quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A vida humana em relações

Hermenêutica do corpo III
                                Corporeidade e ética, o desafio da humanidade               
Por Marcos Cassiano Dutra

            Um dos grandes desafios do Século XXI com relação ao ser humano é sem sombra de dúvidas, não somente o desenvolvimento sustentável, mas a relação entre corporeidade e ética. As pesquisas científicas em torno da medicina necessitam de parâmetros éticos, dado que a saga pela cura de doenças incuráveis levam cientistas médicos a optarem por caminhos não-éticos e desumanos, como solução para certas enfermidades no que diz respeito a pesquisas e experiências com embriões humanos ou pessoas físicas.

            A ética médica não se reduz ao consultório, hospitais e postos de saúde, ela amplia-se para os laboratórios, bem como para a indústria farmacêutica. A Organização Mundial de Saúde necessita de melhores mecanismos que salvaguardem o acesso humanitário do homem e da mulher à saúde no quesito medicamentos e tratamentos. É vergonhoso ter notícias de pessoas que mendigam consultas médicas, cirurgias, medicamentos e tratamentos nos quatro cantos do globo terrestre.

            Em maior ou menor escala, a desatenção, ou melhor, o descaso político para com a saúde penaliza de morte os mais pobres, os quais se sentem impotentes diante das enfermidades, por não terem garantido seus direitos humanos à saúde, que é um bem natural, universal e público. 

            Os planos de saúde que se multiplicam, tarifam o cidadão e não garantem o compromisso ético com a saúde. É rotineiro ouvir pessoas que possuem planos de saúde privados e, ao necessitarem de alguma intervenção cirúrgica, não obeterem o amparo médico, por serem certas cirurgias “não cobertas” pelas mensalidades altíssimas que pagam.  

            As pessoas enfermas merecem tratamento digno e humanizado, bem como todos que se encontram saudáveis: as gestantes, as crianças, especialmente os nascituros  que em potência são humanos e não cobaias das especulações médicas. Corporeidade e ética não são dois conceitos separados, mas unidos e envoltos pela esfera da moral e da vida. É inconcebível pensar em saúde como uma bolsa de valores, onde lucra quem vende mais remédio a preços caros em nome da patente opressora do capital médico dos laboratórios.

            A cura de doenças incuráveis não se alcança com a tese do mal menor, e sim na investigação científica e médica, guiada pela ética, para que não haja a legitimação da morte de inocentes em vista do prestígio científico de terceiros sob o falacioso pretexto de "bem médico à humanidade". A inteligência humana não é instrumento de sangue e sim de dignidade no que tange a cura e aos tratamentos médicos.

            A bioética não é mera teoria, é uma urgência contemporânea. Até quando a saúde será palco da mais triste tragédia – a falência da humanidade? O ano só será novo, se nova mentalidade humanista existir nos gestos, palavras e ações dos responsáveis por organizar e efetivar a saúde, quer pública ou privada.

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