terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ecumenismo e Diálogo inter-religioso

Religião e religiões
Autor: Marcos Cassiano Dutra

A palavra religião, em sua etimologia, significa religar, religar no aspecto da crença o homem ao divino (transcendente). É interessante aplicar tal significado da palavra religião a partir delas para com seus fiéis; difícil, ou melhor, desafiante é aplicar o mesmo significado de religião para religião, por quê? Por que ainda há implicitamente preconceitos e ortodoxias ideológicas, segregatórias de outras formas próprias de expressão religiosa em outras culturas. Se todas as religiões se religarem no algo essencial que as alimentam, buscando um maior respeito e diálogo, certamente a realidade hodierna seria mais bem interpretada pelas doutrinas religiosas diante do manifestar dos sinais dos tempos.
            
Enquanto houver puritanismo religioso alienante, continuará crescendo entre os homens a crise religiosa que hoje afeta não só ateus, mas crentes também. A secularização é um sinal visível de que as religiões devem se questionar quanto ao ecumenismo e diálogo inter-religioso entre elas.
            
Vários são os discursos e documentos a esse respeito, porém poucas ações concretas nessa vida de unidade na diversidade. Há o medo de perda da identidade no contato com outra religião e doutrina. Se realmente existe uma identidade religiosa, ela não se perderá ou deteriorará no diálogo com outras religiões que pensam e celebram diferente o divino, pelo contrário, ela se fortalecerá e o conhecimento do universo religioso se ampliará e, quanto mais amplo, menos alienado e ideologizado.
            
O sincretismo religioso não é uma maldição ou ação demoníaca que cerceia a fé de uma religião em detrimento celebrativo de outra. A sincretização é um elemento cultural dinâmico que busca, ao seu modo particular e livre, unir a riqueza religiosa das religiões dentro de uma prática devocional popular comum, ou seja, um aspecto antropológico de uma teologia popular a ser estudada e entendida, dado que é um princípio de inculturação, elemento presente também na história de várias religiões, inclusive o cristianismo, quando se diz que os cristãos cristianizaram tal festa pagã ou judaica, bem como conceitos filosóficos gregos e modelos estruturais dos romanos.
            
O laicismo contemporâneo interroga a capacidade dialogal das religiões entre si, porque é o efeito visível e concreto de uma causa anterior: a intolerância religiosa, que fez ao longo da história, em nome de civilizações, vários conflitos em nome da “fé”, da “converção” e da “salvação’ de outros povos considerados pagãos ou bárbaros. As atrocidades religiosas, paulatinamente, foram causando no próprio homem uma aversão da religião, por causa do distanciamento gritante entre a doutrina e as práticas religiosas. Portanto, o relativismo que a sociedade vive hoje, antes de ser uma produção cultural pós-moderna, é um fenômeno iniciado dentro dos ambientes religiosos.
            
Fala-se muito sobre o progresso político, científico, educacional, moral e humano, porém nada se argumenta acerca do progresso religioso, que também está inserido nessa realidade progressista, porque é parte integrante do corpo social. Entenda-se progresso religioso não como ruptura da identidade religiosa (tradição) e sim desenvolvimento, desenvolvimento que, segundo Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio, de 1967, é o novo nome da paz. As religiões, por índole, são fomentadoras dessa paz no homem, paz que também se deve fazer presente entre todas elas. 
            
Considera inválido o conteúdo abordado quem ainda não compreendeu que cada religião é portadora de um tesouro comum a ser partilhado por meio do respeito: a fé. Uma pessoa de fé madura, uma religião de fé madura, jamais faz acepção religiosa, porque está além do preconceito, está além de seu tempo, porque, como diria a mitologia grega, não está presa na escuridão da caverna, olhando as imperfeições dos vultos, mas fora, contemplando a beleza real daquilo que a cerca.

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