segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Qual a essência da teologia católica?



Teologia por que e para quê?
Por Marcos Cassiano Dutra


"A Teologia é uma ciência 'de joelhos'". Assim definia o teólogo Hans Urs Von Balthasar (1905-1988), quando indagado sobre o que viria a ser o pensamento teológico católico? Para ele a teologia deve estar sempre ligada à espiritualidade, caso contrário se restringirá a uma análise tão somente sistemática da fé, esquecendo-se daquilo que a move e faz ser mistério: o sagrado. E, na esfera do sagrado, está à adoração, a oração, portanto, a espiritualidade, que é uma maneira própria e bem vinda de se compreender a crença.

             
De fato não há teologia católica que seja fiel ao Evangelho de Cristo e a doutrina herdada dos Apóstolos sem o caráter espiritual que a favorece em seu estudo. Isto, muito tempo antes de Von Balthasar, o grande Agostinho de Hipona já expressava ao dizer: creio para entender, entendo para crer, isto é, sem o crer, que aqui denota a interação espiritual entre o intelectum fidei e o mistério de Deus, não há perspectiva coerente no campo teológico, a qual realmente transmita a essência das verdades de fé e as estudem dentro da sistematicidade científica da teologia.

             
Isso ao longo da história da Igreja foi debatido entre as escolas bíblicas de Alexandria e Antioquia no que tange a interpretação literal e a interpretação alegórica da Sagrada Escritura. Para a primeira bastava tão somente entender o sentido literal das palavras dos textos sagrados, já para a segunda, era preciso ir além do sentido literal e compreender as entrelinhas das expressões de linguagem usadas na escrita dos textos sagrados, buscando assim o seu sentido espiritual.

            
 Agostinho é quem irá, posteriormente, fazer a conciliação entre uma e outra perspectiva hermêutica cristã dos textos sagrados, por meio de sua teologia agostiniana da iluminação divina, do mestre interior (De Magistro) que ajuda-nos a entender nos textos sagrados, que possuem uma linguagem humana (histórica), os significados da linguagem divina (mistagógica) lá expressos, partindo primeiro da compreensão literal das palavras a fim de chegar ao entendimento do sentido espiritual nelas expresso.

             
Mas o que isso tudo tem haver com a teologia católica na contemporaneidade? Isso tudo transmite um desejo importante: que o pensamento teológico não perca sua essência. O diálogo com as demais ciências é bem-vindo e favorece o estudo da teologia, são instrumentais auxiliadores. Todavia, a teologia católica primeiramente deve deixar-se auxiliar pela espiritualidade cristã, caso contrário deixará seu foco principal e se reduzirá a interpretações teológicas equivocadas e que não correspondem a função própria da teologia: colaborar para a compreensão dos mistérios da fé e favorecer a prática evangélica da vida cristã.

             
Hoje a teologia católica observa isso? O que lhe falta para ser mais teológica e menos cientificista? O que mais atrapalha o desenvolvimento da teologia católica, a arrogância de alguns de seus intelectuais ou a hipocrisia de outros alguns na hierarquia, os quais aprisionam o pensamento teológico? Existe a possibilidade de comunhão nesse caso ou isso é apenas uma demagogia acadêmico-eclesial?
 

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