Qual é a Igreja de Francisco?
Por Marcos Cassiano Dutra
O entusiasmo
gerado pela visita do Papa Francisco ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial
da Juventude fez emergir nos fiéis um sentimento de alegria pela pertença a
essa Igreja chefiada pelo novo pontífice, e, nos não-católicos a esperança de
rumos diferentes para a instituição eclesiástica nesse atual pontificado.
A popularidade da imagem de
Francisco dentro e fora do ambiente religioso é uma característica que
favorece, até o presente momento, o seu pastoreio, e poderá contribuir para com
seu programa eclesiástico de ação interna na hierarquia, especialmente na cúria
romana, bem como em sua ação externa na comunidade internacional, por meio de
um jeito muito peculiar de fazer diplomacia política.
Que Francisco assinala um tempo novo para o Catolicismo, isso é fato.
Agora, se será uma revolução como especulam estudiosos e jornalistas, é outra
história, até porque é muito cedo para se inferir algo, visto que é necessário
se perguntar o que os especuladores entendem por revolução e mesmo por reforma
dentro da Igreja?
A primeira Encíclica do pontificado
de Francisco, cuja formulação começou com o Papa emérito Bento XVI, fala sobre
a fé, tanto que seu titulo latino é “Lumen Fidei”, a luz da fé. Com a
promulgação deste documento, o Santo Padre já imprime um dos pilares de seu
papado – a preocupação com a vivência da fé cristã, e por consequência da fé, a
vida do cristão. Uma preocupação que não é novidade, pois também norteou o
pontificado de seu predecessor, o teólogo e cardeal germânico Joseph Ratzinger. Portanto, aos que fazem comparações
exteriores entre Francisco e Bento XVI, eis aí o sinal de uma continuidade
teológico-pastoral entre sucessor e antecessor no desempenho do ministério
petrino de Bispo de Roma e Patriarca da Igreja Ocidental.
Desta forma não há rupturas, como
assim o querem os especuladores, mas a continuidade fecunda de uma teologia da
fé que se suscitou na piedade de Karol Wojtyla, sistematizou-se nos estudos de
Ratzinger e agora crescerá na pastoralidade de Bergoglio. É tendencioso e mesmo
sensacionalista considerar o estilo simples e austero da personalidade de
Francisco como ações reformistas com vias ao deprezo pelos costumes e vestes
eclesiásticas, ele mesmo já afirmou que é uma questão de personalidade.
Há certa tentativa impulsiva da
mídia de transformar o Papa Francisco em um revolucionário do Cristianismo sem
compreender a inteireza de sua mensagem e dos seus pequeno-grandes gestos de
simplicidade evangélica. O Cristianismo não começou e nem termina com a pessoa
do Papa, ele apenas segue o seu caminho, sendo sempre visivelmente pastoreado
pelo Vigário de Cristo na terra, o qual, escolhido pelo Espírito Santo que
suscitou seu nome no voto dos cardeais em conclave, preside na caridade e
infalibilidade o colégio apostólico e a Igreja num contexto universal, a fim de
confirmar os irmãos na fé herdada dos Apóstolos, do qual Cristo é fundador e
fundamento por excelência, e ao qual toda a Igreja deve permanecer fiel.
A reforma do pontificado do primeiro
Papa latino-americano será a restauração da identidade cristã da catolicidade
da Igreja, especialmente no que tange a opção preferencial pelos pobres, tidos
pelos grandes santos e santas da Igreja, como Santo Ambrósio de Milão, o
tesouro vivo da Igreja de Cristo. Outro aspecto é o “aggiornamento”
(atualização), palavra profética utilizada por Ângelo Roncalli (João XXIII)
para definir a espiritualidade do Concílio Ecumênico Vaticano II por ele aberto
solenemente há cinquenta anos atrás. O decreto direto de sua canonização, feito
por Francisco sem a necessidade de um milagre e a ser realizado nas celebrações
de conclusão do Ano da Fé em vigor, é um sinal evidente do caminho pastoral que
Francisco quer adotar em seu papado, tal qual a Lumen Fidei sinaliza o caminho
teológico e mesmo dogmático desse pontificado que está apenas começando.
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