Hermenêutica do corpo III
Corporeidade e
ética, o desafio da humanidade
Por Marcos Cassiano Dutra
Um
dos grandes desafios do Século XXI com relação ao ser humano é sem sombra de
dúvidas, não somente o desenvolvimento sustentável, mas a relação entre corporeidade
e ética. As pesquisas científicas em torno da medicina necessitam de parâmetros
éticos, dado que a saga pela cura de doenças incuráveis levam cientistas
médicos a optarem por caminhos não-éticos e desumanos, como solução para certas
enfermidades no que diz respeito a pesquisas e experiências com embriões
humanos ou pessoas físicas.
A
ética médica não se reduz ao consultório, hospitais e postos de saúde, ela
amplia-se para os laboratórios, bem como para a indústria farmacêutica. A
Organização Mundial de Saúde necessita de melhores mecanismos que salvaguardem
o acesso humanitário do homem e da mulher à saúde no quesito medicamentos e
tratamentos. É vergonhoso ter notícias de pessoas que mendigam consultas
médicas, cirurgias, medicamentos e tratamentos nos quatro cantos do globo
terrestre.
Em
maior ou menor escala, a desatenção, ou melhor, o descaso político para com a
saúde penaliza de morte os mais pobres, os quais se sentem impotentes diante
das enfermidades, por não terem garantido seus direitos humanos à saúde, que é
um bem natural, universal e público.
Os
planos de saúde que se multiplicam, tarifam o cidadão e não garantem o
compromisso ético com a saúde. É rotineiro ouvir pessoas que possuem planos de
saúde privados e, ao necessitarem de alguma intervenção cirúrgica, não obeterem
o amparo médico, por serem certas cirurgias “não cobertas” pelas mensalidades
altíssimas que pagam.
As
pessoas enfermas merecem tratamento digno e humanizado, bem como todos que se
encontram saudáveis: as gestantes, as crianças, especialmente os nascituros que em potência são humanos e não cobaias das
especulações médicas. Corporeidade e ética não são dois conceitos separados,
mas unidos e envoltos pela esfera da moral e da vida. É inconcebível pensar em
saúde como uma bolsa de valores, onde lucra quem vende mais remédio a preços
caros em nome da patente opressora do capital médico dos laboratórios.
A
cura de doenças incuráveis não se alcança com a tese do mal menor, e sim na
investigação científica e médica, guiada pela ética, para que não haja a
legitimação da morte de inocentes em vista do prestígio científico de terceiros
sob o falacioso pretexto de "bem médico à humanidade". A inteligência
humana não é instrumento de sangue e sim de dignidade no que tange a cura e aos
tratamentos médicos.
A
bioética não é mera teoria, é uma urgência contemporânea. Até quando a saúde
será palco da mais triste tragédia – a falência da humanidade? O ano só será
novo, se nova mentalidade humanista existir nos gestos, palavras e ações dos
responsáveis por organizar e efetivar a saúde, quer pública ou privada.
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