50 anos do Vaticano II
A Igreja Católica depois do
Concílio
Por Marcos Cassiano Dutra
Segundo o Cardeal Dom Geraldo
Majella Agnelo, “O Vaticano II foi um concílio orientado para a vivência da fé,
da esperança e da caridade”, que são as três virtudes teologais importantes
para a santificação e salvação do ser humano.
Para
se entender e estudar o perfil de Igreja que o concílio apresenta aos cristãos
e ao mundo é necessário ler duas das quatro constituições que o norteiam – a
Lumen Gentium (Constituição Dogmática) e a Gaudium et Spes (Constituição
Pastoral). Sem a leitura de ambos os documentos é impossível compreender a
eclesiologia e a pastoralidade do Vaticano II, visto que ele é um concílio
pastoral-eclesiológico, ou seja, diz respeito à Igreja enquanto comunidade
cristã e a sua relação dialogal com a atualidade (o mundo).
A
Lumen Gentium retoma o caráter da natureza cristológica da Igreja, aonde
Cristo é seu centro e cabeça, bem como redescobre a Igreja enquanto povo de
Deus no hoje da história. Igreja que outrora encontra-se prefigurada no povo de
Israel na Antiga Aliança, imagem antigo-testamentária do que em Cristo se torna
a Igreja.
A
Gaudium et Spes apresenta um novo jeito eclesial de ser Igreja no mundo,
rompendo com a antiga mentalidade de demonização da realidade e combate a
modernidade e a ciência, procurando agora conversar maternalmente com o mundo
ao invés de condená-lo – “As alegrias e as esperanças dos seres humanos de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium
et Spes).
O
Cardeal Dom Aloísio Lorscheider (In memorian) faz uma eloquente síntese do que
é o Concílio Ecumênico Vaticano II, ao dizer – “O Vaticano II faz-nos passar de
uma Igreja-instituição ou de uma Igreja-sociedade perfeita para uma
Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma
Igreja-poder para uma Igreja-pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja
piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja
santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma
Igreja-cristandade para uma Igreja toda ela missionária”.
Hoje,
50 anos depois do início desse providencial concílio, vale a pena revisitá-lo,
especialmente como ponto de referência diante de fenômenos religiosos que
atualmente descaracterizam o catolicismo, profanando o sagrado e incutindo nos
fiéis uma mentalidade religiosa pentecostalista que por índole não é católica e
muito menos fundamentada na riqueza eclesial e pastoral dos dezesseis
documentos conciliares.
O
desafio de resgatar o ânimo profético que suscitou e desenvolveu o Vaticano II
é tarefa árdua e pertinente, haja vista os rumos futuros que a Igreja Católica
Apostólica Romana pode tomar se não abrir seus olhos aos sinais dos tempos
hodiernos, que questionam sua eclesialidade vigente e sua homilia deficiente,
tão distante na prática daquilo que o Vaticano II almejou em suas utopias e
projetos.
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