sábado, 10 de setembro de 2011

Cristologia da Revelação

A Revelação e sua relação com o ser humano
Por Marcos Cassiano Dutra

Revelação é a inspiração sobrenatural com que Deus faz conhecer seus mistérios, seus desígnios. É também manifestação de qualidades numa pessoa. Todo este caráter revelador, transcendente na ótica cristã, está profundamente ligado a história da salvação, envolvendo todo o texto, contexto e pretexto no qual ela desenvolve-se. É por iniciativa própria que Javé revela-se, isto é, se dá a conhecer, dentro do processo bíblico. Para tanto, o Deus da Bíblia (Deus revelador) construtivamente vai se revelando ao ser humano utilizando distintas formas revelativas de sua benevolência onisciente, onipresente e onipotente.
           
Outrora se revelou na criação, posteriormente pelos patriarcas, profetas e autores dos livros sagrados. Na plenitude dos tempos, apresenta-se a criatura humana na divindade do Messias enviado, tornando-se Deus conosco. Entretanto o que o faz ser Deus conosco? A teologia cristã reponde essa questão ao dizer que é sua capacidade de se fazer homem, humano. E o fez de maneira singular em Jesus de Nazaré, “rosto humano de Deus e rosto divino do homem”. Jesus é a expressão máxima da revelação no meio do povo da Aliança, povo de Deus, o qual traz consigo muitas mazelas e pecados, porém grandes qualidades e valores culturais que o próprio Cristo exercitou.
           
Todos os valores humanos, de amor, bondade, justiça, etc., presentes em várias culturas desde tempos remotos, ganharam maior significado e expressividade humanística por meio do mistério da encarnação. Quando o Verbo (lógos) Divino se fez homem, as qualidades humanas que existiam nos momentos históricos anteriores a ocasião ápice da revelação, passaram a serem plenamente atuantes e importantes na história do homem pela figura teofânica do homem de Nazaré, Jesus Cristo. 
           
Cada qualidade humana, paulatinamente, foi-se cristificando nos gestos, palavras e ações de nosso Senhor; alcançando desta forma uma abrangência maior como virtudes teologais e cardeais, que a Igreja, munida do Espírito Santo, assim identificou e a Tradição interpretou como arquétipos de uma vida humana e cristã virtuosa. Os valores humanos são, portanto, instrumentais da antropologia teológica utilizada por Deus em sua revelação. Por quê? Por que a linguagem humana é o meio mais expressivo de se transmitir a mensagem divina, dentro do processo cristocêntrico de consolidação total da obra criada: a redenção.
           
A redenção é o fator motivacional da revelação que vai acontecendo na história sagrada. É a premissa fundamental de uma essência divina que anseia salvar a humanidade, tornando-se aparente em Jesus Cristo, Deus verdadeiro e homem verdadeiro, o qual conclui o projeto salvífico, “aquele em quem a pessoa e a obra são idênticos” (Livro Introdução ao Cristianismo, Cardeal Ratzinger); Idênticos em personalidade e obra no aspecto de que Ele (Jesus) é a própria pessoa de Deus, porque é Filho de Deus e Deus igual ao Pai. É a obra em si porque é a própria redenção e o Reino.
           
Jesus Cristo, pessoa humano-divina, de qualidades humanas e celestiais, centro da fé cristã e da Sagrada Escritura, que reconhecem Jesus de Nazaré como o ser humano exemplar, o novo e último Adão, o qual nos dá o bom fruto da vida eterna que brota da frutífera árvore de sua Santa Cruz.     
           
A característica intrínseca do ser humano é sua capacidade de superação, isto é, torna-se mais humano à medida em que ultrapassa seus próprio limites. Cristo é verdadeiro Deus e homem porque ultrapassou os limites humanos do pecado e da morte, do animalesco e do lógico, ao hominizar Deus, alcançando assim o objetivo principal de sua humanização – revelar quem é Deus ao homem que pergunta: Deus, onde estás?   

Nenhum comentário:

Postar um comentário