sábado, 10 de setembro de 2011

As romarias ontem e hoje

Romaria e vida cristã
Por Marcos Cassiano Dutra

Outubro é o mês do rosário e para os brasileiros mês de Nossa Senhora Aparecida, dado que sua festa litúrgica celebra-se no dia 12. O rosário e Maria Santíssima são dois sinônimos de fé, um de oração e o outro de santidade, fazem parte do conjunto religioso presente no catolicismo doméstico dos fiéis. A reza do terço e a devoção mariana são uma herança cultural portuguesa, enraizada na autenticidade religiosa do povo brasileiro desde sua colonização. Ao se falar sobre oração e Maria, é impossível não citar as romarias, que de Norte a Sul deste País sempre estão presentes durante cada ano no Santuário Nacional, rezando aos pés da Mãe do céu morena. “A centralidade que ocupa a maternidade de Maria nos momentos históricos da incorporação da fé na América Latina é um dado que perdura na piedade popular e, consequentemente, na teologia popular desses povos” (Padre Julio Caprani, MIPK)   
De maneira particular, no Brasil, as romarias foram de fundamental importância na construção da identidade devocional a Nossa Senhora Aparecida. É por meio das romarias que vinham à Aparecida apartir do ano 1900 que se iniciou a composição dos grandes e tradicionais hinos à Padroeira, os quais revelam uma riqueza de fé, oração e harmonia como o popularmente hino Daí-nos a bênção, ó mãe querida. Par se entender o fenômeno das romarias, é necessário uma análise bíblica, histórica e eclesial, visto que somente assim se consegue compreender o valor espiritual nelas contida.
Na Bíblia o termo utilizado não é romaria (este surge posteriormente), mas peregrinação. A peregrinação tem um sentido escatológico interessante na dinâmica da História da Salvação; sentido esse de desapego terreno, união e obediência ao Senhor, característica religiosa judaica (peregrinação a Jerusalém), bem como sinal de libertação. Dentro do contexto bíblico, o pretexto da peregrinação é significar a caminhada do povo de Deus sob a guia do Deus do povo, que acontece por meio dos profetas, dos escolhidos de Deus. Um dos livros da Sagrada Escritura que ressaltam bem essa particularidade é o Livro do Êxodo. Caminhada do povo da Aliança, hora festiva, hora penosa, porém envolvida por um mistério maior: os desígnios de Javé.
O cristianismo tem como referência de fé a peregrinação do povo da Antiga Aliança, pois os cristãos são o povo da Nova Aliança, co-herdeiros do conteúdo teológico do Antigo Testamento que se cumpre plenamente no Novo. Também caminha sob a guia de Deus em seu Messias Jesus, por meio de seus Apóstolos, de maneira especial o Sucessor de Pedro, o Papa que os confirmam na fé. Antiga e Nova Aliança formam juntas um só povo de Deus no ontem e hoje da Revelação, povo que acreditou na promessa divina e povo sacerdotal pelo Batismo. Tendo, portanto como modelo fideístico a jornada hebraica, os cristãos primitivos iniciaram uma tradição religiosa que se ampliou, com o passar dos séculos, para todo o mundo cristão. Inicialmente começou como uma viagem a Roma para rezar diante dos túmulos de Pedro e Paulo, por isso o nome romaria (ir a Roma). A romaria, ao longo da história da Igreja, consolidou-se no coração dos fiéis como profunda expressão da piedade cristã, não se limitando a Cidade Eterna e sim a todos os demais lugares santos, onde a própria Igreja reconhece que Deus manifesta mais visivelmente sua graça e benevolência, como os diversos santuários. 
Contemporaneamente, no século XX as romarias ganharam um sentido penitencial e mariano oportuno, um arquétipo disso é o Santuário dedicado a Nossa Senhora de Fátima em Portugal, cuja devoção está próxima de completar seu centenário e despertou e desperta até hoje a atenção não só dos portugueses, mas de outros povos e também dos próprios Papas, principalmente do agora Beato João Paulo II, o qual foi um Pontífice marcadamente mariano e devoto da Virgem de Fátima.
A romaria é importante no contexto religioso cristão no sentido de que ajuda o fiel na prática dos valores evangélicos em sua vida cotidiana, sem tal significado ela perde sua essência devocional. Quem após uma romaria bem feita não regressou para casa mais cheio do amor de Deus? Quando se entende o real motivo de se fazer uma romaria, se vive a fé cristã de maneira virtuosa, alimentando a espiritualidade na mística do fazer-se romeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário