segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Qual é a Igreja de Francisco? Parte I



Qual é a Igreja de Francisco?
Por Marcos Cassiano Dutra


O entusiasmo gerado pela visita do Papa Francisco ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude fez emergir nos fiéis um sentimento de alegria pela pertença a essa Igreja chefiada pelo novo pontífice, e, nos não-católicos a esperança de rumos diferentes para a instituição eclesiástica nesse atual pontificado.
             
A popularidade da imagem de Francisco dentro e fora do ambiente religioso é uma característica que favorece, até o presente momento, o seu pastoreio, e poderá contribuir para com seu programa eclesiástico de ação interna na hierarquia, especialmente na cúria romana, bem como em sua ação externa na comunidade internacional, por meio de um jeito muito peculiar de fazer diplomacia política.
              
Que Francisco assinala um tempo novo para o Catolicismo, isso é fato. Agora, se será uma revolução como especulam estudiosos e jornalistas, é outra história, até porque é muito cedo para se inferir algo, visto que é necessário se perguntar o que os especuladores entendem por revolução e mesmo por reforma dentro da Igreja?
             
A primeira Encíclica do pontificado de Francisco, cuja formulação começou com o Papa emérito Bento XVI, fala sobre a fé, tanto que seu titulo latino é “Lumen Fidei”, a luz da fé. Com a promulgação deste documento, o Santo Padre já imprime um dos pilares de seu papado – a preocupação com a vivência da fé cristã, e por consequência da fé, a vida do cristão. Uma preocupação que não é novidade, pois também norteou o pontificado de seu predecessor, o teólogo e cardeal germânico Joseph Ratzinger.  Portanto, aos que fazem comparações exteriores entre Francisco e Bento XVI, eis aí o sinal de uma continuidade teológico-pastoral entre sucessor e antecessor no desempenho do ministério petrino de Bispo de Roma e Patriarca da Igreja Ocidental.
             
Desta forma não há rupturas, como assim o querem os especuladores, mas a continuidade fecunda de uma teologia da fé que se suscitou na piedade de Karol Wojtyla, sistematizou-se nos estudos de Ratzinger e agora crescerá na pastoralidade de Bergoglio. É tendencioso e mesmo sensacionalista considerar o estilo simples e austero da personalidade de Francisco como ações reformistas com vias ao deprezo pelos costumes e vestes eclesiásticas, ele mesmo já afirmou que é uma questão de personalidade.
             
Há certa tentativa impulsiva da mídia de transformar o Papa Francisco em um revolucionário do Cristianismo sem compreender a inteireza de sua mensagem e dos seus pequeno-grandes gestos de simplicidade evangélica. O Cristianismo não começou e nem termina com a pessoa do Papa, ele apenas segue o seu caminho, sendo sempre visivelmente pastoreado pelo Vigário de Cristo na terra, o qual, escolhido pelo Espírito Santo que suscitou seu nome no voto dos cardeais em conclave, preside na caridade e infalibilidade o colégio apostólico e a Igreja num contexto universal, a fim de confirmar os irmãos na fé herdada dos Apóstolos, do qual Cristo é fundador e fundamento por excelência, e ao qual toda a Igreja deve permanecer fiel.
             
A reforma do pontificado do primeiro Papa latino-americano será a restauração da identidade cristã da catolicidade da Igreja, especialmente no que tange a opção preferencial pelos pobres, tidos pelos grandes santos e santas da Igreja, como Santo Ambrósio de Milão, o tesouro vivo da Igreja de Cristo. Outro aspecto é o “aggiornamento” (atualização), palavra profética utilizada por Ângelo Roncalli (João XXIII) para definir a espiritualidade do Concílio Ecumênico Vaticano II por ele aberto solenemente há cinquenta anos atrás. O decreto direto de sua canonização, feito por Francisco sem a necessidade de um milagre e a ser realizado nas celebrações de conclusão do Ano da Fé em vigor, é um sinal evidente do caminho pastoral que Francisco quer adotar em seu papado, tal qual a Lumen Fidei sinaliza o caminho teológico e mesmo dogmático desse pontificado que está apenas começando.
 

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