Hermenêutica do corpo IV
A corporeidade nas relações
humanas
Por Marcos Cassiano Dutra
Introdução
As relações humanas são importantes
para o desenvolvimento do homem, dado que ele é um ser social. Aristóteles
acreditava que o homem se realiza como animal político e racional na polis, ou
seja, na cidade, na sociedade. E de certa forma o filósofo está certo em seu
pensamento político, e por que não humanístico, quando ele afirma que a
política é uma forma de realização da essência, da existência humana. Política
não somente partidária ou institucional, mas sim a organização social do
cotidiano. É um equívoco grande reduzir a política a esfera dos poderes
estabelecidos. Relacionar-se também é fazer política, é fazer organização de
tempo, espaço e sentimento. Portanto, o conceito aristotélico faz eco na
reflexão sobre a corporeidade nas relações humanas.
Homem e mulher, membros do mesmo
corpo social (o mundo), ao longo da história se interagem na partilha do
conhecimento, dos problemas, dos projetos, conquistas, decepções, alegrias e
tristezas, desejos e prazeres. O ser humano, nas duas manifestações naturais de
seus específicos gêneros, colabora naquilo que se chama integração social. Tal
integração se dá por meio dos corpos que se relacionam socialmente nas mais
distintas formas de relacionamento: amizade, casal, família, trabalho, estudo,
etc...
A corporeidade nas relações humanas
O desafio da corporeidade nas
relações humanas são as problemáticas da pocessão e da inveja, sentimentos
oriundos de mentalidades desequilibradas tanto do lado masculino como feminino.
A pocessão produz o sentimento de prisão e a inveja à competitividade e o
individualismo, nocivos para a boa saúde das relações humanas.
O machismo e o feminismo também
participam dessa problemática relacional humana, quando são manifestações
sociais de ideologias extremadas que supervalorizam um gênero acima do outro,
colocado a mercê daquele que domina ou na busca pelo libertarismo da dominação.
Isso gera conflitos entre os gêneros e prejudica a integração social, bem como
a maturação da existência humana, enxergada exclusivamente por um ângulo, quer
seja ele masculino ou feminino.
Há também o fato da traição, seja
ela conjugal ou fraternal (amizade). Traição é a expressão da falsidade, da
mentira, atitudes típicas da dificuldade em manter a responsabilidade na
relação esponsal ou fraterna, bem como do exercício do caráter, da identidade
humana. Tudo isso contribui para a falência progressiva das relações
humanas.
Os efeitos e suas causas
O índice de assassinatos entre
pessoas que mantinham um tipo de relacionamento conjugal, seja namoro ou
casamento, é o efeito da causa ideológica machista, bem como a violência
doméstica que vitima mulheres silenciadas pelas agressões físicas ou simbólicas
nos lares. A bandeira do aborto, defendido por movimentos feministas, é o
retrato da guerra de sexos de uma parcela de mulheres cansadas de serem apenas
vistas como meros instrumentos de prazer, servas dos maridos e simples
consumidoras do mercado de beleza.
Não basta leis em defesa da mulher
agredida ou que tornam descriminalizante a prática abortiva, para ser sanar o
conflito entre gêneros que afeta profundamente as relações humanas. A mudança
de mentalidade vem por meio da mudança de paradigma, não fundamentado
juridicamente e sim existencialmente na capacidade de se romper com o ciclo vicioso
da disputa e desentendimento entre gêneros.
No
âmbito das amizades se carece de maior companheirismo e respeito mútuo à
relação de fraternidade adquirida. Amizade é convivência que gera maturidade e
não barganha de afetos, solução de carências e especulação de interesses
materiais.
Conclusão
As leis não têm eficácia alguma se
não há uma prática concreta, e no âmbito das relações humanas, é lamentável ter
que se legislar sobre algo que está ao alcance natural do homem e da mulher,
ambos dotados de liberdade e consciência para pensar sobre seu agir um para com
o outro, dado que ambos se completam na diversidade biológica que os dotam de
capacidades procriativas e sociais, dado que, como ressalta a socióloga Heleieth Iara Bongiovani Saffioti - “A
construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres
humanos só se constroem como tal em relação com os outros.”
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