segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Francisco e a Igreja dos pobres



Francisco e a Igreja dos pobres
Por Marcos Cassiano Dutra


Já se tornou comum definir o novo Papa Francisco como sendo “o Papa dos pobres”. Essa identificação do sucessor de Pedro com os mais necessitados não é de hoje, vem desde a época apostólica, quando se criou o Óbolo de São Pedro, uma popança cuja finalidade não é obter lucro, mas sim colaborar para com a caridade pessoal do Santo Padre em sua pastoralidade universal de Roma para todo o mundo cristão.
            
Francisco, o primeiro Papa vindo da América Latina, que pastoreava seu rebanho na periferia da América do Sul em Buenos Aires, trouxe para Roma toda a perspectiva evangélica da experiência teológica latino-americana: a opção preferencial pelos pobres, um tanto quanto esquecida por alguns setores da Igreja, mas viva e atuante em outros tantos organismos eclesiais e missionários. Com seu jeito latino de ser pastor, nosso Papa dá um testemunho de simplicidade e ao mesmo tempo de compromisso pela causa do Reino de Deus - a vida em plenitude para todos e todas.

             
Em sua primeira viagem apostólica depois de sua eleição, realizada há poucos dias aqui no Brasil durante a edição da Jornada Mundial da Juventude, quis o Papa se encontrar com os mais pobres na comunidade social e paroquial de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro. Lá visitou a pequena e modesta capela de São Jerônimo Emiliani, visitou a casa de uma família da paróquia e discursou em um campo de futebol para uma platéia de gente simples, mas vivida, sofrida, mas cheia de esperança e amor. Era notória a alegria do Santo Padre em estar junto ao povo e com eles falar, ouvir, ver e tocar, isto é, sentir o cheiro do rebanho. Seu discurso, acompanhado com atenção e entusiasmo pelos presentes, foi um dos mais belos feitos por ele enquanto esteve visitando esse país de um povo que tem coração, como ele mesmo ressaltou em seu primeiro pronunciamento junto à Presidente do Brasil na cerimônia de boas-vindas.
           
             
Fé, esperança e caridade são as três virtudes teologais que santificam a vida do cristão pelo seu exercício contínuo. Eis o que Papa Francisco fez em sua visita a nação brasileira: confirmou-nos na fé, animou-nos na esperança e exortou-nos à caridade que não é assistencialismo, mas sim fraternidade, promoção humana e defesa da vida e dignidade do homem. Nesse sentido, as obras sociais de caridade crista mantidas pela Igreja Católica no Brasil são expressão dessa prática da virtude teologal da caridade. Um cristão que não tem caridade, não tem amor. E o próprio Deus é amor, portanto, sem a pratica da caridade não há nenhum encontro entre a humanidade e o sagrado, pois esse encontro só acontece se houver a dádiva da atitude de amar e ser amado, que perpassa profundamente a relação dos homens entre si na vida social.

            
Assim esclarecia o Papa ao dizer que o progresso de uma nação não se medem pelos índices econômicos, mas sim pela maneira com a qual ela trata seus cidadãos mais pobres e enfermos. Por isso, continuava Francisco, é necessário ir as periferias existenciais, ir ao encontro dos pobres, porque na consumação dos séculos, diante de Deus, não seremos julgados por outra coisa a não ser pela atitude de misericórdia e compaixão que tivemos para com os mais necessitados, destinatários privilegiados do Evangelho nos quais e aos quais o mistério de Deus se revela. São os pobres um dos sinais da presença real de Cristo em nosso meio, hóstias vivas nos altares do cotidiano esperando nossa ação social cristã para que a vida aconteça e viva com saúde e dignidade desde sua concepção até seu natural declínio.           
            
 A ação caritativa da Igreja num contexto geral se deu por meio das Santas Casas de Misericórdia, asilos, educandários e orfanatos. Vários santos e santas fundaram congregações religiosas com essa finalidade de praticar a caridade cristã. Isso não foi diferente no Brasil, no qual a Igreja Católica desempenhou um papel social muito influente e importante, o próprio serviço de assistência social surgiu na Igreja, com as mulheres católicas, foi somente no governo de Getúlio Vargas que ela passou a ser uma ação diretamente do poder público, até então estava nas mãos da religião. A finalidade da caridade cristã não é converter pessoas para o Catolicismo, antes é uma forma de fazer a experiência fundamente do mistério de Cristo presente nos mais sofredores, e garantir-lhe a ajuda necessária quando se fecham as portas para essas situações humanas que merecem atenção redobrada.
           
             
Essa é a Igreja de Francisco, a Igreja pobre com os pobres e para os pobres. Longe de ser uma santificação da miséria, pois a miséria é um problema humano e não vontade divina, é o retrato de nossa maldade que faz desigualdade entre pessoas dividindo-as em classes econômicas. Uma Igreja pobre é uma Igreja despojada da ambição e da ganância, e repleta de amor e compaixão, uma Igreja ciente de sua missão de ser sinal vivo e atuante da presença de Cristo que transforma a realidade no projeto do Reino de Deus.

 

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