quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A vida humana em relações


Hermenêutica do corpo IV
A corporeidade nas relações humanas
Por Marcos Cassiano Dutra

Introdução
            As relações humanas são importantes para o desenvolvimento do homem, dado que ele é um ser social. Aristóteles acreditava que o homem se realiza como animal político e racional na polis, ou seja, na cidade, na sociedade. E de certa forma o filósofo está certo em seu pensamento político, e por que não humanístico, quando ele afirma que a política é uma forma de realização da essência, da existência humana. Política não somente partidária ou institucional, mas sim a organização social do cotidiano. É um equívoco grande reduzir a política a esfera dos poderes estabelecidos. Relacionar-se também é fazer política, é fazer organização de tempo, espaço e sentimento. Portanto, o conceito aristotélico faz eco na reflexão sobre a corporeidade nas relações humanas.
            Homem e mulher, membros do mesmo corpo social (o mundo), ao longo da história se interagem na partilha do conhecimento, dos problemas, dos projetos, conquistas, decepções, alegrias e tristezas, desejos e prazeres. O ser humano, nas duas manifestações naturais de seus específicos gêneros, colabora naquilo que se chama integração social. Tal integração se dá por meio dos corpos que se relacionam socialmente nas mais distintas formas de relacionamento: amizade, casal, família, trabalho, estudo, etc...

A corporeidade nas relações humanas
            O desafio da corporeidade nas relações humanas são as problemáticas da pocessão e da inveja, sentimentos oriundos de mentalidades desequilibradas tanto do lado masculino como feminino. A pocessão produz o sentimento de prisão e a inveja à competitividade e o individualismo, nocivos para a boa saúde das relações humanas.
            O machismo e o feminismo também participam dessa problemática relacional humana, quando são manifestações sociais de ideologias extremadas que supervalorizam um gênero acima do outro, colocado a mercê daquele que domina ou na busca pelo libertarismo da dominação. Isso gera conflitos entre os gêneros e prejudica a integração social, bem como a maturação da existência humana, enxergada exclusivamente por um ângulo, quer seja ele masculino ou feminino.
            Há também o fato da traição, seja ela conjugal ou fraternal (amizade). Traição é a expressão da falsidade, da mentira, atitudes típicas da dificuldade em manter a responsabilidade na relação esponsal ou fraterna, bem como do exercício do caráter, da identidade humana. Tudo isso contribui para a falência progressiva das relações humanas.      

Os efeitos e suas causas
            O índice de assassinatos entre pessoas que mantinham um tipo de relacionamento conjugal, seja namoro ou casamento, é o efeito da causa ideológica machista, bem como a violência doméstica que vitima mulheres silenciadas pelas agressões físicas ou simbólicas nos lares. A bandeira do aborto, defendido por movimentos feministas, é o retrato da guerra de sexos de uma parcela de mulheres cansadas de serem apenas vistas como meros instrumentos de prazer, servas dos maridos e simples consumidoras do mercado de beleza.
            Não basta leis em defesa da mulher agredida ou que tornam descriminalizante a prática abortiva, para ser sanar o conflito entre gêneros que afeta profundamente as relações humanas. A mudança de mentalidade vem por meio da mudança de paradigma, não fundamentado juridicamente e sim existencialmente na capacidade de se romper com o ciclo vicioso da disputa e desentendimento entre gêneros.
            No âmbito das amizades se carece de maior companheirismo e respeito mútuo à relação de fraternidade adquirida. Amizade é convivência que gera maturidade e não barganha de afetos, solução de carências e especulação de interesses materiais. 

Conclusão
            As leis não têm eficácia alguma se não há uma prática concreta, e no âmbito das relações humanas, é lamentável ter que se legislar sobre algo que está ao alcance natural do homem e da mulher, ambos dotados de liberdade e consciência para pensar sobre seu agir um para com o outro, dado que ambos se completam na diversidade biológica que os dotam de capacidades procriativas e sociais, dado que, como ressalta a socióloga Heleieth Iara Bongiovani Saffioti - “A construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros.” 
 

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