Teologia por que e para quê?
Por Marcos Cassiano Dutra
"A Teologia é uma ciência
'de joelhos'". Assim definia o teólogo Hans Urs Von Balthasar (1905-1988),
quando indagado sobre o que viria a ser o pensamento teológico católico? Para
ele a teologia deve estar sempre ligada à espiritualidade, caso contrário se
restringirá a uma análise tão somente sistemática da fé, esquecendo-se daquilo
que a move e faz ser mistério: o sagrado. E, na esfera do sagrado, está à
adoração, a oração, portanto, a espiritualidade, que é uma maneira própria e
bem vinda de se compreender a crença.
De
fato não há teologia católica que seja fiel ao Evangelho de Cristo e a doutrina
herdada dos Apóstolos sem o caráter espiritual que a favorece em seu estudo.
Isto, muito tempo antes de Von Balthasar, o grande Agostinho de Hipona já
expressava ao dizer: creio para entender, entendo para crer, isto é, sem o
crer, que aqui denota a interação espiritual entre o intelectum fidei e o
mistério de Deus, não há perspectiva coerente no campo teológico, a qual
realmente transmita a essência das verdades de fé e as estudem dentro da
sistematicidade científica da teologia.
Isso
ao longo da história da Igreja foi debatido entre as escolas bíblicas de
Alexandria e Antioquia no que tange a interpretação literal e a interpretação
alegórica da Sagrada Escritura. Para a primeira bastava tão somente entender o
sentido literal das palavras dos textos sagrados, já para a segunda, era
preciso ir além do sentido literal e compreender as entrelinhas das expressões
de linguagem usadas na escrita dos textos sagrados, buscando assim o seu
sentido espiritual.
Agostinho
é quem irá, posteriormente, fazer a conciliação entre uma e outra perspectiva
hermêutica cristã dos textos sagrados, por meio de sua teologia agostiniana da
iluminação divina, do mestre interior (De Magistro) que ajuda-nos a entender
nos textos sagrados, que possuem uma linguagem humana (histórica), os
significados da linguagem divina (mistagógica) lá expressos, partindo primeiro
da compreensão literal das palavras a fim de chegar ao entendimento do sentido
espiritual nelas expresso.
Mas
o que isso tudo tem haver com a teologia católica na contemporaneidade? Isso
tudo transmite um desejo importante: que o pensamento teológico não perca sua
essência. O diálogo com as demais ciências é bem-vindo e favorece o estudo da
teologia, são instrumentais auxiliadores. Todavia, a teologia católica
primeiramente deve deixar-se auxiliar pela espiritualidade cristã, caso
contrário deixará seu foco principal e se reduzirá a interpretações teológicas
equivocadas e que não correspondem a função própria da teologia: colaborar para
a compreensão dos mistérios da fé e favorecer a prática evangélica da vida
cristã.
Hoje
a teologia católica observa isso? O que lhe falta para ser mais teológica e
menos cientificista? O que mais atrapalha o desenvolvimento da teologia
católica, a arrogância de alguns de seus intelectuais ou a hipocrisia de outros
alguns na hierarquia, os quais aprisionam o pensamento teológico? Existe a
possibilidade de comunhão nesse caso ou isso é apenas uma demagogia
acadêmico-eclesial?
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