoria de Parmênides, no sentido
de que a realidade é imutável, estática e permanente, e o ser é e não pode não
ser, ao contrário de Heráclito o qual afirmava que tudo se move e por isso se
transforma.
Posterior a Heráclito, outro
filósofo, na contemporaneidade, utilizou da máxima do devir heraclitiano para
constituir sua teoria sobre a dialética da história. Esse filósofo é Hegel. Ele
faz crítica à concepção antiga dos gregos firmada no pensamento de Parmênides,
que considerava como já foi dito, a realidade algo estático e o ser definido.
Para Hegel há uma contradição nessa afirmação, tudo é uma formação contínua, um
permanente processo de modificação que evolui constantemente.
Logo, o homem não se limita a ser
ou não ser, ele é um eterno vir a ser, um movimento contínuo de opostos, que ao
oporem-se formam aquilo que Hegel chama de dialética. Em outras palavras, o ser
é igual a si mesmo e igual ao seu contrário, quer dizer, o ser é a
contraposição de si mesmo. Essa é a base da concepção dialética da realidade em
Hegel, no sentido de que o real não é aquilo já existente desde toda a
eternidade, mas sim um processo transformador da contradição. A realidade é uma
ação mutante que gera transformação existencial e temporal.
É mérito de Hegel a inserção da
racionalidade em um processo ao mesmo tempo real e complexo a partir da
transformação dos contrários, por meio da luta deles entre si e do princípio da
contradição e não da identidade. Ele é o responsável por sistematizar uma
tríade composta de três etapas que formam a dialética:
• Tese: Corresponde a afirmação, que implica na identidade do ser,
a qual se relaciona com a infância do ser racional.
• Antítese: Corresponde à negação, que implica no questionamento do
ser sobre si mesmo (sua identidade), a qual se relaciona com a adolescência do
ser racional.
• Síntese: Corresponde à conclusão, oriunda do discernimento entre
identidade e questionamento. Relaciona-se com a maturidade do ser racional.
Se Heráclito na antiguidade
lançou as bases da mutabilidade da realidade, Hegel na contemporaneidade
identificou essa mutação como sendo dialética. Portanto, ao ler-se tanto um e
outro há alguma possibilidade de lançar conceitos novos embasados das teorias
de ambos os filósofos? Por que ainda hoje a filosofia heraclitiana e hegeliana
é estudada? Ela ainda é capaz de explicar o ser e a história ou não? Que se entende
sobre historicidade na pós-modernidade?
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