Teologia da mulher
A importância religiosa do
feminino
Por Marcos Cassiano Dutra
A mulher é um
dos sinais viventes da presença de Deus no mundo, pois também ela participa do
mistério da criação junto com o homem - são imagens e semelhança de Deus -
assim nos recorda a narrativa poética do Livro do Gênesis, ao descrever a
unidade da humanidade (homem e mulher) para com o Criador, visto que ambos
nascem do mesmo sopro (ânimo) divino e pertencem a mesma fragilidade natural –
a terra, que significa a transitoriedade da vida terrena, que na graça criativa
de Deus, em seu sopro sagrado, desenvolve-se como vida humana.
A mulher na tradição bíblica e no humanismo
Partindo desse belíssimo poetismo bíblico vemos o valor o valor
humano-divino da mulher, não somente como companheira natural do homem na
procriação, mas como co-protagonista na realidade criada para honra e glória de
Deus.
Biológica e psicologicamente todo
ser humano do início ao fim da vida está ligado ao feminino. Na gestação por
meio da maternidade de uma mulher e no depois da gestação, no relacionamento
sexual ou afetivo com as demais mulheres dentro da vida social, pois o ser
humano é um ser de relações, isto é, de linguagem, de comunicação. A vida é uma
constante comunicação entre homens e mulheres, portanto viver é comunicar-se. Comunicar-se
é se relacionar, e, relacionar é trabalhar em conjunto. Logo, A
história é um trabalho conjunto (esforço mútuo) entre mulheres e homens.
A Sagrada Escritura oferece inúmeros
exemplos de mulheres no Antigo e Novo Testamentos. Ao lado dos Patriarcas
sempre há uma figura feminina matriarcando sem alarde o lar ou até mesmo
intercedendo em favor de seu povo, como Ester assim o fez diante do rei. Das
mulheres bíblicas, a tradição reconhece Maria de Nazaré como uma mulher de
singular importância na história da salvação, não só por seu excelso parentesco
divino com Jesus Cristo, ao se tornar pelo Espírito Santo Mãe do Filho de Deus
e sim também por sua presença feminina virtuosa junto ao Divino Mestre e a
Igreja primitiva desde o Pentecostes. Até mesmo em seu mistério pascal nosso
Senhor quis valorizar as mulheres ao anunciar sua ressurreição dentre os mortos
primeiramente a uma de suas discípulas – Maria Madalena, na manhã solene de seu
triunfo glorioso sobre o pecado e a morte, tornando uma mulher a porta-voz do
inefável aleluia pascal.
A mulher na história da Igreja
Durante o desenrolar da história da Igreja tal valor e significado da
mulher foi se perdendo, dando espaço ao machismo eclesiástico, que por vezes
identificava o feminino como manifestação diabólica tentadora aos homens de fé
e meras súditas da aristocracia clerical. Nessa mentalidade, somente Maria, a
Virgem Santíssima, tinha valor e destaque, do mais, todas as mulheres eram
ignoradas religiosa e socialmente.
Todavia a dinâmica da história
suscita vozes sábias que rompem com tal pensamento patriarcalista, machista e
clericalista. É o caso do saudoso Papa João Paulo I, que em certa ocasião,
durante uma de suas locuções dominicais em 10 de setembro de 1978, exortou os
fiéis a compreenderem que o amor de Deus é a manifestação de sua maternidade,
chamando-o de Pai que a todos ama com amor de mãe, por isso é mãe de toda
humanidade – “Somos destinatários, por parte de Deus, de um amor sem fim.
Sabemos que Ele sempre tem o seu amoroso olhar pousado sobre nós. Mesmo quando
nos parece que vivemos a noite mais escura, Ele é pai; mais ainda, é mãe!”
A evolução teológica sobre o
feminino que João Paulo I fez em poucas palavras deve continuar a ressoar no
interior da Igreja, a fim de não mais haverem mulheres meramente utilizadas eclesialmente
e sim mulheres cristãs ativas dentro e fora da Igreja, em espírito de unidade e
não de servidão, haja vista que a Igreja é uma hierarquia de dons e carismas
que se relacionam em
comunhão. O preconceito com relação às mulheres no
catolicismo ainda é uma realidade. Se fala tanto sobre elas com palavras
bonitas em alguns documentos, mas na prática elas, que são a maioria dos fiéis
no Brasil, ficam em segundo plano.
A mulher hoje e no futuro
Hoje a mulher vem conquistando seu espaço na esfera da política e no
mundo do trabalho, entretanto, no ambiente religioso católico ela ainda é
reconhecida como ser submisso dos homens do sagrado. Sua vocação específica
fica fadada a ser subalterna e não colaboradora do sacerdócio ministerial. O
mesmo amor e respeito da Igreja pela feminilidade de Maria Santíssima amplie-se
para com as mulheres católicas, nas mais distintas etapas da vida onde sua
força, vitalidade e beleza femininas se manifestam, como elemento eclesial de
grande valia missionária. Em Maria todas estão todas as mulheres da humanidade,
em suas alegrias, tristezas, conquistas e problemáticas.
Redescobrir a importância da mulher na Igreja é o desafio atual.
Revalorizar a mulher menina, jovem, esposa, mãe, religiosa, profissional e ser
humano são as palavras-chave dentro da teologia da mulher, que busca de maneira
humana e cristã estudar a importância religiosa do feminino como via de
superação do machismo dentro da religião.
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