segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vaticano II


50 anos do Vaticano II
A Igreja Católica depois do Concílio
Por Marcos Cassiano Dutra

Segundo o Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, “O Vaticano II foi um concílio orientado para a vivência da fé, da esperança e da caridade”, que são as três virtudes teologais importantes para a santificação e salvação do ser humano.
             
Para se entender e estudar o perfil de Igreja que o concílio apresenta aos cristãos e ao mundo é necessário ler duas das quatro constituições que o norteiam – a Lumen Gentium (Constituição Dogmática) e a Gaudium et Spes (Constituição Pastoral). Sem a leitura de ambos os documentos é impossível compreender a eclesiologia e a pastoralidade do Vaticano II, visto que ele é um concílio pastoral-eclesiológico, ou seja, diz respeito à Igreja enquanto comunidade cristã e a sua relação dialogal com a atualidade (o mundo).
            
A Lumen Gentium retoma o caráter da natureza cristológica da Igreja, aonde Cristo é seu centro e cabeça, bem como redescobre a Igreja enquanto povo de Deus no hoje da história. Igreja que outrora encontra-se prefigurada no povo de Israel na Antiga Aliança, imagem antigo-testamentária do que em Cristo se torna a Igreja.
             
A Gaudium et Spes apresenta um novo jeito eclesial de ser Igreja no mundo, rompendo com a antiga mentalidade de demonização da realidade e combate a modernidade e a ciência, procurando agora conversar maternalmente com o mundo ao invés de condená-lo – “As alegrias e as esperanças dos seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes).
             
O Cardeal Dom Aloísio Lorscheider (In memorian) faz uma eloquente síntese do que é o Concílio Ecumênico Vaticano II, ao dizer – “O Vaticano II faz-nos passar de uma Igreja-instituição ou de uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja-pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja toda ela missionária”.
             
Hoje, 50 anos depois do início desse providencial concílio, vale a pena revisitá-lo, especialmente como ponto de referência diante de fenômenos religiosos que atualmente descaracterizam o catolicismo, profanando o sagrado e incutindo nos fiéis uma mentalidade religiosa pentecostalista que por índole não é católica e muito menos fundamentada na riqueza eclesial e pastoral dos dezesseis documentos conciliares. 
             
O desafio de resgatar o ânimo profético que suscitou e desenvolveu o Vaticano II é tarefa árdua e pertinente, haja vista os rumos futuros que a Igreja Católica Apostólica Romana pode tomar se não abrir seus olhos aos sinais dos tempos hodiernos, que questionam sua eclesialidade vigente e sua homilia deficiente, tão distante na prática daquilo que o Vaticano II almejou em suas utopias e projetos.

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