O Papa bom
A personalidade de João XXIII
Por Marcos Cassiano Dutra
Estamos na
primavera do Ano da Fé. Contemplando com gratidão e renovado entusiasmo
evangélico a herança do cinqüentenário Concílio Ecumênico Vaticano II, sem se
esquecer da importância do bondoso e sábio Papa João XXIII dentro de toda a
atmosfera espiritual e profética que envolveu o concílio do começo ao fim.
De
todos os concílios até hoje realizados, somente o Vaticano II tem o mérito de
estar intimamente ligado a pessoa de um papa. Os estudiosos de eclesiologia e
história da Igreja são unânimes ao afirmar que, para se entender o jubilar
concílio, é necessário estudar com atenção a vida e o episcopado de Ângelo
Roncalli, o Papa João XXIII. Sua
personalidade marcante, mesmo depois de seu falecimento, influenciou não só a
escolha de seu sucessor (Paulo VI), bem como as motivações conciliares em torno
os 16 documentos que formam o corpo teológico-pastoral do Vaticano II.
Eleito
para ser um “papa de transição”, João XXIII foi singular, não só na escolha do
nome, pois findou a era dos papas pio, como na forma diferente com que conduziu
a barca de Pedro e apresentou ao mundo de sua época a imagem do Vigário de
Cristo na terra. Pio XII, seu antecessor, foi um papa nobre, um verdadeiro
príncipe eclesiástico, que governou a Igreja com pulso firme diante da modernidade
e mística piedade diante da cristandade. João XXIII tornou-se simplesmente o
“papa bom”, o papa do povo, da simplicidade, da compaixão e da sabedoria que
nasce do Evangelho. Governou a Igreja com grande zelo e afeto pastoral,
tornou-se não só papa, mas pai de todos s cristãos e homens e mulheres de boa
vontade. Seu breve pontificado durou 5 anos – de 1958 a 1963 – deixando como
testamento sua última Encíclica intitulada “Pacem in Terris” (A paz na terra),
sobre diversas questões humanas, políticas, sociais e econômicas daqueles
tempos difíceis da guerra fria.
Em
sua primeira Encíclica Ad Petri Cathedram, João XXIII define a identidade da
Igreja ao expressar – “A Igreja, embora antiga desde a época dos Apóstolos,
está no mundo em perene juventude”. Ou seja, a Igreja é sempre antiga e sempre
nova, atual. Antiga no que se refere a fé, a revelação, a imutabilidade
dogmática e ao mistério do sagrado presente nos sacramentos. Nova no que tange
a sua ação pastoral no mundo, a sua catequese para com os fiéis, a vivência dos
sacramentos e a prática litúrgica. Nesse aspecto o Papa João XXIII já
indiretamente aponta para o “Aggiornamento” que o Vaticano II fará na vida da
Igreja. A tradição é uma fonte que se
renova, não a partir de modismos ou anátemas e sim a partir do Evangelho. Esse
é o retrato da Igreja de João XXIII.
João
XXIII enfrentou muita resistência ao seu estilo papal e ao Concílio Vaticano
II. A cúria romana não soube entender os apelos do bondoso papa diante dos
sinais dos tempos, e, internamente o prejudicava. Porém, com sua agonia no
leito de morte, alguns cardeais se converteram e reconheceram a urgência e
providência do concílio. Prestes a entrar na glória celeste, João XXIII
pronunciou essas palavras, que ficarão imortalizadas na história e no coração
dos cristãos – “Não tenham medo! O Senhor está presente! Um novo tempo
começou.”
Beato
Papa João XXIII, ora pro nobis.
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