segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Uma proposta de comunhão e catolicidade


Conservador ou progressista:
Qual modelo de Igreja queremos?
Por Marcos Cassiano Dutra
                                                                                               

 
Ao celebrar os 50 anos de abertura solene do providencial Concílio Ecumênico Vaticano II se faz o oportuno um questionamento, cuja finalidade é um frutuoso exame de consciência acerca da Igreja ontem, hoje e amanhã. Qual modelo de Igreja queremos? Dentro do ambiente eclesiástico a duas tendências históricas que se divergem – os conservadores e os progressistas. Cada qual com seus argumentos prós e contrários as mais distintas temáticas nos quesitos fé, moral e pastoral.
           
A Igreja, uma realidade dialética entre conservadores e progressistas

            A Igreja é uma realidade humano-divina, assistida por Deus Pai em seu Espírito Santo, congregada por homens e mulheres em Cristo. Por ser visivelmente uma comunidade humana, A Igreja está naturalmente sujeita ao senso crítico do homem que, como ser racional, pensa sobre a religião, afinal é parte integrante dela e dado que a hierarquia é composta por pessoas que exercem um ministério pastoral específico outorgado por Cristo em favor de sua Grei, e, desta forma têm a tríplice função sacramental de reger (governar) ensinar (catequisar) e santificar (celebrar os sacramentos) o povo de Deus.
            Nessa missão de pastorear o Rebanho do Senhor aparecem as duas mentalidade e modelos eclesiais – os conservadores, que defendem o caráter mistagógico (misterioso) da Igreja, a clericalidade e a sacralidade litúrgica e a imutabilidade das verdades de fé (dogmas) por meio do respeito perene à tradição e à obediência hierárquica. E os progressistas, que defendem o caráter comunitário da Igreja (povo de Deus), a comunitariedade da ação litúrgica, uma pastoral mais próxima das necessidades da atualidade e à tradição como sendo uma fonte que se renova.
            Ambas as mentalidades e modelos estiveram presentes no Concílio Vaticano II e foram cruciais na elaboração e aprovação de determinados documentos, isso conferiu ao concílio uma grande riqueza, visto que conservadores e progressistas, embora sejam diferentes em certas opiniões, numa desejam a mesma coisa: o bem da Igreja. Eis o elemento comum para a comunhão entre eles.



As divergências e o caminho da comunhão

            Todavia nem sempre os caminhos e posturas eclesiásticas e pastorais adotadas foram os melhores, mais assertivos e prudentes, e isso deve ser estudado, examinado, discutido intelectualmente e não ignorado ou mesmo repudiado como praga que destrói a Igreja ou a faz retroceder, afinal a história é o melhor juiz natural dos fatos históricos, sejam eles virtuosos ou não e também que certas medidas são de competência da Santa Sé, nenhum cristão seja clérigo ou fiel deve se fazer juiz naquilo que não lhe compete,a antes rezar do que condenar algo sob pretextos errôneos e tendenciosos.
            O problema que fecha com cadeado da ignorância o diálogo interno é o imaturo cultivo de preconceito e a troca de ofensas entre conservadores e progressistas. Isso quebra a comunhão, semeia divisão ao separar equivocadamente a Igreja em alas partidárias de direita ou esquerda por influência de tendências teológicas que reduzem a Igreja a um tipo de “sindicato eclesiástico” ou “aristocracia clerical”, sendo que o único lado da Igreja, como reza Santo Agostinho, é o lado aberto de Cristo, de onde jorrou sangue e água, que simbolizam os sacramentos e a própria natureza da Igreja, nascida por, com e em Cristo. O modelo de Igreja, portanto é Jesus, pessoa e obra de Deus, Reino e Trindade Santa encarnados na história humana, do mais, conservadores e progressistas são contribuições teóricas e práticas para o agir missionário da catolicidade.   
                 As palavras do Apóstolo São Paulo acerca da unidade dos cristãos, na diversidade de tudo que se apresenta no interior do corpo místico de Cristo-Cabeça, ainda ressoam fortes na Igreja Católica contemporânea diante do desafio esperançoso de superação das inimizades intelectuais e pastorais entre progressistas e conservadores. É sempre seguro olhar com especial veneração o exemplo do Vigário de Cristo na terra, o qual tem a nobre missão de confirmar os irmãos na fé e zelar pela comunhão da Vinha do Senhor. Essa dúplice tarefa do papado torne-se semente de esperança no relacionamento entre conservadores e progressistas, abandonando tudo quanto gera confusão e abraçando com responsabilidade o espírito de fraternidade cristã em meio às diferenças.
           

A teologia como companheira da Igreja

            A teologia é um conjunto sistemático de estudos acerca da revelação, é uma ciência que estuda a fé e não a única detentora dos rumos futuros da Igreja. Não é função da teologia refundar sob qualquer pretexto aquilo que Cristo por sua vez fundou por todo sempre: a Igreja. Querer algo assim é recorrer ao teologismo tanto quanto a sociedade o fez e faz com o cientificismo. Teologia para teologar e não para teologizar aquilo que não compete ao conhecimento teológico e sim ao Magistério deferir e a espiritualidade manifestar e contemplar. Escolasticismo, tradicionalismo e libertarismo são concepções equivocadas do que é a escolástica, a tradição e a libertação.  Os “ismos”, venham de onde vier, são desequilíbrio. E desequilíbrio leva ao erro, ao conflito, jamais ao diálogo e a unidade.  
            Comunhão é a melhor resposta e iniciativa durante e depois do Ano da Fé, ao comemorar-se o jubileu de ouro do Vaticano II. A ambicionada unidade cristã que esse concílio almejou, seja o presente da Igreja atual a nosso Senhor Jesus Cristo, seu divino fundador e pedra angular. Seja conservador ou progressista, ambos são cristãos com a mesma dignidade em direitos e deveres, dentre eles o respeito e o amor cristãos.      
             

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